SP: Exército cassa registro de CAC de coronel indiciado por explosão de arsenal e posse ilegal de armas

 

Documento do Exército obtido pelo g1 aponta que o militar cometeu três faltas graves e, com isso, recebeu a penalidade de cassação do registro
João Gabriel Alvarenga, g1 Campinas e Região
O coronel aposentado Virgílio Parra Dias teve o registro de CAC (caçador, atirador e colecionador), que o permitia ter armas de fogo, cassado pelo Exército Brasileiro. O militar foi indiciado em outubro pela Polícia Civil por explosão, incêndio e posse irregular de 42 armas de fogo de uso restrito.

O indiciamento se referia à explosão seguida de incêndio que ocorreu no apartamento do coronel, em Campinas, no dia 24 de fevereiro deste ano, onde ele armazenava um arsenal de armas, pólvora e granadas. Ninguém ficou ferido, mas 44 pessoas tiveram que ser retiradas do edifício, parte delas por meio de rapel.

A decisão de cassar o registro foi tomada pelo comando da 2ª Região Militar, em São Paulo. No ofício, o qual o g1 teve acesso nesta quarta-feira (4), o Exército aponta que o militar cometeu três faltas graves e, com isso, recebeu a penalidade de cassação. As faltas que constam no documento são as seguintes:

  • Possuir produto controlado pelo Exército (armas) sem autorização;
  • Recarregar munições sem autorização;
  • Comprar produtor controlado pelo Exército (armas) sem autorização;
Apartamento com munições que pegou fogo em Campinas e armas de coronel — Foto: Defesa Civil e Arquivo Pessoal

Com a punição, o coronel terá 90 dias para transferir ou vender a parte do arsenal que estava legalizada para outra pessoa. O g1 apurou que a defesa do militar já acionou a Polícia Civil solicitando o armamento apreendido à época da explosão.

O g1 procurou o Exército para ter mais detalhes sobre a cassação, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. À época da explosão, a Força havia informado que instaurou processo administrativo para apurar as condições do arsenal do coronel. Agora, após a cassação do registro, o procedimento foi finalizado.

O g1 entrou em contato com a defesa do coronel, mas não houve retorno.

O indiciamento
O coronel Parra Dias foi indiciado no dia 24 de outubro pela Polícia Civil de Campinas (SP). Segundo a investigação, o incêndio no apartamento dele começou após a explosão de um artefato que estava no cofre, localizado em um cômodo ao lado da cozinha. No local, o militar armazenava grande quantidade de pólvora e um arsenal de armas, incluindo pistolas, revólveres, espingardas e fuzis.

Parra Dias tinha licença de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador) para manter 86 armas. A Polícia Civil apurou, no entanto, que ele tinha 42 armas a mais armazenadas, por isso, o crime de posse de arma de uso restrito foi incluído no indiciamento.

“Ele foi indiciado pelos crimes de incêndio, explosão e pelo crime previsto no Estatuto do Desarmamento, porque nós apuramos no decorrer da investigação que ele tinha 42 armas a mais no apartamento dele não constantes do acervo do sistema do Exército”, afirmou o delegado José Mecherino.

Depoimento
O coronel prestou depoimento no 1º Distrito Policial de Campinas. Na saída, o advogado de defesa do militar, Anderson Souza Daura, afirmou que o militar esclareceu ao delegado a origem das armas e, sobre o excedente, afirmou que o coronel acreditava que não era crime manter exemplares sem registro.

“Essas armas (que não tinham registro) ele tentou registrar no Exército em 2008, 2009 e tempos depois ele recebeu a notícia de que não foi possível registrar todas. Ele ficou com as armas guardas em casa acreditando que não era crime, acreditando que era apenas uma irregularidade administrativa e ele estava esperando uma nova anistia”.

Coronel Parra Dias (usando boina) deixa 1º DP de Campinas após depoimento — Foto: Clausio Tavoloni/EPTV

Sobre a explosão no apartamento, a defesa afirmou que uma perícia contratada constatou que foi causada por ignição espontânea, afastando qualquer ação humana dolosa ou negligente, e que o coronel, na verdade, também foi vítima do incidente.

“Estava tudo nos conformes, não foi constatado nenhuma irregularidade, nem pelo laudo do IC, nem em nenhum outro documento, que aponte que ele guardava as munições, as pólvoras, etc, de forma irregular”.

Relembre o caso
Um laudo do Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo apontou ao menos duas explosões, vestígios de pólvora e disparo de munições no apartamento do coronel Parra Dias.

No laudo, o perito confirma que a explosão de um artefato dentro do cômodo-cofre onde ficava o armamento do militar iniciou o incêndio que, segundo o documento, chegou a 327°C de temperatura.

O documento lista os danos causados no apartamento do coronel, no apartamento vizinho e nas áreas comuns do prédio e afirma que as explosões, o incêndio e o disparo de munições colocaram em risco a vida dos moradores.

“A onda de choque provocada e os fragmentos de alvenaria arremessados pelas explosões, além dos disparos das munições provocados pelo incêndio acarretariam perigo para a integridade física e para a vida de quem se encontrasse durante o período que ocorreram as explosões e o incêndio, nos corredores do 1º pavimento e na escada entre o térreo e o 1º pavimento”, diz laudo.

A perícia, no entanto, afirma que não é possível determinar se a explosão foi fruto de ação criminosa ou de acidente.

Aposentado como general
Virgílio Parra Dias, de 69 anos, é coronel aposentado e instrutor de tiro. Segundo o Exército, o militar possui certificado de registro válido como atirador, caçador e colecionador (CAC) e tinha licença para manter 86 armas no imóvel.
g1

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