Peça foi recebida como uma desforra entre os militares, que se sentiram representados ao expor a diferença da rotina com a dos civis
Marcela Mattos
Um vídeo de um minuto e dezesseis segundos divulgado pela Marinha no último dia 1º quase desencadeou uma nova crise entre o governo e as Forças Armadas, forçou uma explicação do comandante Marcos Olsen e trouxe até uma ameaça do Planalto de fechar as portas para as negociações em torno das mudanças do regime de Previdência dos militares.
Apesar disso, o esquete foi recebido sob aplausos entre os integrantes da força. A gravação traz uma sequência de imagens que mostram um paralelo entre a rotina dos militares e dos civis. Enquanto marinheiros aparecem enfrentando um mar revolto, jovens estão dançando uma balada. Em meio a uma catástrofe, com militares atuando nas inundações, famílias se reúnem para fazer festas. A peça é encerrada com uma frase carregada de ironia: “Privilégios? Vem para a Marinha”.
O vídeo, divulgado sob o pretexto de comemorar o Dia do Marinheiro, acabou sendo recebido pelo governo como uma provocação, já que veio à tona em meio às tratativas para evitar um corte nos benefícios dos militares. Conforme mostrou reportagem de VEJA desta edição, o presidente Lula ficou irritado com a peça e indicou que não haveria mais espaço para negociação com os fardados – depois, recuou da reação.
A Marinha tem em sua sede uma ampla área de comunicação, com salas de rádio, de gravação e de produção de conteúdo. É lá que todas as peças publicitárias são feitas. Também são os próprios militares da força que protagonizam os esquetes, dispensando a contratação de atores. Assim, fica claro que o vídeo foi meticulosamente desenhado dentro da própria instituição e obteve o aval de sua cúpula.
O comandante Olsen explicou ao ministro da Defesa, José Múcio, que o objetivo jamais foi criar confusão ou ofender alguém, mas sim exaltar o trabalho dos militares de salvaguarda da sociedade. Discreto e pouco afeito a embates públicos, o chefe da Marinha se tornou o mais eloquente comandante a erguer a bandeira por melhores condições orçamentárias às Forças Armadas.
Apesar do tumulto provocado, internamente o vídeo foi celebrado. Um oficial de alta patente disse a VEJA que os militares da força se sentiram representados com o conteúdo do vídeo, visto como uma forma de “falar o que ninguém pode dizer” – militares têm, por dever de ofício, de fugir dos debates políticos e são impedidos de fazer greve.
Além disso, a peça foi vista como uma maneira de abrir um debate público sobre a carreira nas Forças Armadas. Entre os fardados, o que se diz é que não se luta por igualdade, já que eles exercem funções distintas das demais da sociedade, e que qualquer mudança em benefícios pode diminuir ainda mais a atratividade para ingressar na força armada.
Em nota, a Marinha informou que “a intenção do vídeo é destacar e reconhecer o constante sacrifício de marinheiros e fuzileiros navais, que trabalham incansavelmente para a Defesa da Pátria e o desenvolvimento nacional”.
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