Moraes critica ‘inércia’ do Exército ao permitir acampamento golpista em QG

 

Ministro falou no STF em evento sobre o 8 de janeiro; mais cedo, o ministro da Defesa disse esperar fim de inquérito para eliminar suspeita sobre inocentes

Brasília
Em evento promovido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em memória dos ataques de 8 de janeiro de 2023, o ministro Alexandre de Moraes falou em tom crítico sobre a omissão do Exército que permitiu a instalação de acampamentos golpistas diante de seus quartéis, há dois anos.

“Houve inércia, houve omissão de se deixar acampamentos serem montados à frente dos quartéis pedindo intervenção, pedindo golpe. Isso é crime. E hoje ninguém mais pode dizer que não sabe disso, são crimes de incitação, de organização criminosa por estarem à frente dos quartéis”, disse.

Foi do acampamento montado em frente ao QG do Exército em Brasília que saíram os bolsonaristas que depredaram os prédios dos três Poderes há dois anos.

O ministro Alexandre de Moraes, ao discursar durante ato nesta quarta (8), no STF – Gabriela Biló/Folhapress
De acordo com Moraes, não houve manifestação democrática naqueles atos. Isso porque os próprios envolvidos relataram que a ordem era aguardar as Forças Armadas serem convocadas para perpetrar um golpe de Estado.

O ministro disse que, após discursos e ataques golpistas ao longo de 2022, imaginou que o país teria superado o golpismo com a posse de Lula (PT) m 1º de janeiro de 2023. O que se mostrou um equívoco.

“Todos nós achávamos que o golpismo tinha se dado por vencido. Nós erramos, porque não estava vencido e não está vencido. Não estava vencido no dia 8 de janeiro, isso foi demonstrado. Já há ações penais contra a cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal, contra altas autoridades civis.”

O ministro chamou também a PRF (Polícia Rodoviária Federal) de omissa ao citar o episódio no qual, no dia do segundo turno do pleito de 2022, ainda sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), a corporação fez blitze em redutos de eleitores de Lula. Ex-diretor-geral do órgão, Silvinei Vasques ficou preso preventivamente por quase um ano por suposta tentativa de interferir no pleito.

No discurso, Moraes afirmou ainda ser importante reafirmar a necessidade de se equacionar a participação militar na política.

Mais cedo, no Palácio do Planalto, o ministro da Defesa, José Múcio, disse que espera o fim das apurações da Polícia Federal sobre a suposta tentativa de golpe em 2022 para punir culpados e, por outro lado, eliminar suspeitas sobre inocentes.

A declaração foi dada após a cerimônia que marcou os dois anos dos ataques golpistas às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Todo o evento foi marcado por manifestações como gritos de “sem anistia”.

“A coisa está a mais pacífica possível. É o ministério mais tranquilo que você pode imaginar. Nosso espírito é colaborar. A grande festa nossa é quando esse inquérito terminar e os culpados forem punidos, quando essa nuvem de suspeição sair de cima dos inocentes”, afirmou a jornalistas.

No final do ano passado, a PF indiciou o ex-presidente Bolsonaro e outras 36 pessoas no caso. Dentre esses, haviam generais, como o ex-ministro Walter Braga Netto. O fato gerou mal-estar entre militares, que buscam se afastar das apurações.

Em dezembro passado, a PF prendeu Braga Netto sob suspeita de interferir em investigação de trama golpista. O general foi o primeiro quatro estrelas a ser preso por ordem do Judiciário.

Nesta quarta, Múcio estava acompanhado no evento dos comandantes das três Forças —Marcos Olsen (Marinha), Tomás Paiva (Exército) Marcelo Damasceno (Aeronáutica). A presença deles foi nominalmente agradecida pelo pelo presidente Lula em seu discurso.

“Eu quero agradecer ao Múcio que trouxe os três comandantes das Forças Armadas para mostrar a esse país que é possível a gente construir as Forças Armadas com a proposta de defender a soberania nacional”, afirmou.

No ano passado, Lula falou em “militares legalistas”, o que gerou mal-estar na caserna. Neste ano, se limitou ao agradecimento da presença. Antes do evento, havia receio de que discursos inflamados acirrem os ânimos no meio militar, já abalado com a prisão de oficiais de alta patente.

Na reunião em que convidou seus ministros para o ato, Lula falou da importância da defesa da democracia e mencionou a prisão de Braga Netto. O presidente disse ter ficado feliz, por representar ação contra impunidade.

Apesar disso, militares do governo avaliam que o mal-estar está precificado e o comandante do Exército, Tomás Paiva, deve sofrer críticas de integrantes mais radicais da reserva. Ainda assim, o momento de maior tensão foi o das prisões dos generais no ano passado e o relatório da PF.
FOLHA – Edição: Montedo.com

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