Proposta prevê na 1ª etapa a libertação de 33 reféns israelenses e cerca de mil palestinos
‘Acreditamos que estamos nos estágios finais, mas até que, obviamente, haja um anúncio, não há anúncio’, diz porta-voz da Chancelaria do Catar, que é um dos mediadores
Doha – O grupo terrorista Hamas afirmou nesta terça-feira que um acordo para libertação de reféns de Israel e o fim dos combates na Faixa de Gaza estava em seus “estágios finais”, na primeira vez em que fez uma declaração desse tipo. Mohammed Sinwar, o líder do Hamas en Gaza, onde o conflito transcorre há 15 meses, concordou em princípio com os termos do acordo durante a madrugada, disseram autoridades árabes ouvidas pelo jornal americano Wall Street Journal. Por sua vez, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou que um acordo “é iminente” e está “mais perto do que nunca antes” de ser fechado.
— Hoje estamos mais perto do que em qualquer momento do passado para um acordo — corroborou Majed Al-Ansari, o porta-voz do Ministério de Relações Exterior do Catar, país que abriga as rodadas de negociação e é mediador juntamente com Egito, Turquia e Estados Unidos. — Acreditamos que estamos nos estágios finais, mas até que, obviamente, haja um anúncio, não há anúncio.
Negociadores — incluindo Steve Witkoff, enviado designado pelo presidente eleito Donald Trump para o Oriente Médio, juntamente com autoridades dos EUA, Israel e países árabes — se reuniram ao meio-dia (6h em Brasília) em Doha, no Catar, para finalizar o esboço do pacto. Os negociadores de Israel e do Hamas estiveram no mesmo local, mas não na mesma sala, disseram as autoridades árabes, acrescentando que as mensagens foram trocadas através dos mediadores.
As partes concordaram com os pontos mais importantes do acordo, mas ainda trabalham em alguns aspectos, disseram autoridades árabes e israelenses. Um dos temas em discórdia é a zona-tampão que Israel exige manter nas fronteiras norte e leste de Gaza: fontes indicam que o Hamas quer que a área volte ao tamanho anterior ao início da guerra, de 300 a 500 metros a partir da fronteira, mas Israel insiste em cerca de dois quilômetros — a largura média da Faixa de Gaza é dez quilômetros.
As negociações podem fracassar, como aconteceu antes de chegar à linha de chegada em rodadas anteriores de negociações, alertaram ambos os lados. Qualquer acordo ainda terá de ser aprovado pelo Gabinete de segurança de Israel e por todo o governo.
A guerra em Gaza entre Israel e Hamas eclodiu após o ataque lançado por radicais islâmicos liderados pelo grupo no sul israelense em 7 de outubro de 2023, que deixou quase 1,2 mil mortos, com 251 pessoas sendo feitas reféns. Deste total, 157 foram soltas em uma trégua em novembro de 2023 ou resgatadas em operações militares; das 94 remanescentes, acredita-se que 60 ainda estejam vivas. Desde o início do conflito, 46.645 palestinos foram mortos, a maioria mulheres, menores e idosos, segundo o Ministério de Saúde de Gaza, território controlado pelo Hamas desde 2007.
Termos da negociação
A primeira fase de um acordo de trégua em Gaza prevê uma troca de 33 reféns israelenses por um número ainda não definido de prisioneiros palestinos mantidos em prisões de Israel, disseram fontes próximas às negociações nesta terça-feira. Os reféns incluiriam mulheres, crianças, pessoas com ferimentos graves e com mais de 50 anos, segundo texto visto pelo The Wall Street Journal.
Os hospitais israelenses se preparam para receber os reféns, muitos dos quais devem estar em más condições devido às condições extenuantes, incluindo falta de alimentos e higiene, maus-tratos por parte dos captores e a tensão constante do risco de ataques aéreos israelenses. A libertação dos reféns deverá se estender por pelo menos várias semanas, disseram os mediadores.
Israel ainda não sabe quantos dos 33 reféns previstos para serem devolvidos na primeira fase estão mortos, mas acredita que a maioria ainda esteja viva, disse uma autoridade israelense. Por causa disso, o país ainda não pode dizer quantos prisioneiros palestinos serão libertados, uma vez que o Hamas pede que seja solto um número maior em troca de reféns vivos do que mortos, acrescentou a fonte. Algumas fontes falam que o número vai de algumas centenas até mil.
Depois de libertados, os prisioneiros palestinos condenados por assassinato não poderão viver na Cisjordânia, ocupada por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, disse a autoridade israelense. O grupo concordou que os palestinos libertados de longas penas de prisão deixariam os territórios palestinos para viver no exílio no estrangeiro com suas famílias, mas os arranjos de segurança para a expulsão dessas pessoas ainda estão sob negociação.
O Hamas também aceitou garantias verbais de EUA, Catar, Egito e Turquia de que Israel continuaria as negociações para um cessar-fogo permanente após o término da primeira fase do acordo, disseram mediadores árabes. Em sua fala no Atlantic Council, o secretário de Estado Blinken apresentou “os elementos principais” de um plano para o pós-guerra em Gaza, mas a poucos dias da posse de Trump, não há garantias de que o novo presidente o levará adiante. Segundo Blinken, o controle do enclave no imediato pós-guerra deveria ficar nas mãos da Autoridade Nacional Palestina (ANP) —que governa a Cisjordânia e é rival do Hamas— com apoio de parceiros internacionais para ajudar a estabelecer uma administração nos setores-chave de abastecimento de água e energia, saúde, finanças, educação e coordenação civil com Israel. A supervisão dessa administração ficaria por conta de um funcionário da ONU. O secretário de Estado também falou sobre a criação de uma missão interina de segurança formada por integrantes de nações parceiras e palestinos que passem por um escrutínio.
— A comunidade internacional forneceria financiamento, apoio técnico e supervisão — disse ele.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, lançou nos últimos dias grande parte das bases políticas necessárias para avançar com um acordo, incluindo reuniões com os ministros de extrema direita Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, que se opõem publicamente ao fim dos combates, defendem a recolonização de Gaza pelos judeus e podem derrubar seu governo se retirarem apoio no Parlamento.
Embora muitos na direita israelense se oponham ao acordo, um protesto em Jerusalém na segunda-feira atraiu apenas centenas de pessoas. Netanyahu reforçou a sua coalizão governamental, deixando-o numa posição politicamente mais estável do que em pontos anteriores das conversas, que se arrastam já há um ano.
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