Soldados norte-coreanos na Ucrânia foram orientados a cometer suicîdiØ em caso de captura

 

Norte-coreanos foram designados para cavar trincheiras e dar suporte logístico às tropas russas, porém acabaram enviados para o front; muitos não receberam equipamento nem treinamento adequado para o conflito, atuando, na prática, como isca para atrair forças ucranianas

Marcelo Montanini

Cárcere onde estão os soldados norte-coreanos capturados pelo Exército ucraniano

Cárcere onde estão os soldados norte-coreanos capturados pelo Exército ucraniano ( Divulgação/X/ Volodymyr Zelensky (@ZelenskyyUa) 12.01.2025)

Volodymyr Zelensky afirmou no domingo (12) estar disposto a trocar prisioneiros norte-coreanos pelos ucranianos sob domínio russo. A guerra entre Rússia e Ucrânia vai completar três anos em 24 de fevereiro.

A proposta de Zelensky ocorreu um dia depois de o Exército da Ucrânia capturar dois soldados da Coreia do Norte na região russa de Kursk, território parcialmente ocupado por forças ucranianas desde agosto de 2024. Um soldado havia sido capturado em dezembro, mas morreu em decorrência dos ferimentos.

Neste texto, o Nexo explica a participação dos norte-coreanos no front e resume a relação entre a Rússia e o país asiático.

Os norte-coreanos no front

Há entre 10 mil e 12 mil soldados norte-coreanos lutando do lado russo na guerra contra a Ucrânia desde outubro de 2024, segundo o Departamento de Defesa americano. Eles estão concentrados, sobretudo na região de Kursk.

Os soldados norte-coreanos são estratégicos para Moscou tentar conter o avanço ucraniano nesta região, liberando o efetivo russo para o combate em outras áreas. Além disso, o país liderado por Kim Jong-un envia armamentos para a Rússia, como munições e mísseis balísticos.Ø

Os soldados norte-coreanos foram inicialmente designados para cavar trincheiras e dar suporte logístico às tropas russas, porém acabaram enviados para o front.

Muitos deles não receberam equipamento nem treinamento adequado para o conflito, atuando, na prática, como isca para atrair forças ucranianas. Segundo o jornal americano The Wall Street Journal, esses militares são instruídos por autoridades norte-coreanas a cometer suicídio diante da iminência de uma captura.

Zelensky publicou nas redes sociais um vídeo com os soldados capturados pelo Exército ucraniano. No registro, eles dizem que foram informados que iam para um treinamento, e não para a guerra. E que só perceberam do que se tratava quando chegaram à Rússia.

Cerca de 300 militares norte-coreanos foram mortos e outros 2.700 feridos, segundo o NIS, o serviço de inteligência sul-coreano. Um novo envio de tropas está sendo organizado. Rússia e Coreia do Norte não falam sobre o assunto.

O que ganha a Coreia do Norte

Segundo o Departamento de Defesa americano, a Coreia do Norte recebeu tecnologia relacionada aos programas nucleares e de armas, em troca do envio de munições, mísseis e tropas para a Rússia. Também tem recebido petróleo, de acordo com um relatório da ONG britânica Open Source Centre.

Embora a Coreia do Norte tenha armas nucleares, a Rússia é a maior potência nuclear do mundo e tem ajudado a atualizar e desenvolver o programa norte-coreano.

1,3 milhão é a estimativa de soldados do Exército de Kim Jong-un — um dos maiores exércitos do mundo

Apesar do grande contingente, esses militares são em sua maioria jovens e não costumam participar de treinamento ou operações reais fora do país asiático.

Por isso, alega o Instituto para o Estudo da Guerra, a participação no conflito do leste europeu é uma oportunidade para as tropas norte-coreanas ganharem experiência técnico-militar nas condições de uma guerra contemporânea. A última vez que o Exército norte-coreano esteve num combate convencional em larga escala foi em 1953, na guerra das Coreias.

Segundo a inteligência militar dos EUA, a estratégia, a doutrina e as táticas norte-coreanas para operações terrestres permaneceram as mesmas desde os anos 1950 e são predominantemente destinadas a se posicionar contra a Coreia do Sul, país que modernizou suas Forças Armadas.

Os vizinhos vivem até hoje um conflito congelado — expressão usada para descrever conflitos latentes e não totalmente resolvidos. Os países assinaram apenas um armistício, que é um acordo de trégua temporária.

Posteriormente, a Coreia do Norte enviou pilotos para atuar do lado árabe nas guerras contra Israel em 1967 e em 1973. Enviou também uma pequena tropa para lutar ao lado das forças do ex-ditador Bashar al-Assad na guerra civil síria em 2016.

Breve histórico das relações

Rússia e Coreia do Norte dividem uma fronteira de 19 km e uma história de aproximação e afastamento. As relações entre União Soviética e Coreia do Norte — que tem desde então um regime comunista — foram estabelecidas em 1948, no início da Guerra Fria. Mas, com a dissolução do bloco soviético em 1991, houve um afastamento.

Era um período em que os dois países passavam por dificuldades internas — os norte-coreanos enfrentaram uma crise econômica que, associada a enchentes, resultou numa grande fome, com cerca de 3 milhões de mortos.

A partir dos anos 2000, a Rússia passou a buscar uma aproximação com a Coreia do Norte, ao mesmo tempo em que apoiava, enquanto membro-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, as sanções contra Pyongyang por causa do seu programa nuclear.

O primeiro encontro entre Putin e Kim ocorreu em abril de 2019 em Vladivostok, na Rússia. Não houve um grande estreitamento das relações naquele momento.

A invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, abriu uma nova possibilidade de cooperação. A Coreia do Norte foi um dos poucos países a reconhecer a independência das províncias separatistas da Ucrânia — Donetsk e Luhansk — sob o controle de Moscou. E Putin e Kim Jong-un se reuniram duas vezes desde o início do conflito — em setembro de 2023 e em junho de 2024.

NEXO – Edição: Montedo.com

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