Israel confirma ter recebido lista de reféns, e cessar-fogo entra em vigor em Gaza; palestinos comemoram com tiros

Três mulheres devem ser libertadas por terroristas neste domingo; acordo prevê que, entre vivos e mortos, os cativos sejam liberados ou tenham seus corpos entregues

 

Pessoas passam por barracas que vendem produtos em meio aos escombros de edifícios destruídos durante ataques israelenses anteriores, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza — Foto: Bashar TALEB / AFP

Jerusalém – Com um atraso de quase três horas, o esperado acordo de cessar-fogo em Gaza entrou em vigor na manhã deste domingo, naquela que é apontada como principal iniciativa capaz de encerrar a guerra que devastou o território palestino nos últimos 15 meses. Prevista para começar às 08h30 (03h30 em Brasília), a trégua só começou de fato às 11h15 (06h15), após autoridades de Israel confirmarem ter recebido do Hamas uma lista com os nomes das primeiras reféns a serem libertadas. As Forças Armadas israelenses bombardearam o enclave nesse ínterim, com a Defesa Civil de Gaza indicando que 19 pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas.

As identidades das três primeiras reféns que devem ser libertadas foram confirmadas na manhã deste domingo. Tratam-se de Romi Gonen, de 24 anos, sequestrada em uma emboscada enquanto tentava fugir da festa rave Supernova, onde o Hamas executou uma chacina no dia 7 de outubro de 2023; Emily Damari, de 28 anos, e Doron Steinbrecher, de 31 anos, ambas raptada no kibutz Kfar Aza, no sul de Israel. A expectativa é de que as reféns sejam entregues pelo Hamas a equipes da Cruz Vermelha, que por sua vez as entregarão a militares israelenses. O horário exato da entrega não foi divulgado, mas especula-se que deva ocorrer a partir das 16h (11h em Brasília).

O Hamas justificou que “complicações no terreno e a continuação dos bombardeios” motivaram o atraso no envio da lista com os nomes a Israel. Horas antes, o Gabinete do premier israelense, Benjamin Netanyahu, havia indicado que os ataques contra o enclave só iriam cessar quando os nomes fossem divulgados.

O formato definido pelo acordo negociado com ajuda de mediadores no Catar impõe que o Hamas divulgue uma lista antecipada, indicando os nomes dos reféns que serão libertados em cada dia da trégua. Além das três mulheres, outros 30 reféns devem ser libertados ao longo das próximas seis semanas, em troca de centenas de palestinos presos por Israel. Outros cativos, dentre os quais se acredita haver mortos, devem ser soltos ou ter os corpos entregues numa segunda fase do acordo.

Ainda de acordo com o grupo palestino, segue pendente a divulgação de uma lista de nomes por parte de Israel, com a identidade de 90 prisioneiros palestinos detidos no Estado judeu, a serem libertados como contrapartida pela devolução dos reféns. Em um comunicado, o Hamas afirmou que a troca vai incluir 90 mulheres e menores de idade, e que o acordo estipula “a libertação de 30 prisioneiros palestinos em troca de um detido civil [israelense]”.

Enquanto o grupo palestino não divulgava os nomes, as Forças Armadas de Israel continuaram a operar em Gaza. Bombardeios foram confirmados na Cidade de Gaza e no norte do território ao longo da manhã, com a Defesa Civil palestina, administrada pelo Hamas, contabilizando 19 mortes e cerca de 30 feridos. Um balanço divulgado pelo Ministério da Saúde de Gaza indica que 46.913 pessoas morreram no enclave desde o começo da guerra. Os números são contestados por Israel, que afirma que são superdimensionados e não distingue civis e terroristas.

Em uma operação especial em solo, os militares israelenses recuperaram o corpo do sargento Oron Shaul, morto em 2014 durante uma incursão ao território e mantido em Gaza desde então. O resgate foi confirmado por Netanyahu, que afirmou que o governo continuaria trabalhando para “recuperar todos os nossos sequestrados, tanto os vivos quanto os mortos”.

Em Gaza, o atraso no cessar-fogo não diminuiu o otimismo com a interrupção iminente do conflito. Da Cidade de Gaza a Khan Younis, no extremo sul do enclave, pessoas foram vistas comemorando nas ruas — incluindo homens armados com fuzis. Em Deir al-Balah, na região central do território, carros buzinavam e tocavam música alta na primeira hora do cessar-fogo, enquanto rajadas de tiros eram disparadas em comemoração e crianças corriam pelas ruas.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) afirmou que tem 4 mil caminhões carregados com ajuda humanitária, a maioria deles com alimento, esperando para entrar em Gaza.

Entenda o acordo
De acordo com plano apresentado pelos EUA em maio, que é a base do acordo aprovado agora, a proposta prevê a libertação — ou entrega de corpos — de 33 pessoas na primeira etapa, incluindo: (1) mulheres (cada uma delas em troca de 30 prisioneiras palestinas); (2) menores de 19 anos (cada um em troca de 30 presos menores de idade); (3) homens idosos com mais de 50 anos (cada um em troca de 30 idosos presos); (4) civis feridos ou doentes (em troca de presos doentes, mas limitado a 15 anos de tempo restante de prisão); e soldados mulheres (cada uma em troca de 50 prisioneiros palestinos, dos quais 30 condenados à prisão perpétua e 20 a outras penas limitadas a sentenças de 15 anos).

A previsão é de que os reféns sejam libertados gradualmente ao longo de 42 dias, com a seguinte divisão: no primeiro dia, três; no sétimo, quatro; no 14º, três; no 21º, três; no 28º, três; no 35º, três, com os 14 remanescentes na última semana da primeira fase. Estima-se que os prisioneiros palestinos devem começar a ser libertados gradualmente em relação aos reféns só depois das 16h locais (11h em Brasília) deste domingo.Manifestantes exigem a libertação de reféns israelenses em Gaza em ato em frente ao Ministério da Defesa de Israel — Foto: Jack Guez/AFP

Os 33 reféns, incluindo dois que foram sequestrados há dez anos, estão entre os 96 cativos (israelense e estrangeiros) ainda em Gaza desde o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023 contra Israel, que desencadeou a guerra — 157 foram resgatados em uma trégua em novembro de 2023 ou em operações militares. De acordo com o jornal israelense Haaretz, 36 estão mortos. Entre os reféns listados para essa primeira etapa, de acordo com o Haaretz, estão os irmãos Bibas, Ariel e Kfir, este último sequestrado quando tinha apenas dez meses.

Protesto: Em Tel Aviv, manifestantes pedem a libertação dos reféns e criticam a demora do governo de Israel em negociar com o Hamas — Foto: AFP

As negociações para uma segunda e terceira fases começariam no “16º dia” após a implementação do acordo. A segunda fase, explicou o Haaretz, incluirá a libertação dos 65 reféns remanescentes. Apesar disso, não há garantias de que o acordo seguirá em vigor até o fim das primeiras semanas previstas ou prosseguirá para além da primeira fase. (Com AFP e NYT)

O GLOBO – Edição: Montedo.com

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