Para bolsonaristas, vazamento da delação de Mauro Cid visa Eduardo Bolsonaro

 

Ação serviria de pretexto para Alexandre de Moraes adotar medidas contra o deputado

Malu Gaspar
O vazamento de um depoimento da delação de Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, à Polícia Federal, colocou os aliados do presidente em polvorosa nos bastidores. Com medo do que vem por aí, eles desenvolveram uma teoria para explicar a divulgação de um dos depoimentos de Cid em primeira mão pelo jornalista Elio Gaspari, no último domingo (26).

Para três interlocutores de Bolsonaro ouvidos pela equipe da coluna, o trecho da delação que inclui o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), poderia dar ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre a trama golpista, um pretexto para decretar alguma medida contra o filho do ex-presidente – como por exemplo reter seu passaporte.

Eduardo, que não foi indiciado no inquérito da trama golpista, é citado por Cid como um dos integrantes do grupo mais radical no entorno do então presidente logo após a eleição que deu a vitória a Lula. De acordo com o ex-auxiliar, essa ala era a favor de um golpe de Estado, queria que Bolsonaro assinasse a minuta do golpe e acreditava que “quando o presidente desse a ordem, ele teria apoio do povo e dos CACs”.

Cid afirma que, além do ex-general e deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e do general Mario Fernandes, preso preventivamente por sua atuação na trama golpista, Eduardo e Michelle Bolsonaro também eram a favor do golpe armado para impedir a posse de Lula.

A teoria dos bolsonaristas é de que a divulgação do depoimento teria tido como objetivo prejudicar Eduardo num momento em que ele está em evidência por ter participado de alguns eventos da programação da posse de Donald Trump, na semana passada, nos Estados Unidos.

“Toda vez que o governo vai mal e a direita vai bem, vaza alguma informação sobre a delação de Cid”, diz um aliado bem próximo do ex-presidente.

Na Polícia Federal, porém, fontes ligadas à investigação afirmam que o inquérito já foi concluído, está à espera de uma manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR), e que se Eduardo não foi indiciado é porque não foram encontradas provas materiais contra ele. De acordo com essas fontes, a teoria dos bolsonaristas “não tem nada a ver” (procurado, o ministro Alexandre de Moraes não respondeu).

Nada disso aplacou a tensão no entorno de Bolsonaro, onde é consenso que o ex-presidente deve ser denunciado pela PGR e se tornar réu no caso da trama golpista. Enquanto isso não acontecer, a tendência é que eventuais vazamentos continuem a alimentar teorias da conspiração.
O GLOBO – Edição: Montedo.com

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