Exército investiga seis militares suspeitos de agredir soldado dentro de quartel, em Pirassununga (SP). Inquérito Policial Militar tem prazo de 30 dias, prorrogáveis por mais 30.
Esdras Pereira, g1 São Carlos e Araraquara
Pirassununga SP) – A Polícia Civil enviou ao Exército Brasileiro documentos e uma suposta troca de mensagens entre o soldado que denunciou agressão e um dos colegas de corporação suspeitos de atacá-lo dentro do 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado.
Em uma das mensagens, um militar identificado como cabo Douglas afirma que a vítima “aceitou a brincadeira”.
Um inquérito policial militar (IPM) foi instaurado para apurar a conduta de seis militares. Na violência, eles teriam usado cabo de vassoura, remo de panela industrial e pedaços de ripa de madeira. O prazo para conclusão é de 30 dias, prorrogáveis por mais 30.
O g1 teve acesso a um trecho das supostas conversas enviadas ao Exército.
A reportagem questionou várias vezes o Exército se a troca de mensagens faria parte do material que compõe a investigação. A instituição, no entanto, respondeu apenas que “foi instaurado um IPM que corre sob sigilo, visando garantir a eficácia da investigação e a elucidação de um crime.”
O jovem militar disse à polícia que a agressão aconteceu em 16 de janeiro. Na mensagem, supostamente enviada já no início da madrugada de sexta-feira (17), o cabo Douglas pergunta primeiro se o soldado está bem.
Veja o diálogo abaixo:
- Cabo Douglas: “Tá tudo bem com você?”
- Soldado agredido: “Bem como se me arrebentaram hoje, uma tortura, não sei nem o que vou fazer da minha vida. Acabaram com a minha vida seus fdp”.
- Cabo Douglas: “Não fizemos nada com você. Você aceitou a brincadeira”.
- Soldado agredido: “Brincadeira?”
- Cabo Douglas: “Quero nem papo com você. Você aceitou”.
- Soldado agredido: “Você acha que é brincadeira que fizeram comigo?”
- Cabo Douglas: “Você aceitou”.
O g1 tentou contato por telefone com o cabo Douglas, mas não teve retorno até a última atualização da reportagem.
Afastado com licença médica por 45 dias
Depois de denunciar que sofreu agressão, o soldado vinha levando uma rotina à base de calmantes, conforme informou o advogado de defesa dele, Pablo Canhadas.
Ainda de acordo com Canhadas, na última sexta-feira (24) o jovem passou por uma reavaliação médica no próprio 13º RC, em Pirassununga, e foi afastado das atividades por 45 dias, com uma licença para buscar atendimento psicológico e psiquiátrico.
O g1 também tentou confirmar a informação da licença médica com o Exército, que apenas afirmou que “as informações de saúde são de caráter pessoal e de acesso restrito ao militar em questão”.
Na terça-feira (28), conforme o advogado, o militar passou pela primeira consulta com uma médica psiquiatra, que receitou um antidepressivo e um antipsicótico.
Investigação e abalo emocional
O caso foi registrado como lesão corporal no 1º Distrito Policial de Pirassununga. Mas, conforme apurou a reportagem, não haverá investigação da Polícia Civil, apenas do Exército.
Em nota, o Comando Militar do Sudeste informou que “o Exército Brasileiro não compactua com qualquer conduta ilícita envolvendo seus integrantes”. A instituição informou que os investigados podem até ser expulsos.
O advogado do soldado afirmou que ele ainda está muito abalado e introspectivo. Segundo Canhadas, as agressões duraram cerca de 30 minutos e um cabo de vassoura teria sido quebrado na região do ânus. O jovem relatou que dois colegas o seguraram, enquanto o restante o agredia.
“Neste momento, estamos trabalhando com o que chamo de ‘ação de contenção de ônus’, é mais um acompanhamento de perto para defender que amanhã ou depois não criem um arcabouço para falar que o meu cliente foi o responsável pelo ato que sofreu dentro do Exército, para poder eximir a União de pagar uma indenização, de dar um suporte psicológico e psiquiátrico. Quem disse que amanhã ele vai estar bem para seguir a vida? Vê farda e já começa a chorar”, disse o advogado ao g1 no dia 22 de janeiro.
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