O mutante Cenário Geopolítico Regional e Mundial encontram as Forças Armadas Brasileiras em seu pior momento histórico. Foto do Apronto Operacional Operação Perseu 2024 Comando Militar do Sudeste
Nelson During
Editor – Chefe DefesaNet
As Forças Armadas Brasileiras enfrentam seu pior momento histórico, e também o maior desafio, que é ter que justificar para a sociedade brasileira sua razão de existir. Isso é muito triste.
Falta tudo e não sobra dinheiro para nada. Mas há excesso de orgulho, afinal, hoje não temos guerra para lutar. Então qualquer efeméride é uma oportunidade para solenidades e distribuição de medalhas. Nada como viver das glórias do passado. Faz com que esqueçamos dos problemas do presente e dos desafios do futuro.
Estamos buscando recursos para pagar material de emprego militar adquirido há mais de uma década e recebidos a conta gotas, que já começam a sofrer defasagem tecnológica e obsolescência.
Enquanto as Forças realizam manobras algumas mirabolantes para sustentar a operação diária e a Sociedade vê a saída de oficiais e praças, cuja formação custou muita para a Nação, em escala crescente.
Isso é sinal de que o atual Ministro da Defesa só está no cargo a passeio. Como disse um interlocutor, ele não tem qualquer ingerência dentro da caserna, muito menos influência no governo.
Força Aérea
Estamos tentando pagar os caças Gripen, a 100 milhões de dólares cada (segundo o ministro da Defesa no Programa Roda Viva – 10FEV2025), enquanto éramos para estar no segundo lote, ou adquirindo um novo modelo de avião de combate para recompletar a frota de caças F-5 e AMX. A Forças não quer receber os mísseis do Gripen porque não temos onde estocar ou como pagar.
Talvez estejamos ignorando a realidade de um momento histórico que não acontecia há quase um século. O mundo está em guerra e todos os países analisam as suas estratégias e as implicações na atual mutante geopolítica internacional isso é motivo de preocupação. A lei do mais forte (Real Politik) passou a imperar nas relações internacionais.
O Soft Power deixou de existir. Na nossa região, a Colômbia está passando por momentos difíceis e a Venezuela está preparando algo que pode nos afetar diretamente. A Argentina está se rearmando como não víamos desde a décadas 70, a passos largos, com muito mais objetividade, decisão e com objetivos concretos que os empreendidos pelo Brasil. Os Estados Unidos de Donald Trump são uma incógnita, tal qual o acrônimo X.
Sabemos das deficiências da FAB, da necessidade de uma aviação de patrulha, de helicópteros de transporte e combate, e de uma quase inexistente aviação de caça, aquela que é a essência e razão de ser da Força Aérea. Todo o resto é Aeronáutica.
Marinha
A Marinha do Brasil, ou está a deriva, ou navega em direção a se transformar naquilo que mais teme, uma Guarda Costeira. Mas ela está firme na missão. Exceto pelos submarinos, todos os seus meios navais estão alinhados com as tarefas de uma guarda costeira, se afastando da sua própria história, deixando de ser uma Armada de Guerra e um poderoso instrumento de projeção de poder nacional.
A prova disso é a necessidade e insistência de se investir no Sistema de Monitoramento da Amazônia Azul (SisGAAz). Se não houver navios de patrulha, de meios atuadores, de nada serve a vigilância costeira. A Marinha está seguindo o mesmo caminho do SISFRON, a Linha Maginot Tecnológica que consumiu bilhões de reais dos cofres do Exército e nunca trouxe nenhuma capacidade militar. Nem sabemos qual foi o benefício que as tais torres de vigilância e sistemas de comunicação trouxeram para apoiar a segurança e diminuir a criminalidade no país. Hoje, essas torres estão praticamente inoperantes. (Observar que muitas têm sido depredadas e os equipamentos roubados)
Exército
Quando se compra um blindado, um obuseiro, uma metralhadora ou um helicóptero, eles operam quarenta anos no Exército. Mas uma torre de câmeras, com sistemas óticos sensíveis, tem uma vida útil de dois anos. Como devemos investir o dinheiro público?
Precisamos construir capacidades militares e multiplicá-las com o emprego de tecnologia. Precisamos de meios de combate. Forças Armadas não são polícia ou bombeiros.
A atividade fim requer meios de combate, a atividade subsidiária é o aproveitamento e aplicação desses meios e pessoal especializado em prol de um evento emergencial, como uma calamidade. Não existe o inverso.
O que falta para a aquisição de mais aeronaves? Navios de guerra de seis mil toneladas de deslocamento, com armamento pesado? O que falta para se introduzir o Veículo de Combate de Cavalaria, a mais importante capacidade militar do Exército desde a incorporação do lançador múltiplo de foguetes Astros? Quando vamos adquirir os meios de defesa antiaérea de média altura?
A Nova Família de Blindados de Combate (que não são o 6×6 Guarani) é de lagarta, obuseiros sobre rodas e a antiaérea de média altura, guerra eletrônica, inteligência, drones de ataque e munições vagantes são o principal fator de sucesso em qualquer operação de combate atualmente, e poderosos instrumentos de dissuasão.
Nossos Carros de Combate Leopard 1A5 estão com grande dificuldade na logística de manutenção pela disputa em obter as poucas peças de reposição devido a alta demanda pela Guerra na Ucrânia. Precisamos iniciar a aquisição emergencial de veículos blindados de combate de infantaria sobre lagarta e dos novos carros de combate, no conceito família, e com autonomia tecnológica e com parceiro estrangeiro de confiança. As Forças Armadas precisam adquirir munição com urgência.
Nossos militares precisam concentrar seus esforços e orçamento nos projetos que realmente definem o combate, nas verdadeiras capacidades militares. O resto é desperdício de dinheiro e tempo. E isso as Forças Armadas não têm para gastar.
Nunca estivemos tão perto do emprego da força militar como estamos hoje. O mundo está instável, não é seguro. Precisamos estar preparados.
Durante o Roda Viva, o Ministro José Múcio chamou “os militares de funcionários públicos fardados”. Talvez uma das formas mais infames de caracterizar as Forças Armadas. Funcionários públicos não precisam jurar lealdade ao país como fazem os militares, muito menos morrer pela Pátria.
Funcionários públicos não trabalham 24/7/365. Ser militar é uma vocação. A Profissão das Armas traz uma tradição quem vem desde o Império Romano, e “Múcio” sabe disso. Ser militar de carreira, é assinar um compromisso de vida para com o país e o povo. Farda não é uniforme de trabalho, mas um instrumento de combate, e isso diz muito sobre o que é estar fardado. Não podemos igualar militares fardados com outros “funcionários públicos uniformizados”.
A essência da segurança é reconhecer e se antecipar às ameaças. Estar seguro é viver em um ambiente onde as ameaças estão sob controle.
É hora de se equipar, treinar, trabalhar meios de inteligência e preparar as Forças e o País antes que seja tarde demais.
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