Comandante militar americano prepara primeira visita ao Brasil; generais classificam bravatas de Trump como “inofensivas”

O Almirante Alvin Holsey adota um discurso de boa vizinhança

Cézar Feitoza
Brasília – O chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos, almirante Alvin Holsey, prepara para as próximas semanas sua primeira visita ao Brasil após a posse do presidente Donald Trump.

A viagem estava prevista para as primeiras semanas de fevereiro, mas acabou adiada. Ele teria encontros com o ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, e com o comandante do Exército, general Tomás Paiva. Autoridades brasileiras e americanas avaliam uma nova data.

A vinda de Holsey é tomada por expectativa nas Forças Armadas. O foco é saber como a posse de Trump no governo dos EUA pode impactar a relação entre os setores militares dos dois países.

Holsey já deu mostras de que pretende manter a política de boa vizinhança, com acordos bilaterais para pesquisa e treinamentos militares conjuntos. Esse tem sido o tom dos últimos chefes do Comando Sul dos EUA, como a general Laura Richardson, antecessora do almirante.

Em seu discurso de posse, no último dia 7 de novembro, o novo chefe do Comando Sul disse que é importante fortalecer parcerias entre as Forças Armadas americanas e os segmentos militares dos países da América Latina e do Caribe.

“O SouthCom (Comando Sul das Forças Armadas dos EUA) está na linha de frente da competição estratégica. E nossos adversários estabeleceram uma presença forte, colocando em risco a segurança e a estabilidade nas Américas. A República Popular da China e a Rússia […] buscam minar a democracia enquanto ganham poder e influência na região”, disse.

A parceria entre os países da região, afirmou Holsey, é o melhor caminho para enfrentar ameaças externas que afetem a segurança e a economia. “Estaremos sempre ao lado de nações que pensam da mesma forma, que compartilham nossos valores, nossa democracia, nosso Estado de direito e os direitos humanos”, completou.

O Comando Sul americano é o segmento das Forças Armadas responsável por promover atividades conjuntas com os setores militares dos países da América Latina e do Caribe. Uma das principais preocupações expressas pelos ex-chefes do setor é o avanço da influência da China em países da América do Sul.

Holsey é o primeiro oficial negro a assumir o cargo na história. Ele recebeu o comando de Richardson —primeira mulher a chefiar o Comando Sul americano.

A leitura feita por integrantes do Ministério da Defesa e oficiais-generais das Forças Armadas é que a volta de Trump à Casa Branca não deve impactar na relação entre os militares americanos e brasileiros.

Nem mesmo os indicativos de que Trump pode causar instabilidade no Canal do Panamá são considerados relevantes por autoridades brasileiras. A aposta é que o presidente americano insiste em bravatas que têm forte apelo político, mas poucos efeitos práticos.

Generais do Exército ouvidos pela Folha contam que as principais ameaças de instabilidade nas proximidades ainda são centradas na Venezuela, com movimentações de tropas próximas à fronteira e a crise migratória em Roraima.

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira, Mucio disse avaliar que as coisas vão “serenar”, citando “essas sanções que ele [Trump] vai impor aos vizinhos, ameaças à China —ele hoje faz ameaças a todo mundo”.

“Com relação ao Brasil, não [tememos instabilidade]. Nada vai acontecer”, completou.
FOLHA – Edição: Montedo.com

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