Golpe ou construção Narrativa? A falta de elementos para uma tentativa real de tomada de Poder

Ricardo Fan

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por suposta tentativa de golpe de Estado deve ocorrer ainda em 2025, conforme ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) informaram recentemente. O argumento central da Procuradoria-Geral da República (PGR) é que Bolsonaro teria atuado diretamente na elaboração de um decreto golpista, pressionado militares e até concordado com um plano para eliminar o presidente Lula. No entanto, essas acusações levantam questionamentos importantes: há elementos concretos que sustentem a tese de uma tentativa de golpe, ou estamos diante de uma construção narrativa que visa fortalecer o governo e deslegitimar a oposição?

A análise dos eventos de 8 de janeiro de 2023 à luz das premissas fundamentais para um golpe de Estado revela lacunas significativas nessa tese. O episódio, embora grave, não apresentou os requisitos básicos para uma tomada de poder: não houve adesão das Forças Armadas, uma liderança articulada, apoio internacional ou controle estratégico da comunicação e da economia. Além disso, a reação das forças de segurança naquele dia levanta suspeitas sobre falhas de planejamento ou até conivência do governo com a escalada dos acontecimentos.

Diante disso, é fundamental analisar os fatos com isenção e ponderar se o que ocorreu foi uma real tentativa de subversão da ordem democrática ou se estamos diante de uma estratégia política para consolidar poder e reforçar a narrativa de que qualquer oposição ao governo Lula representa uma ameaça ao Estado democrático de direito.

Desde os eventos do dia 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes em Brasília, a narrativa oficial tem insistido que se tratou de uma tentativa de golpe de Estado. No entanto, ao analisarmos as premissas clássicas de um golpe, é possível questionar se realmente houve um plano concreto para tomada de poder ou se o governo Lula utilizou o caos como instrumento político.

O Que Define um Golpe de Estado?

Um golpe de Estado ocorre quando um grupo tenta tomar o poder de forma abrupta e ilegal, sem seguir processos democráticos estabelecidos. Para que tenha sucesso, são necessárias algumas condições fundamentais:

  • Crise Política e Institucional: Geralmente ocorre em momentos de extrema instabilidade.
  • Apoio das Forças Armadas: Sem o suporte militar, qualquer tentativa de golpe tende a fracassar.
  • Fragilidade do Governo: Golpes acontecem quando o governo é impopular ou enfraquecido.
  • Liderança Golpista Organizada: Precisa haver um comando claro e coordenado.
  • Controle dos Meios de Comunicação: Para influenciar a opinião pública e neutralizar opositores.
  • Suporte de Elites Políticas e Econômicas: Sem apoio empresarial e financeiro, dificilmente um golpe prospera.
  • Apoio ou Indiferença Internacional: Se houver forte oposição externa, a tentativa tende a fracassar.
  • Execução Rápida e Decisiva: Golpes bem-sucedidos ocorrem de forma rápida e organizada.

Diante dessas premissas, é necessário analisar se o ocorrido em 8 de janeiro realmente atendia a esses critérios.

Premissas Ausentes em 8 de Janeiro

1. Apoio das Forças Armadas

Um golpe sem suporte militar dificilmente é possível. As Forças Armadas não aderiram às manifestações e, em nenhum momento, houve mobilização de tropas para destituir o governo.

2. Liderança Organizada e Plano Estruturado

Não havia uma liderança clara coordenando os ataques. Os manifestantes eram grupos dispersos sem uma diretriz definida sobre como proceder após a invasão dos prédios públicos.

3. Suporte das Elites e Apoio Internacional

Empresários e líderes políticos importantes rapidamente condenaram os ataques, e a comunidade internacional repudiou os atos. Se houvesse uma tentativa real de golpe, um apoio financeiro e político significativo seria essencial.

4. Controle da Mídia e Execução Rápida

Os canais de comunicação foram dominados pelo governo e pela imprensa, que trataram os eventos como um “ataque à democracia”. O evento, longe de ser rápido e decisivo, foi desorganizado e sem um plano claro de continuidade.

Falha de Segurança: Negligência ou Conivência?

Outro ponto questionável é a resposta das forças de segurança. Se o governo tinha informações sobre os atos planejados, por que a Esplanada dos Ministérios não foi fortemente protegida? Entre os elementos que levantam suspeitas estão:

  • Polícia Militar facilitando a entrada: Há vídeos de policiais permitindo a passagem dos manifestantes.
  • Ausência de uma resposta rápida e enérgica: Em outros protestos, como os de 2013 e 2017, o governo agiu com muito mais rigor.
  • Presença de infiltrados?: Relatos indicam que algumas pessoas poderiam ter incitado o vandalismo para gerar caos.

O Benefício Político Para o Governo Lula

Independentemente da origem e intencionalidade do movimento, os eventos de 8 de janeiro foram amplamente usados pelo governo Lula para consolidar sua posição política:

  1. Demonização da oposição: Qualquer questionamento sobre o governo passou a ser rotulado como “golpismo”.
  2. Reforço da narrativa democrática: Lula se apresentou como o defensor da democracia.
  3. Aumento do controle estatal sobre segurança e comunicação: Medidas mais duras foram justificadas como necessárias para “proteger a democracia”.

Conclusão: Houve Mesmo uma Tentativa de Golpe?

Se analisarmos as premissas clássicas de um golpe de Estado, os eventos de 8 de janeiro claramente não atendem a esses critérios. Não houve apoio militar, liderança definida, apoio econômico ou plano organizado de tomada de poder. O que ocorreu foi um ato de vandalismo e desordem, amplificado por falhas (ou conivência) na segurança.

O governo Lula, por sua vez, se beneficiou politicamente da situação, usando o ocorrido como ferramenta para se fortalecer e silenciar oposições. O que se viu foi um reforço da narrativa de “defesa da democracia”, mesmo que o real perigo de um golpe jamais tenha existido.

Os brasileiros devem questionar: foi um golpe real ou uma construção política conveniente para um governo que buscava consolidar sua autoridade?

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