Acertadamente, denúncia da PGR isenta instituição Forças Armadas de tentativa de golpe

Documento cita 23 militares, entre eles sete generais

Rodrigo Lopes
Apesar de denunciar 23 militares das Forças Armadas, entre eles sete oficiais-generais e ex-comandantes pelo esquema golpista, a Procuradoria-Geral da República (PGR), acertadamente, faz questão de preservar a instituição, isentando-a da trama de ruptura constitucional.

Na página 21 do documento, o procurador-geral Paulo Gonet afirma que o “próprio Exército foi vítima da conspirata”. Acrescenta que “sua participação no golpe foi objeto da constante procura e provocação por parte dos denunciados”.

Como já demonstrado nesta coluna, em textos de colegas e em reportagens, generais que resistiram ao assédio sofreram campanhas de perseguição orquestradas por seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ainda na página 21 da denúncia, a PGR afirma: “Os oficiais generais que resistiram às instâncias dos sediosos sofreram sistemática e insidiosa campanha pública de ataques pessoais, que foram dirigidos até mesmo a familiares.

Embora a maioria dos militares tenha votado em Bolsonaro na eleição de 2018 – e, sem a farda, a caserna seja amplamente simpática à agenda do ex-presidente -, não se pode generalizar como aderentes à ideia da quartelada. Muito menos a instituição.

Ainda conforme o texto, “as contínuas agressões morais se davam sempre no propósito de impeli-los ao movimento rebelde, servindo ainda de indutor a que outros militares, embaídos pelo degenerado sentimento de patriotismo de que a organização criminosa se servia, formassem com os insurretos”.

Vale lembrar que oficiais que não aderiram à trama eram classificados em grupos de redes sociais pelos colegas golpistas como “melancias” – verdes por fora, vermelhos (comunistas) por dentro. O então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, chegou a ser chamado de “cagão” por Walter Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente na chapa de 2022 com Bolsonaro e, aliás, está preso e agora denunciado.

Também acertadamente a denúncia valoriza aquilo que, em outros momentos, já se destacou: o plano de intentona só não foi adiante porque os golpistas não conseguiram a aderência de todo o Estado-maior nem tampouco da tropa, reforçando o caráter de Estado das Forças Armadas. Diz o texto: “A decisão dos generais, especialmente dos que comandavam Regiões, e do Comandante do Exército de se manterem no papel constitucional foi determinante para que o golpe, mesmo tentado, mesmo posto em curso, não prosperasse.

O documento refere-se especialmente ao general Freire Gomes, que ao contrário dos colegas do Alto Comando das Forças, como o almirante Almir Garnier, da Marinha, que colocou suas tropas à disposição de Bolsonaro para o plano, não aceitou a proposta de ruptura constitucional.
GZH – Edição: Montedo.com

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