Isolado e com acesso restrito a eletrônicos, soube das acusações imputadas a ele pela PGR por meio da defesa e pelo noticiário
Eduardo Gonçalves
Rio – Há 80 dias preso em uma sala da Vila Militar, na Zona Oeste do Rio, o general Walter Braga Netto tem mantido rotina de poucas visitas e banhos de sol vigiados desde que foi denunciado por envolvimento em uma trama golpista no fim do governo de Jair Bolsonaro. Isolado e com acesso restrito a eletrônicos, soube das acusações imputadas a ele pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por meio da defesa e pelo noticiário.
— Ele ficou indignado com a denúncia, pois é inocente. Está inconformado, pois encontra-se preso com base numa mentira — afirma o criminalista José Oliveira Lima, sobre a reação do cliente.
Braga Netto, o general de duas estrelas Mário Fernandes, três tenentes-coronéis e um policial federal são os únicos dos 34 denunciados no inquérito que estão presos preventivamente por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O local, um cômodo adaptado no prédio principal da Vila Militar, conta com TV, banheiro exclusivo, geladeira e ar-condicionado, conforme a descrição de pessoas próximas ao militar. Quem o visita não pode levar celular, que precisa ser deixado em um escaninho do lado de fora.
A chegada do general, que já foi Ministro da Defesa, da Casa Civil e interventor do Rio de Janeiro, ao quartel levou o local a receber reforço na segurança. O general é vigiado 24 horas por dia e precisa ser escoltado por policiais do Exército durante as atividades de banho de sol — às quais têm direito diariamente.
As visitas são restritas aos familiares e advogados. Qualquer exceção precisa passar por aval de Moraes. Uma delas foi do atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, em 7 de fevereiro, onze dias antes de a PGR apresentar a denúncia. A ida do comandante, no entanto, não foi por uma questão de prestígio, mas um procedimento de rotina, como Tomás Paiva frisou a interlocutores.
O encontro, que durou cerca de 15 minutos, foi protocolar e de pouca conversa. O comandante lhe perguntou se ele estava bem de saúde e se tinha acesso à defesa e à família. O general não teria lhe apresentado queixa.
A relação entre os dois generais não era próxima durante o governo Bolsonaro e degringolou com o avanço da investigação. Mensagens apreendidas pela Polícia Federal mostram que Braga Netto orientou críticas nas redes sociais a Tomás Paiva. Segundo investigadores, a iniciativa visava constranger os militares que resistiam a aderir à trama. Ele enviou um texto a um capitão expulso do Exército dizendo que ele “nunca valeu nada” e “parece até que é PT desde pequenininho”, e, por fim acrescentou: “É verdade. Pode viralizar”.
Em nota, o Exército informou que os militares presos estão “isolados” e têm acesso a “assistência religiosa, médica e psicológica”, além de “respeitar rigorosamente as condições estabelecidas pelas autoridades competentes”. “Por questões de segurança orgânica, não fornecemos informações relativas aos horários, rotinas ou à quantidade de militares responsáveis pela segurança dos presos nas diversas situações”, diz.
Restrições
As visitas aos militares presos no inquérito passaram a ser mais restritas depois da revelação de que o tenente-coronel Mauro Cid recebeu 73 visitas em 19 dias, no primeiro semestre de 2023 — 41 delas de militares. Na época, Moraes considerou o número “elevadíssimo”, o que indicava “falta de razoabilidade”.
A mesma limitação de visitas foi imposta a Mário Fernandes, que foi secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência da República no governo Bolsonaro. Após passar um período na sala de Estado Maior da Vila Militar do Rio, ele foi transferido para o Comando Militar do Planalto, em Brasília, em um cômodo que também dispõe de ar-condicionado, TV e geladeira.
A transferência foi pedida pelo militar com o intuito de ele ficar mais perto da família, que o tem visitado quase todos os dias. Além da aproximação com os parentes, ele passou a se ligar mais à religião. Segundo pessoas próximas, o general está triste, sentindo-se injustiçado, mas “bem resiliente”.
Na última semana, a defesa de Fernandes fez um pedido ao STF para poder entrar com um computador na cela especial. O motivo: ele foi notificado da denúncia da PGR com a entrega de um pen drive, mas não tinha como abrir os arquivos. Moraes não atendeu à solicitação.
— O general está resiliente. Entendemos, com o devido respeito, que a prisão é desnecessária, pois entre o período entre a busca e apreensão, no início de 2024 até novembro, quando decretada a prisão, não se apontou qualquer conduta perigosa do meu cliente ou descumprimento das medidas cautelares impostas — diz o advogado Marcus Vinícius Figueiredo, que já atuou na defesa de Braga Netto.
Tanto os advogados de Braga Netto como o de Fernandes pediram a revogação da prisão preventiva ainda no ano passado. Os pedidos foram indeferidos por Moraes no período de Natal, em 24 e 26 de dezembro, respectivamente. Para o ministro do Supremo, a medida extrema é necessária para manter a ordem pública e assegurar o andamento das investigações.
O GLOBO – Edição: Montedo.com
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