Por Ricardo Fan, 11 de março de 2025
A Embraer, principal expoente da indústria aeronáutica brasileira, está intensificando sua presença na Polônia com dois anúncios recentes que sinalizam uma nova etapa de colaboração e expansão estratégica. Em matérias publicadas aqui no DefesaNet, detalhamos a assinatura de um Memorando de Entendimento (MoU) entre a Embraer e o Instituto de Aviação Łukasiewicz (ILOT) para o desenvolvimento de tecnologias de voo do futuro e a visita do CEO Francisco Gomes Neto a Varsóvia, onde foram apresentados planos ambiciosos para fabricação e manutenção de aeronaves no país. Este artigo oferece uma análise conjunta dessas iniciativas, explorando como elas posicionam a Embraer e a Polônia no cenário aeroespacial global.
Parceria tecnológica: um salto para o futuro
A colaboração com o ILOT, formalizada em Varsóvia, é um marco na estratégia de inovação da Embraer. O MoU, assinado por Gomes Neto e Sylwester Wyka, diretor interino do instituto polonês, foca em pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas áreas de materiais avançados, design aeronáutico e processos de manutenção. Como destacado na matéria sobre o acordo, essa parceria une a expertise da Embraer, líder no mercado de jatos regionais, à tradição centenária do ILOT, um dos pilares da pesquisa aeroespacial europeia.
O objetivo é claro: desenvolver tecnologias que atendam às demandas de uma aviação mais sustentável e eficiente. A menção de Gomes Neto sobre os “25 anos de engajamento” com o ecossistema polonês reforça que essa aliança é uma evolução natural de laços já existentes. Para a Polônia, a parceria eleva o status de sua engenharia, como apontou Wyka, enquanto para a Embraer abre portas para inovações que podem ser aplicadas em programas como o E2 e o KC-390 Millennium. Este movimento reflete uma tendência global de cooperação transnacional em P&D, essencial para competir em um mercado dominado por gigantes como Airbus e Boeing.
Expansão industrial: Polônia como hub estratégico
A visita de Gomes Neto a Varsóvia, detalhada em nosso segundo artigo, vai além da pesquisa e aponta para uma transformação da Polônia em um centro de excelência operacional da Embraer na Europa. Acompanhado de executivos das divisões de Aviação Comercial e Defesa & Segurança, o CEO revelou planos que incluem fabricação de peças, montagem de aeronaves, manutenção e conversão de jatos em cargueiros. A possibilidade de produzir o KC-390 na Polônia, com estimativas de US$ 1 bilhão em investimentos e 600 empregos, destaca o potencial militar dessa parceria, especialmente em um contexto de fortalecimento da OTAN.
Além disso, a Embraer quer aproveitar a infraestrutura industrial polonesa — que já fornece componentes como assentos e unidades de energia auxiliar para o E2 — para expandir sua cadeia de suprimentos. Projetos como um centro de revisão de trens de pouso e a conversão de E190s em cargueiros mostram uma visão integrada, que combina aviação comercial e defesa. A projeção de US$ 3 bilhões injetados na economia local e 5 mil empregos ao longo de uma década, como mencionado, reforça o impacto econômico dessa iniciativa.


Contexto e sinergias
Os dois anúncios não são isolados: eles formam uma estratégia coesa de internacionalização. A Polônia, com sua localização estratégica e indústria aeroespacial em crescimento, é um parceiro natural para a Embraer. Como já reportado, o país contribuiu com US$ 30 milhões em bens e serviços em 2024 e emprega 1.350 pessoas na cadeia da empresa. A relação com a LOT Polish Airlines e a produção de 30% do E2 na Europa (com asas em Portugal, por exemplo) criam uma base sólida para essa expansão.
A escolha do KC-390 como carro-chefe militar alinha-se às necessidades de segurança da região, enquanto a parceria com o ILOT pode gerar avanços tecnológicos que beneficiem tanto os jatos comerciais quanto os militares. Essa sinergia entre inovação e produção posiciona a Embraer para atender às demandas de um mercado em transformação, marcado pela recuperação pós-pandemia e pela crescente busca por soluções logísticas e de defesa.
Implicações e desafios
Para a Polônia, os benefícios são evidentes: empregos, investimentos e um papel mais relevante no setor aeroespacial global. Para a Embraer, é uma oportunidade de consolidar sua presença na Europa e diversificar suas operações em um momento de competição acirrada. No entanto, desafios persistem. A concretização dos planos industriais depende de negociações com parceiros locais e da captação de contratos, como os da LOT ou da Força Aérea Polonesa. Já a parceria tecnológica exigirá alinhamento de prioridades entre as duas organizações.
Um voo ambicioso
Os passos da Embraer na Polônia, como detalhados em nossas coberturas, mostram uma empresa que não apenas reage às tendências, mas as molda. A combinação de P&D com o ILOT e a expansão industrial em Varsóvia reflete uma visão de longo prazo, que pode redefinir os laços aeroespaciais entre Brasil e Europa. Se bem-sucedida, essa estratégia não só fortalecerá a Embraer como líder global, mas também colocará a Polônia no mapa como um hub essencial para o futuro da aviação. Acompanhemos os próximos capítulos desse voo promissor.
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