“HÏtl&r da Bahia”: soldado do Exército liderava grupo em &stυprØ virtual e “mutilação recreativa”

Luis Alexandre de Oliveira Lessa usava sua função de soldado para se vangloriar no grupo, segundo investigação

Rogério Gentile e Pedro Vilas Boas, Colunista do UOL e do UOL, em São Paulo
Para familiares e colegas, Luis Alexandre de Oliveira Lessa era um jovem de 20 anos, soldado do Exército e lutador de jiu-jitsu. No ambiente virtual, porém, ele se tornava o “Hitler da Bahia” e liderava um grupo de adolescentes no Telegram que praticou estupro virtual, com incentivo à automutilação, pedofilia e “violência por diversão”, segundo o MP-SP.

Luis Alexandre de Oliveira Lessa usava sua função de soldado para se vangloriar no grupo, segundo investigação Imagem: Obtido pelo UOL

O que aconteceu
Lessa foi preso em novembro de 2024, em Salvador, acusado de liderar o grupo virtual “Panela Country”. As investigações começaram em outubro daquele ano, após denúncia anônima, e descobriram rapidamente diversas vítimas em vários estados. A operação Nix, que agiu simultaneamente em São Paulo, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal, prendeu Lessa e apreendeu três adolescentes.

“Panelas” são pequenos grupos virtuais de jovens e adolescentes em redes sociais como Discord e Telegram. Os integrantes, chamados de “paneleiros”.

A “Panela Country” foi fundada por dois adolescentes e passou de 600 membros. Os jovens, menores de idade que foram apreendidos, eram conhecidos no ambiente virtual como Inative e Nêmesis. Lessa, o Hitler da Bahia ou Sagaz, é apontado pelo MP-SP como um dos líderes, e o único maior de idade, ao lado de Vitin, Lunatic e Maverick —mas todos abaixo de Lessa. Zeinpod, também apreendido, é o responsável pelos grupos de estupro virtual, ligados à comunidade.

Nesses grupos, “a violência é tratada como uma forma de diversão”, diz o MP-SP. Os membros “comemoram e se divertem à custa do sofrimento alheio, demonstrando pouca ou nenhuma empatia pelas vítimas, sejam humanas ou animais”, afirmou o desembargador Teixeira de Freitas, do Tribunal de Justiça de SP, ao negar pedido de habeas corpus feito pela defesa de Lessa.

Lessa foi denunciado por uma série de crimes: pedofilia, violência psicológica contra mulher, cyberbullying (intimidação sistemática virtual), perseguição, incitação ao crime, divulgação de pornografia, invasão de dispositivo de uso da polícia e divulgação de informações sigilosas. Por ser militar, ele foi levado ao 6º Batalhão de Polícia do Exército, mas nesta semana a Justiça autorizou sua transferência para uma cadeia pública enquanto aguarda julgamento.

A defesa de Lessa pediu habeas corpus e disse que só vai se manifestar no processo. O pedido, que foi rejeitado, alegava que o soldado sofria constrangimento ilegal do juiz responsável pelo caso. A reportagem também entrou em contato com o Telegram e o Exército sobre a investigação, mas não houve resposta. O espaço está aberto para manifestação.

Como o grupo agia
O aliciamento para o grupo ocorre com desafios, que viram manipulação emocional e exploração sexual. Os jovens precisam cumprir tarefas para obter respeito e notoriedade dos integrantes. O desafio mais comum, segundo a investigação, é a “plaquinha” —escrever o nome da “panela” num papel e fotografar-se, o que inclui versões mais extremas como escrever na pele usando um objeto cortante.

Esse tipo de foto, divulgada em outras comunidades e redes sociais, serve para comprometer e prender os jovens ao grupo. Ao entrarem na panela, eles adotam um apelido e são envolvidos em relacionamentos virtuais com troca de conteúdos íntimos. Depois, os líderes e outros membros ameaçam expor as vítimas, que são forçadas a fornecer mais imagens ou realizar atos cada vez mais graves, incluindo transmissões ao vivo de práticas explícitas e degradantes.

“Os jovens fornecem voluntariamente imagens comprometedoras, como forma de fortalecer laços afetivos, mas acabam se tornando vítimas de chantagem sexual [sextortion]”
Trecho da denúncia do MP-SP, obtida pelo UOL

As vítimas dos ataques sexuais são quase sempre mulheres, mas meninos também sofriam ameaças e extorsões. Os agressores, majoritariamente adolescentes homens estupravam virtualmente, coagiam e chantageavam principalmente mulheres e meninas, que eram levadas a exibir-se sexualmente e realizar atos libidinosos contra a sua vontade, em sessões ao vivo, vistas por outras pessoas.

Há relatos de introdução de objetos cortantes nos genitais e sessões de autolesão também sob coação e chantagem. A vítima utiliza um objeto cortante para escrever o nome do líder da comunidade em partes específicas do corpo (preferencialmente colo, parte interior das coxas, glúteos e genital). Isso é considerado uma forma de “homenagem”.

Animais costumam ser violentados em sessões de tortura. A denúncia fala em gatos, cachorros, pássaros, sapos e outros animais de pequeno porte.

Em destaque, mensagem enviada por Lessa, segundo o MP-SP Imagem: Obtido pelo UOL

Lessa é apontado também como líder de um ataque em massa contra uma jovem de 16 anos e sua família. Segundo as investigações, ele convocou membros do “Panela Country” para atuar na panela “Tribunal Federal Country”, onde expôs fotos íntimas da jovem e dados pessoais de amigas e parentes dela, obtidos em bancos de dados sigilosos (inclusive sistemas policiais). O grupo passou a fazer ligações e mandar uma enxurrada de mensagens perturbadoras para eles.

Já o adolescente Nêmesis confirmou que circulava fotos íntimas e de mutilações de menores de idade no Telegram. Em trecho do depoimento, ao qual o UOL teve acesso, ele alega que “as meninas se ferem, se machucam ou se colocam em situações vexatórias a fim de serem aceitas” e que as imagens foram enviada para ele de forma consentida.

Família foi procurada por parente de vítima. A mãe e o pai de Nêmesis contaram à polícia que souberam dois meses antes da operação, por um irmão da adolescente, que o filho ameaçava expor as fotos íntimas e que o confrontaram. Ele negou, primeiro, e depois disse que não divulgaria as fotos.

Pai chegou a ser preso por uma semana e filho demonstrou-se “frio”, diz a polícia. A investigação revelou que o filho usou o pai para abrir várias contas bancárias, fez selfie dele e usou seus dados. O pedreiro de 56 anos —analfabeto, morador de Camaragibe (PE) e com pouco contato com dispositivos eletrônicos— passou a receber dinheiro ilícito relacionado ao filho, sem ter conhecimento do esquema criminoso. À polícia, Nêmesis se disse hacker, “podendo invadir qualquer site hospedado na internet”.

Militar foi afastado do Exército
Lessa exibia sua patente militar para se promover no grupo. Nas fotos que aparecem na denúncia, ele veste uniforme do Exército. Também há relato de que, ao ser entrevistado para a carreira militÎar, disse “querer servir a pátria como seus familiares serviram”.

Ele entrou no Exército em março de 2024, foi afastado por um problema no joelho, e recorreu. Ele alegou que a lesão era decorrente dos exercícios feitos no quartel. A Advocacia-Geral da União contestou o pedido de reintegração, dizendo que sindicância mostrou que sua condição física era anterior à entrada na corporação. “Caso a lesão tivesse sido informada à comissão de seleção, ele certamente não teria sido selecionado para prestar serviço militar”, afirmou Márcio Capistrano, advogado da União.
UOL – Edição: Montedo.com

O post “HÏtl&r da Bahia”: soldado do Exército liderava grupo em &stυprØ virtual e “mutilação recreativa” apareceu primeiro em Montedo.com.br.