Na sua 15ª edição a LAAD atinge uma maturidade e ao término coloca os desafios para as Forças Armadas Brasileiras e em especial para a Base Industrial de Defesa do Brasil espremida pela falta de encomendas e sem apoio governamental para exportação.
Fiel Observador
Turquia
Foi o destaque da LAAD, com o maior pavilhão nacional. A motorização do SIATT MANSUP-ER, o acordo estratégico entre Turkish Aerospace Industries (TAI) e EMBRAER, e a negociação de compra de uma fábrica turca de armas pela Taurus. Esses anúncios foram amostras da parceria estratégica que está nascendo entre Turquia e Brasil, aliás, entre Turquia e o resto do mundo já que nações desenvolvidas da Europa estão buscando na Turquia uma Base Industrial de Defesa (BID) sólida com capacidade de desenvolvimento e produção de equipamentos militares de alta tecnologia.
A BID turca tem a maior capacidade de produção em escala da OTAN, sem restrições de cooperação e exportação. A empresa Otokar foi a grande vedete da feira com o estande mais visitado, onde apresentou o Tulpar, Carro de Combate médio sobre lagartas equipado com a torre do Centauro 2 e que está sendo oferecido ao Exército Brasileiro, substituto do CC Leopard 1A5BR, e aos Fuzileiros Navais, substituindo o SK105A2S Kürassier.


Assinatura da Colaboração Industrial entre Turkish Aerospace Industries (TAI) e EMBRAER. Otokar com o Carro de Combate Leve Tulpar
Centauro 2
Na LAAD foi apresentado pela primeira vez o Centauro 2 do Exército Brasileiro, o mais moderno veículo de combate sobre rodas do mundo e o mais importante instrumento de dissuasão desde a introdução do ASTROS. O Centauro 2 traz capacidades e poder de fogo que vão revolucionar o emprego das tropas mecanizadas e inaugurar uma nova era da Cavalaria do Exército.

Guerra de Blindados
Dando sequência ao recebimento do Centauro, o EB vai iniciar o processo de aquisição da nova viatura de combate sobre lagartas, que visa substituir os CC Leopard 1A5 BR, M113 e Gepard 2. O interesse da Força Terrestre é numa plataforma comum, um IFV com torre de 30mm com canhão rápido e munição ABM capaz de derrubar drones, e um Carro de Combate médio, com canhão de 120mm, preferivelmente estar equipado com a torre Hitfact 2 da Leonardo, que equipa o Centauro 2.
Essa torre é um sistema de armas moderno que traz grande poder de fogo, será produzida no Brasil através de acordo de offset com a empresa italiana. Dentro do EB existe a visão correta de que uma torre para duas plataformas de combate unifica o treinamento e facilita o suporte logístico, reduzindo seu custo de manutenção.
Um ponto importante dentro dessa aquisição é a necessidade que o veículo possa também ser equipado com uma torre antiaérea e que tenha incorporado os avanços da guerra moderna, incluindo as lições apreendidas nos diferentes conflitos recentes no Oriente Médio e principalmente na Ucrânia.
A guerra mudou a tecnologia militar e não podemos ficar presos a doutrinas e equipamentos desenvolvidos há 40 ou 50 anos, principalmente no que se refere a novas aquisições de veículos que serão operados pelos próximos 40 anos.
Exército Brasileiro
Segundo fontes de Brasília, o Comando Logístico do Exército (COLOG) está abrindo negociações G2G (Governo a Governo) para adquirir o drone de ataque Falco da Itália. Essa negociação seria para evitar que empresas israelenses participassem e vencessem uma licitação pública. Acontece, que das tantas tecnologias modernas e maduras no portfólio dos italianos, a Leonardo não conseguiu desenvolver e vender sua família de drones. O próprio CEO da empresa, Roberto Cingolani afirmou recentemente em entrevista a um jornal: “Posso dizer sem rodeios que perdemos o barco em drones. A única maneira de superar a lacuna é fazer acordos internacionais que se concentrem em nossas capacidades digitais: estamos trabalhando duro nisso.”
A Leonardo está abandonando seu projeto de drones para produzir em conjunto com a Baykar da Turquia, e isso mostra a necessidade do Brasil reavaliar a negociação para compra de drones italianos.
A entrevista do CEO da Leonardo pode ser acessada: https://www.repubblica.it/economia/2024/12/15/news/cingolani_stalink_musk_armi_cybersicurezza_intervista-423887244/
ATMOS
O Exército Brasileiro avalia cancelar a licitação do obuseiro sobre rodas, vencida pela ELBIT Systems, ou chamar o segundo colocado, sucumbindo a pressão de grupos da República Tcheca e Eslováquia. Uma decisão será tomada nas próximas semanas. O ATMOS, sem dúvidas é o melhor sistema da atualidade e só não foi adquirido por interferência política direta, e isso impactou outros negócios de empresas israelenses com o Exército.

Obuseiro sobre rodas ELBIT ATMOS
Em falta
Aos militares, faltam novas capacidades e agenda positiva. A situação das Forças Armadas é caótica. Faltam blindados, aviões e navios. Os meios de combate razão de existir das três Forças estão se perdendo com tempo, as capacidades se extinguindo, o moral baixando e a imagem das Forças despencando. As Forças Armadas se transformaram numa grande repartição pública e desacreditadas pela população, segundo recentes pesquisas. Uma agenda positiva seria o anúncio da compra de novos meios de combate, o que mostrará a sociedade o comprometimento com a constante modernização e foco na atividade fim, criando capacidades para a defesa da pátria.
Ler o artigo Brasil tem de se preparar para a nova versão da lei da selva
LAAD 2025
Apesar das dificuldades de marcação de reuniões e da presença das autoridades somente nos dois primeiros dias de feira, a LAAD 2025 viu grande sucesso. Sem contratos, mas com muitas cartas de intenções sendo assinadas. A própria feira foi vista como uma vitrine para venda da indústria brasileira de defesa para outros países.
BID em liquidação
Muitas das empresas da BID, entre elas alguns nomes bem conhecidos colocaram suas empresas a venda para os estrangeiros que queiram pagar e levar. Não se trata somente de investimento, querem vender o controle total. Empresas dos Emirados Árabes Unidos e da Finlândia não tem interesse no mercado interno brasileiro, mas buscam tecnologias baratas, prontas e capacidade produtiva para exportação, principalmente no setor de armamento, objetivando atender os altamente aquecidos mercados europeu e asiático. Ao que parece, a venda de empresas conhecidas não parece incomodar o governo e a ala patriótica das Forças Armadas. A irritação é seletiva e só acontece quando os israelenses abocanham indústrias brasileiras do setor de defesa.
ITAR Free e BAFA free
Ganhou força nos Comandos Militares, sobretudo no Exército o movimento pela aquisição de sistemas e equipamentos que não sejam controlados ou requeiram autorização de exportação dos governos dos Estados Unidos e da Alemanha. O Brasil tem sofrido embargos sucessivos e atrasos no fornecimento de tecnologias e até armamentos desses países. A aquisição de equipamentos militares e sua manutenção que estão fora dos controles de exportação deveria ser um mantra nas FFAA. Chegamos a um ponto que não podemos aceitar que uma potência estrangeira decida se podemos ter ou não um equipamento ou armamento convencional.
ITAR – International Traffic in Arms Regulations – Usado preferencialmente pelo governo americano
BAFA – Federal Office for Economic Affairs and Export Control – Governo Alemão
Alemães
Com participação muito tímida na feira, demonstram que não tem mais interesse no mercado brasileiro. Os constantes embargos da BAFA também criaram situações de desconforto. Como disse um importante oficial brasileiro, estamos vendo que parceiros tradicionais como Alemanha, França e EUA que nos impõem uma série de regras e desafios começam a ser substituídos por novas parcerias estratégicas com países e indústrias que querem construir relações de longo prazo conosco, como Turquia e Itália.
FAB – novos velhos caças
A FAB enviou uma consulta a diversas embaixadas no que seria chamado de Programa de Aquisição de Aeronave Complementar, que visa adquirir até 24 caças usados, supersônicos, monomotores, que lancem mísseis BVR. Será uma concorrência entre F16 e Gripen C/D. Um louvável projeto que vai enfrentar a dificuldade de se buscar o que não se tem disponível no mercado. Nesse momento, quem tem aeronaves em condição de voo não irá vender, e ambas as plataformas almejadas requerem autorização do governo americano e uma modernização que pode elevar o preço a mais de um bilhão de dólares o lote de 24 aviões, sem incluir armamento, treinamento e suporte logístico.
Ver a matéria: O Dilema de Sísifo na Modernização da FAB: O Fardo Infinito da Aquisição de um Caça
Tamandaré
À espera da entrega do primeiro navio da Classe, a Marinha aguarda confirmação de recurso para autorizar a produção de mais 2 ou 4 unidades, o que seria uma aquisição extremamente importante para a Armada Brasileira. Os novos navios poderiam receber tecnologias adicionais, incluindo uso de munição inteligente Vulcano e sonar rebocado
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