“Boom” de turistas israelenses em Morro de São Paulo tem modificado comércio local. Alta dos gringos é associada a série gravada há 13 anos, dizem comerciantes locais.
Malu Vieira, g1 BA
Bandeiras de Israel, cardápios em hebraico e uma sinagoga. Morro de São Paulo, na Bahia, parece um pedacinho de Israel, mesmo estando a 9.276 km do Oriente Médio. Segundo moradores, o aumento de turistas militares e civis israelenses foi impulsionado pela produção de uma série de televisão na região, transformando o turismo e o comércio local.
A série Malabi Express foi gravada em 2012 e conta a história de amigos que viajaram para o Brasil após cumprir o serviço militar obrigatório em Israel e se estabeleceram na pequena ilha, que é distrito da cidade de Cairu. A região, conhecida internacionalmente, há anos recebe turistas argentinos, franceses e chilenos.
O g1 foi até o Morro de São Paulo e conversou com comerciantes, turistas e pessoas do setor de turismo para entender como a ilha tem se adaptado ao “boom” de israelenses no local.
Cardápio em hebraico e sinagoga
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Nos restaurantes, parte do cardápio está em hebraico. Isaac Nilton, relações-públicas de um estabelecimento na segunda praia de Morro de São Paulo, disse que a ideia facilita a comunicação entre turistas e garçons. Antes, os pratos eram pedidos com mímicas e aplicativos de tradução.
Além de traduzir o cardápio, o restaurante adaptou o menu para atender às preferências do público israelense, que não consome carne de porco e não mistura carne com queijo — ou seja, nada de X-burguer. Há alguns anos, os pratos eram montados na hora, conforme os pedidos dos clientes.
“No início, eles montavam os próprios pratos, mas com o tempo nós adaptamos o menu e traduzimos o cardápio. Quando eles chegam e veem o cardápio na língua deles, sentam aqui automaticamente”, disse.
Os comerciantes dizem que as adaptações na língua e na cultura fazem os israelenses se sentirem acolhidos, mesmo longe de casa. Em grupos de WhatsApp para viajantes israelenses, Morro de São Paulo é um dos destinos mais comentados no Brasil, e quem visita costuma recomendar.
A região não atrai apenas jovens em busca de diversão. O destino também é procurado para casamentos e cerimônias judaicas, como a leitura do Torá. A tradição religiosa levou à instalação de uma sinagoga, que promove encontros entre turistas e cerimônias com rabinos.
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Festas eletrônicas típicas de Israel
Em março de 2024, durante o período pós-carnaval, 54% dos turistas estrangeiros em Morro de São Paulo eram israelenses, segundo a prefeitura de Cairu.
Paulo Hunter, fundador do Teatro do Morro e conhecido como Paulinho, viu na alta de turistas israelenses uma oportunidade de negócio. Fã de música eletrônica, popular em Israel, ele começou a produzir eventos desse tipo em Morro de São Paulo. A última festa, em março, atraiu cerca de 2 mil pessoas, a maioria israelenses, com ingressos de aproximadamente R$ 400.
“Trabalho com eles há oito anos e cada ano vem mais. Eles costumam vir no período de pós-carnaval, que geralmente já seria baixa temporada. Então agora nós temos mais um mês de alta temporada, que é a temporada dos israelenses. Isso é muito bom para comércio e hotelaria”, contou.
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Jailson Santos, conhecido como Barkka, também se beneficiou da alta de turistas israelenses. Assim como Paulinho, Barkka organiza festas em Morro de São Paulo e serve de ponte entre os israelenses e outros comerciantes, pois aprendeu a falar hebraico.
Nativo da Ilha de Tinharé, ele aprendeu a língua depois do fim de um relacionamento com uma israelense. “Não tinha mais quem traduzisse, aí tive que aprender”, brincou.
“Produzimos festas de techno e trance, que são as festas que eles [israelenses] gostam de curtir. Ficamos cerca de dois meses e meio produzindo essas festas em Morro de São Paulo”, contou.
Para aprender mais a língua e fechar as festas com produtores e DJs, Barkka já viajou para o país duas vezes e inclusive estava em Israel no início da guerra contra o Hamas, em outubro de 2023. O baiano precisou voltar para o Brasil com o avião das Forças Aéreas Brasileiras (FAB).
“Acordei 6h30 e só vi os foguetes passando, sem saber o que estava acontecendo. Foi tenso, perdi duas amigas israelenses que estavam na festa que foi atacada pelo Hamas. Uma delas, inclusive, havia passado dois meses em Morro de São Paulo”, relembrou.
Perfil dos viajantes
O perfil dos israelenses que visitam a região é o mesmo mostrado na série Malabi Express. Muitos são jovens que juntaram o auxílio financeiro do serviço militar obrigatório e usaram o dinheiro para viajar pelo mundo após serem liberados. A israelense Gabriela Vardy, de 24 anos, conheceu Morro de São Paulo nesse contexto, se apaixonou pela região e até aprendeu português.
“Existe esse costume de fazer uma viagem grande depois do serviço militar obrigatório, é algo que muita gente faz. Eu cheguei aqui há três anos e me apaixonei”, disse.
Os amigos Geva Eldar-Cohen, de 23 anos, e Amit Kaplan, de 22, fazem um “mochilão” pela América do Sul e visitaram o Brasil pela primeira vez em março deste ano. Segundo eles, Morro de São Paulo virou uma espécie de “trend” entre os jovens israelenses e a popularidade os motivou a fazer a viagem.
“Todo mundo sempre vem pra cá, é um local bastante procurado, então decidimos vir também. Adoramos Morro de São Paulo e estamos adorando o Brasil”, contaram. Leia mais.
G1 – Edição: Montedo.com
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