A Defesa do Estado na Guerra Política Moderna

Pinto Silva Carlos Alberto [1] 

1.PRÓLOGO.

A situação vivida na atual conjuntura brasileira é a de paz relativa, uma Guerra Política[2] Permanente, não há inimigo e sim estados com ações hostis em defesa dos seus interesses.

Estão acontecendo “Conflitos na Zona Cinza”[3], caracterizado por uma intensa competição política, econômica, informacional, mais acirrada que a diplomacia tradicional, porém inferior à guerra convencional, realizada por Estados que têm seus interesses desafiados pelo Brasil[4].

As ameaças globais, na atual conjuntura, estão se alterando celeremente: guerra cibernética; guerra da informação; guerra psicológica e operações clandestinas; influência e interferência em eleições; armas de destruição em massa e sua proliferação; terrorismo, contra inteligência e tecnologias destrutivas, ameaças à competitividade econômica, crime transnacional são apenas alguns dos recursos largamente empregados, de modo conjugado, com alternativas não militares, visando a complementar, apoiar, ampliar e, sobretudo, evitar uma confrontação formal, e desgastar as forças políticas, econômicas, sociais, informação militar e a infraestrutura de comando e controle de forças opositoras.

Temos, portanto, uma guerra política, informacional e de atividades híbridas, que deve ser secreta pelo maior tempo possível. Um conflito no qual os atores, estado ou não-estado, exploram vários modos de guerra simultaneamente (guerra financeira, guerra cultural, guerra midiática, guerra tecnológica, guerra psicológica, guerra cibernética, o amplo espectro do conflito, empregando armas convencionais avançadas, táticas irregulares, tecnologias agressivas, terrorismo e criminalidade visando desestabilizar a ordem vigente. Inclui todas as ferramentas à disposição do Poder Nacional.

A Estratégia Nacional já foi definida como a “ciência e arte do emprego das forças políticas, econômicas, psicossociais e militares de uma nação, de modo a oferecer o máximo de apoio às políticas adotadas em tempo de paz ou de guerra”. No entanto, permanece a questão de contra o que serão empregadas essas forças nacionais no sentido de apoiar as políticas adotadas. 

2. A “DOUTRINA HILLARY CLINTON” – SMART POWER – PODER INTELIGENTE (PI).

É interessante fazer breves comentários sobre a “Doutrina Hillary Clinton”[5] Smart Power – Poder Inteligente (Pi) – e sua comparação com a “Guerra De Nova Geração”:

– Permite usar todos os elementos do Poder Nacional em uníssono. SMART POWER – Poder Inteligente (PI) significa escolher a combinação certa de instrumentos diplomáticos, econômicos, militares, políticos, jurídicos e culturais para cada situação. 

– O objetivo do PI e do seu foco expandido em tecnologia, parceiros públicos privados, energia e outras áreas além do portfólio padrão do Departamento de Estado, é complementar os instrumentos e as prioridades diplomáticas mais tradicionais, não as substituir.

– Foi utilizada para reduzir vendas de petróleo iraniano (Área de energia), instrumentos financeiros e parcerias do setor privado para impor sanções rigorosas e excluir o Irã da economia global, foi usada a mídia social para comunicação diretamente com o povo, e o emprego de ferramentas de alta tecnologia para ajudar aos dissidentes a escaparem da repressão governamental.[6] Nada menos que o atual Conflito em Zona Cinza.

3. IDEIAS A SEREM CONSIDERADAS.

3.1. Curas Milagrosas.

“Ao tomar o remédio receitado, confiamos implicitamente em uma teoria prescritiva da medicina.

Apenas por instantes dos mais breves, a teoria prescritiva pode transcender a força niveladora da competição – o choque das vontades inteligentes. Ter a fórmula da cura milagrosa é sem dúvida bem melhor do que não a ter, mas não é o suficiente para conferir vantagem estratégica.

A teoria que oferece verdades aparentes centrará a mente nessas verdades e a forçará a girar em uma órbita acanhada e restrita em torno dela. Amortecerá as percepções relativas a mudanças sutis (e não tão sutis) do ambiente.

Ao remover a aflição da lide com ambiguidades, nos cegará para as oportunidades emergentes que nenhuma teoria convencional pode jamais prever. A cura será pior que a doença”. (Do livro Clausewitz e a Estratégia)

A “Reciprocidade” como resposta estratégica, a uma ação de outro Estado, não deve ser usada se não tiver um objetivo a ser atingido.

Na maioria das situações, aplicar a mesma ideia seria, no melhor dos casos, irrelevante”.

3.2. Penetrando a Incerteza

Helmuth von Moltke (1800-1891), talvez o mais dedicado discípulo de Clausewitz e considerado por muitos o militar mais brilhante depois de Napoleão, chefiou o Estado-maior prussiano e alemão de 1858 a 1888. Em Da Estratégia escreveu:

“Nenhum plano de Guerra se estende com certeza para além do primeiro encontro com a principal força do inimigo”. Apenas o leigo vê na trajetória de uma campanha, seja na Guerra Política ou na Convencional, a execução coerente de um conceito original preconcebido, pormenorizado e fielmente levado até o fim.

Tudo depende de se penetrar a incerteza de situações veladas para avaliar os fatos, esclarecer o desconhecido, tomar decisões rápidas e, então, levá-las adiante com força e constância.

Importante ressaltar:

  • Considerar o objetivo político a ser alcançado;
  • O que do oponente deve ser atingido para se alcançar o nosso objetivo político;
  • Entender claramente o resultado a ser alcançado;
  • Aspirar, no preparo e no emprego do “Poder Nacional”, por uma cadeia de comando (Decisores) simples e direta;
  • Facilitar a desistência do inimigo (Oponente);
  • Parlamentar com o inimigo;
  • O objetivo político e sua importância determinarão tanto o objetivo militar quanto o nível de esforço requerido.

4. CONCLUSÃO.

Assim, os sucessivos atos de “Defesa do Interesse Nacional” não são projetos predeterminados e, sim, espontâneos e guiados por medidas do Poder Nacional, considerando o objetivo político estratégico a ser alcançado.

O instrumento militar deve ser empregado somente quando todas as outras modalidades do Poder Nacional tenham se exaurido, ou quando o jogo político requer a adição ou ameaça da violência para proteger ou assegurar interesses.

O combate armado é apenas o meio para um fim político, sem o qual a guerra se torna sem objetivo e sentido.

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Estratégia Indireta na Crise com a Venezuela


[1]  Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.

[2] “O uso de todos os meios de disponíveis de uma nação para alcançar objetivos nacionais sem entrar em guerra”. É uma Guerra Política permanente na Guerra de Nova Geração.

[3] De acordo com Hal Brands “é uma atividade coercitiva e agressiva por natureza, mas deliberadamente concebida para permanecer abaixo dos limites de um conflito militar convencional”. Ou seja., “a Zona Cinza se caracteriza por uma intensa competição política, econômica, informacional e militar, mais acirrada que a diplomacia tradicional, porém inferior à guerra convencional”

[4] (“Gen Pinto Silva – Estratégia Indireta na Crise com a Venezuela”)

[5] Do livro “Escolhas Difíceis” Hillary Clinton

[6] Nada menos que o atual Conflito em Zona Cinza.

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