Relatório Reservado
22 Abril 2025
Os grandes fabricantes de defensivos agrícolas, à frente a dupla Bayer e Basf, estão cobrando dos ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da Agricultura, Carlos Fávaro, ações rigorosas para conter a escalada do contrabando do insumo no Brasil. Usam o maior dos seus instrumentos de pressão: dinheiro. A portas fechadas, as empresas ameaçam suspender investimentos no país devido à perda de mercado para produtos comercializados ilegalmente.
O contrabando de agrotóxicos está longe de ser um problema recente no Brasil. Muito pelo contrário. No entanto, uma novidade veio dar à praia, ou melhor, ao campo: há fortes indícios da participação direta de fabricantes chineses na entrada de defensivos agrícolas contrabandeados no país.
No setor, correm à boca miúda os nomes de duas empresas asiáticas que estariam envolvidas até a raiz com o ingresso de produtos clandestinamente no Brasil, a partir de uma operação triangular que passaria pelo Paraguai. Uma dessas companhias chinesas já foi, inclusive, citada em um suposto esquema de venda de defensivos agrícolas adulterados. Procuradas pelo RR, Basf e Bayer não quiseram se pronunciar.
Segundo informações filtradas pelo RR, estudo que circula nos Ministérios da Justiça e da Agricultura aponta que o mercado clandestino correspondeu a 28% de todos os agrotóxicos e congêneres comprados pelo agronegócio brasileiro no ano passado. Trata-se da maior participação já apurada pelo setor. Os prejuízos para os fabricantes beiram os R$ 30 bilhões.
Isso em um momento de resultados cadentes. De acordo com o mesmo documento levado ao governo, os campeões do contrabando são o imidacloprido, utilizado no combate a pragas em diversas culturas, metsulfurom-metílico, herbicida sistêmico usado no controle de plantas daninhas de folhas largas e benzoato de emamectina, inseticida aplicado, notadamente, em culturas de soja e algodão. Os três respondem por aproximadamente 38% dos agrotóxicos vendidos ilegalmente no país.
Em contato com o RR, a CropLife Brasil, associação que representa o setor de tecnologias agrícolas (bioinsumos, biotecnologia, defensivos químicos e germoplasma), confirma que “o setor tem mantido interlocução com o Ministério da Agricultura, Ministério da Justiça e demais órgãos de fiscalização e combate ao crime organizado, reforçando a importância de medidas integradas e mais rigorosas para enfrentar esse cenário”. A entidade afirma que “o contrabando e a comercialização de defensivos ilegais são problemas estruturais que afetam diretamente o setor agrícola ao comprometer a produtividade, além de prejudicar o meio ambiente e colocar em risco a saúde humana”.
A situação chegou a tal ponto que o mercado clandestino de defensivos foi parar na sala de aula. Em parceria com a Escola de Segurança Multidimensional (ESEM), do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo (USP), a CropLife Brasil ministra o curso Programa de Formação no Combate aos Mercados Ilícitos de Insumos Agrícolas, que está na 3ªedição e já formou mais de quatro mil alunos. Coisas de Brasil…
Há cerca de dois anos, os fabricantes de agrotóxicos levaram ao governo Lula a proposta de criação de um Plano Nacional de Defensivos Agrícolas, combinando medidas para estímulo ao aumento da produção local com ações de combate ao mercado ilegal. Como quase toda a iniciativa no Brasil que recebe a alcunha de “Plano Nacional”, nada andou. No que diz respeito especificamente ao comércio clandestino, o governo enxuga gelo.
Não se pode dizer que o Ministério da Justiça está de braços cruzados. Em 2023, último dado consolidado disponível, a Polícia Federal apreendeu 575 toneladas de agrotóxicos ilegais, 180% a mais do que no ano anterior. Porém, para cada tonelada apreendida estima-se que outras 34 abasteçam clandestinamente o agronegócio no Brasil
O post China é a vilã da vez no contrabando de agrotóxicos para o Brasil apareceu primeiro em DefesaNet.