“Recursos imprevisíveis são o maior desafio para planejamento estratégico”, reafirma o chefe do Estado Maior do Exército

Reunião em Campo Grande marcou o início de novas ações do Exército no estado, incluindo a ampliação da presença feminina e o reforço ao monitoramento das fronteiras

Fernando de Carvalho
Campo Grande – A capital sul mato-grossense foi palco, nesta terça-feira (22), de um encontro institucional promovido pelo Comando Militar do Oeste (CMO), que reuniu autoridades civis e militares para debater os rumos estratégicos da Defesa Nacional e os desafios enfrentados pelo Exército Brasileiro — em especial, nas regiões de fronteira.

O evento contou com a presença do chefe do Estado-Maior do Exército, general Richard Fernandez Nunes, do Comandante do CMO, General de Exército Luiz Fernando Estorilho Baganha, e do governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB).

Durante a coletiva, o general Richard destacou que a maior dificuldade atual da Força é lidar com a falta de previsibilidade orçamentária.

“Se estivéssemos aqui em 1925, o principal desafio também seria orçamento. Isso não mudou. Não se faz planejamento estratégico com recursos imprevisíveis”, alertou. Ele ainda reforçou a importância da ética, da comunicação estratégica e da inteligência artificial como vetores indispensáveis ao Exército do futuro.

O chefe do Estado-Maior também demonstrou preocupação com o impacto das redes sociais no ambiente institucional e na liderança militar. “Vivemos numa sociedade da precipitação. Uma ‘gatilhada digital’ pode causar tanto dano quanto um disparo irresponsável no campo de batalha”, disse.

Segundo ele, o Exército já implementa protocolos rigorosos para regular o uso de mídias sociais por seus quadros.

Transição no comando e legado em MS
A visita marcou também a reta final da gestão do general Luiz Fernando Estorilho Baganha à frente do CMO. Ele deixará o posto em setembro e apontou a integração entre as instituições como principal legado.

“Construímos uma relação de confiança com o governo estadual, os órgãos de segurança pública e a sociedade. Esse é o maior patrimônio que deixo”, afirmou.

Baganha também explicou que o CMO, responsável por quase 5 mil quilômetros de fronteira com Bolívia e Paraguai, é uma das regiões mais sensíveis do país em termos de segurança.

Segundo ele, o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) — implantado inicialmente no sul do MS — é prova da prioridade nacional dada à região.

Ampliação da presença feminina
Durante o evento, foi confirmado que Mato Grosso do Sul será pioneiro na implementação do serviço militar inicial para mulheres. Três unidades em Campo Grande receberão recrutas do sexo feminino a partir de 2026. Em todo o país, mais de 30 mil mulheres já se alistaram. O plano é que até 2035 elas representem 20% do efetivo.

Exército e Governo: parceria permanente
Para o governador Eduardo Riedel, a atuação do Exército é decisiva tanto na segurança pública quanto na atração de investimentos. “O investidor estrangeiro considera a estabilidade e a segurança da região antes de aplicar recursos. E ter um comando como o CMO sediado aqui nos fortalece institucionalmente”, disse.

Riedel também destacou a importância da cooperação entre forças estaduais e federais em ações como a Operação Ágata e o combate a incêndios no Pantanal. “Essas parcerias são permanentes e nos preparam para enfrentar desafios futuros, inclusive em situações de emergência ambiental.”

Perspectiva global e preocupações geopolíticas
Ao abordar a conjuntura internacional, Richard Nunes evitou alarmismos, mas reconheceu o momento de instabilidade. “Há quem diga que já estamos vivendo uma nova guerra mundial. As guerras não anunciam quando começam. Só a história dirá quando foi”, declarou.

Para ele, o papel das Forças Armadas é garantir que o Brasil esteja preparado, mas sem perder de vista os princípios democráticos.

Rota Bioceânica e oportunidades
Questionado sobre a Rota Bioceânica, o governador e os generais afirmaram que o novo corredor logístico, que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico via Paraguai, Argentina e Chile, trará oportunidades e desafios.

“A rota abre portas para o comércio, mas também exige atenção com a segurança. A atuação do Exército é essencial nesse novo cenário”, afirmou Riedel.
RCN67 – Edição: Montedo.com

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