Soldado registra ocorrência por agressão no Arsenal de Guerra de São Paulo, após perder fivela do cinto; Exército abriu sindicância

Militar registrou boletim de ocorrência e diz que foi levado a sala escura, forçado a fazer flexões e agredido com chutes após informar perda de item do uniforme. Exército informou que vai apurar a denúncia, mas que não há indícios de crime.
Carlos Henrique Dias, TV Globo — São Paulo

Barueri (SP) – Um soldado do Exército afirma ter sido agredido dentro de um quartel em Barueri, na Grande São Paulo, após perder a fivela do cinto do uniforme. O caso ocorreu em 10 de março e foi registrado um boletim de ocorrência. Segundo a defesa, o jovem está em casa, acamado e apresenta sequelas físicas.

O Exército enviou duas notas ao g1. Em ambas, afirmou que o caso está sendo apurado. Na segunda versão, afirmou que, “até o momento, não há qualquer indício de ocorrência de crime no interior daquela Organização Militar” (leia a íntegra da nota abaixo).

O soldado Valdir de Oliveira relata que informou um oficial que havia perdido a fivela, peça fornecida pelo almoxarifado, ao receber o novo uniforme. Em seguida, ele teria sido levado para uma sala sem iluminação, câmeras ou janelas. No local, conta que foi forçado a fazer flexões enquanto recebia chutes e era questionado sobre “quanto custava” a fivela.

“Nesse dia aconteceu a troca de farda. Eu entrei no almoxarifado, na parte que tinha lá na salinha e que estava o tenente. Ele pegou os tamanhos da roupa. Quando fui para dentro do almoxarifado mesmo, onde ficavam as roupas, eles pediram para eu bater continência três vezes para eles. Começaram a falar assim: ‘A gente vai jogar farda, e você pega’. Aí eles começaram a jogar a farda e batia na cabeça, nas costas. Não estavam nem aí”, relatou.

E emendou: “Até que eu peguei todo o kit da farda e estava indo para a porta, quando ele olhou para mim e perguntou sobre o cinto. Eu virei e falei assim: ‘O cinto eu tenho, eu só não tenho a fivela que eu acabei perdendo’. Aí ele falou: ‘Eu tenho uma fivela aqui. Quanto custa para você?’. Eu falei: ‘Não sei, senhor’. Ele falou: ‘Então, 10 flexões’. Fui me abaixar no meio do almoxarifado, e ele falou: ‘Não aqui’. Me levou num quarto que tem dentro do almoxarifado, bem escuro. Na hora em que eu me abaixei para fazer as flexões, ele começou a me bater”.

O jovem relatou à polícia que, mesmo após as agressões e com dores intensas na cabeça, foi obrigado a retornar ao treinamento físico naquele dia. À noite, ele conta ter sido trancado em um quarto e, na sequência, novamente levado para mais atividades físicas.

Segundo o boletim de ocorrência, o militar foi levado ao Hospital Municipal de Barueri (Sameb). Após o atendimento, foi obrigado a comer em apenas três minutos.

Ao passar mal, vomitar sangue e retornar ao hospital, recebeu recomendação médica de três dias de repouso, o que, segundo ele, não foi respeitado pelo quartel.

“Ainda estou com fraqueza nas pernas, vômito de sangue e dores na coluna”, ressaltou o soldado.

Defesa fala em ‘tortura’
Para o advogado de defesa do soldado, ele foi submetido a situações incompatíveis com a atividade militar.

“Tenho a dizer que meu cliente viveu dias de tortura no alojamento do Exército, para o qual se apresentou para cumprir um dever cívico. Sofreu agressões físicas e psicológicas que deixaram sequelas para o resto da vida”, afirmou Eduardo Lemos Barbosa.

Soldado diz que foi agredido em quartel do Exército em Barueri após perder fivela do cinto — Foto: Arquivo Pessoal

O que diz o Exército
Em nota, o Comando Militar do Sudeste (CMSE) informou que instaurou uma sindicância para apurar o caso.

“O Centro de Comunicação Social do Exército esclarece que durante o expediente do dia 12 de março de 2025, o Soldado Valdir de Oliveira Franco Filho apresentou um mal-estar e, prontamente, foi encaminhado ao Posto Médico do Arsenal de Guerra de São Paulo e, em seguida, foi transferido para o Serviço de Assistência Médica de Barueri (SAMEB), onde recebeu atendimento, recebeu alta e retornou à Organização Militar.

No dia seguinte, 13 de março, o soldado voltou a apresentar os mesmos sintomas e foi encaminhado ao Hospital Militar de Área de São Paulo (HMASP), onde foi submetido aos exames pertinentes e permaneceu internado até o dia 21 de março. Desde então, encontra-se em recuperação em sua residência, seguindo o tratamento prescrito pelos médicos responsáveis.

Desde o momento em que foi constatado que não se encontrava em plenas condições de saúde, o militar vem recebendo do Exército Brasileiro a devida assistência médica.

Assim que tomou conhecimento do relato narrado na solicitação, em 17 de abril de 2025, o Arsenal de Guerra de São Paulo instaurou uma sindicância para apurar os fatos. Até o momento, não há qualquer indício de ocorrência de crime no interior daquela Organização Militar.

Por fim, o Exército Brasileiro reitera seu compromisso com a observância rigorosa dos preceitos legais, dos princípios éticos e dos valores morais que norteiam a conduta de todos os seus integrantes.”

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo foi procurada, mas não se manifestou até a última atualização desta reportagem. Leia mais.
g1 – Edição: Montedo.com

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