Missão igual, padrão igual: como fica a preparação física das mulheres nas Forças Armadas?

Como exigir desempenho igual em missão se o preparo é baseado em padrões desiguais?

Luiz Alberto Cureau Júnior*
Recentemente, vi um vídeo em que uma cadete de West Point exibia sua capacidade física, acompanhada pela célebre frase de Amelia Earhart: “As mulheres devem tentar fazer tudo o que os homens tentaram. E se falharem, que o fracasso deles sirva apenas como motivação para irem além”. Contudo, é preciso ir além da inspiração e encarar a realidade operacional com seriedade e responsabilidade.

A inserção feminina nas Forças Armadas é uma conquista, mas ainda enfrenta contradições, especialmente na preparação física para funções operacionais. No Brasil, nossas escolas adotam critérios físicos diferenciados para homens e mulheres no ingresso e em alguns cursos. No entanto, ao final, os oficiais combatentes, sejam mulheres ou homens, precisam liderar frações, saltar de aeronaves, pilotar aeronaves , conduzir operações em ambientes hostis e lidar com situações extremas.

A pergunta é simples: como exigir desempenho igual em missão se o preparo é baseado em padrões desiguais? Durante meu comando no Centro de Capacitação Física do Exército, defendi que, para funções operacionais, os padrões físicos deveriam ser os mesmos para ambos os sexos. Isso não é discriminação, é coerência.

A profissão militar é degradante física e psicologicamente. Longos períodos de sono interrompido, exposição ao frio, calor, chuva, marchas forçadas, combate, peso extremo dos equipamentos e decisões sob pressão são rotina. Se não preparamos nossas militares com os mesmos níveis de exigência, estaremos fragilizando sua saúde e aumentando taxas de lesões e afastamentos.

A inclusão deve ser baseada em mérito e capacidade. Ninguém deve ser impedido de tentar. Mas, para funções operacionais, os critérios devem refletir a missão. Se a aeronave que pilota, o salto de paraquedas , a marcha, o fuzil e a mochila são iguais, a exigência física deve ser também. Defender padrões iguais não nega diferenças fisiológicas; reconhece que, no contexto militar, a biologia se subordina à missão. Respeitar as mulheres combatentes é prepará-las para o que a função exige, não protegê-las com atalhos perigosos.
*General do Exército da reserva.
GAZETA DO POVO – Edição: Montedo.com

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