Brigadeiro pode ser enquadrado em crime civis e militares por depoimento, diz jornalista

 

Tantas medalhas, mas e a honra?

Claudio Dantas
A normalidade com que Baptista Júnior narra reuniões destinadas a debater um plano de golpe me faz duvidar da natureza democrática das nossas Forças Armadas. Afinal, se Alexandre de Moraes não insistisse nesse inquérito, nunca saberíamos que houve uma tentativa de golpe rascunhada, debatida e, por fim, não tentada.

A cara de pau com que Baptista Júnior relata ter testemunhado o planejamento de uma ruptura institucional sem cogitar denunciá-la é ainda pior. Só no depoimento [desta quarta], se verdadeiro, consigo enquadrar o brigadeiro em crime civis e militares, como omissão de comunicação, prevaricação, acobertamento e até cumplicidade.

Ou isso ou não houve tentativa nenhuma de golpe! Ou isso ou Baptista Júnior é uma testemunha de cativeiro, como me relatou mais cedo o advogado Jeffrey Chiquini. Segundo ele, trata-se daquele tipo de testemunha treinada pela acusação para dizer certas coisas e esconder outras, incriminar uns e livrar outros.

Hoje, por exemplo, o brigadeiro disse já não ter certeza se Anderson Torres participou das reuniões golpistas. Mauro Cid também não estava presente. Sobre o almirante Almir Garnier, reiterou que ele teria colocado a tropa “à disposição do presidente”; mas não soube dizer quando extamente isso aconteceu.

E insistiu na versão de que Freire Gomes ameaçou dar voz de prisão a Bolsonaro. Versão já desmentida pelo próprio general.

Questionado por Moraes, disse: “Confirmo sim, senhor. Freire Gomes é uma pessoa polida e educada, não falou com agressividade, ele não faria isso. Mas é isso que ele falou. Com muita tranquilidade, calma, mas colocou exatamente isso. ‘Se fizer isso, vou ter que te prender’.”

Imagine a cena: três comandantes, um ministro e um presidente fazendo um brainstorm conspiratório, com uma bossa rolando ao fundo e um taifeiro servindo uísque e canapés. Não dá para levar a sério!

Baptista Júnior jura ter sido convocado a uma reunião para discutir a fabulosa “minuta do golpe”, mas admitiu que não chegou a ver o documento. Isso mesmo! Bateu em retirada porque, segundo ele, não compactuava com nada daquilo, mesmo que não soubesse o que era aquilo já que não leu o que estava escrito.

Na cabeça do brigadeiro, pelo visto, bastava o contexto de polarização, um presidente reclamando das urnas, reclamando do STF, reclamando do TSE, reclamando da campanha de Lula, reclamando até de governar um país como o Brasil. Certeza de que era um golpe, Alexandre de Moraes me disse!

A verdade é que Baptista Júnior não quis saber e nunca saberá, pois não chegou ver o documento com seus próprios olhos. E se não testemunhou, não serve como testemunha. E se o ministro-relator estivesse em busca da verdade, veríamos questionar o brigadeiro como fez com o general, alertando-o sobre o risco de prestar falso testemunho.
CLAUDIO DANTAS – Edição: Montedo.com

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