Por que pilotos da FAB estão deixando a carreira militar para aviação comercial? Entenda os motivos

 

Foram mais de 80 demissões de aviadores na FAB entre 2023 e 2025

Igor Pires
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A Força Aérea Brasileira (FAB) perdeu cerca de 22 aviadores militares, incluindo da aviação de caça e de transporte no ano de 2025. Esse número representa uma continuidade da tendência de saída observada em 2024, quando 32 pilotos deixaram a Força.

Os dados fazem parte de relatórios extraídos do Diário Oficial da União – DOU, acessados pela página Tudo Sobre Defesa. Segundo informações a que a Coluna teve acesso, foram mais de 80 demissões de aviadores na FAB entre 2023 e 2025.

Alguns motivos podem explicar essa tendência:

  • Salários abaixo da iniciativa privada: um primeiro-tenente da FAB, primeiro posto de oficial (oficial subalterno) recebe cerca de R$ 13 mil brutos mensais, enquanto pilotos comerciais na função de co-piloto recebem entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, além de bônus que podem chegar a até R$ 80 mil, logo após a contratação, para comandantes. (São pelo menos 5 anos até o próximo posto de Capitão).
  • Forte demanda por pilotos no mercado privado, dado que a aviação comercial brasileira vem crescendo em bom ritmo desde o fim da pandemia.
  • Frota reduzida: restrições de voos dificultam o trabalho dos aviadores. Segundo fontes ouvidas pela Coluna, não há hora de voo para todo mundo, atividade naturalmente cara.
  • Limitações operacionais e burocráticas podem ser apontadas como fatores desmotivantes para os militares. Muitas vezes o aviador não exerce a atividade-fim, mas as atividades de gestão, dada a eventual limitação de pessoas que pode existir.

O impacto da não renovação dos treinamentos dos aviadores muitas vezes não é crítico para o País, pois, por exemplo, o Brasil não está em guerra, ou, a aeronave que ingressa ilegalmente em território brasileiro não está equipada com armas, então não há criticidade para a segurança do aviador.

Agora se a atividade-meio, acessória (tipicamente atividades de gestão) não for corretamente realizada, órgãos como o Tribunal de Contas da União – TCU podem responsabilizar a FAB.

“A saída em massa de pilotos da Força Aérea Brasileira, especialmente de aviadores de elite como os de caça, representa um alerta grave à Defesa Nacional. A perda de profissionais altamente qualificados — formados com investimentos milionários — não é apenas uma questão administrativa, mas um risco direto à soberania aérea do país. Ignorar essa realidade é comprometer o futuro da aviação militar brasileira”, disse à Coluna o professor Luiz Reis.

Pedimos uma análise à Força Aérea Brasileira sobre todo esse contexto, porém, não recebemos atualização até a publicação. O espaço segue aberto.

Formação dos aviadores da FAB

A Academia da Força Aérea em Pirassununga-SP é o centro de formação dos aviadores da FAB. Por ano, forma-se número próximo a 100 novos oficiais aviadores.

De certa forma, há reposição com sobra em relação ao número de saídas. O mais relevante é a saída de muitos profissionais experientes e que custaram alto ao erário, sobretudo em termos de treinamentos e horas de voo. Escolher sair de um cargo é algo legítimo, porém, para qualquer profissional.

Valiosos também para o mercado privado

Os aviadores da FAB passam por anos de árdua preparação até a formatura. Para o mercado privado, eles são valiosos, pois se tratam de pilotos com centenas de horas de voos com uma formação diferenciada.

A saída de Pilotos de Elite, porém, contrasta com a chegada da modernização há muitos anos esperada da aviação de caça do país. O caça sueco Grippen para a FAB, é aeronave mais moderna da Força, posicionada entre a 4ª e 5ª geração de caças.

Então para que tantos aviadores?

Uma fonte próxima à Força Aérea Brasileira compartilha um pensamento interessante. Se não tem sido possível distribuir horas de voos para todos os aviadores, seria coerente então reduzir o número de formandos?

“Formamos muito mais aviadores que Oficiais Intendentes, não poderia ser o oposto? São apenas 40 Intendentes por ano, perto de 100 aviadores”. Os Oficiais Intendentes são responsáveis por toda a logística, administração e finanças da FAB.

Impactos na Defesa

A saída de profissionais altamente treinados, que custaram milhões de reais ao erário, pode afetar a capacidade operacional da FAB, afetando diretamente a soberania e a segurança do país.

Por outro lado, são formados anualmente cerca de 100 aviadores, ou seja, a taxa de reposição é bem maior que a taxa aqui informada de saída de combatentes aéreos. Abre-se espaço para a chegada e formação de novos talentos.

Os pilotos da FAB têm sido seduzidos por companhias aéreas como a Latam que ofereceu um bônus de início de trabalho de até R$ 80 mil para cada aviador recém ingressado na empresa.

Critérios para elegibilidade ao bônus de R$ 80 mil

Para se qualificar ao bônus, os candidatos precisavam atender aos seguintes requisitos:

Experiência de voo: Mínimo de 5.000 horas de voo, pelo menos 3.000 horas em aeronaves a jato. No mínimo 500 horas como comandante em aeronaves a jato, similares ao Airbus A320, conforme regulamentação RBAC 121.

Faixas salariais de copilotos no Brasil (dados de 2025)

  • Latam Airlines Brasil: entre R$ 10.000 e R$ 23.000 por mês.
  • Gol Linhas Aéreas: entre R$ 9.000 e R$ 17.000 por mês.
  • Azul Linhas Aéreas: entre R$ 5.000 e R$ 10.000 por mês.

Diário do Nordeste – Edição: Montedo.com

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