Integrar para Proteger: O Valor da Aliança entre Sociedade Civil, Segurança Pública e Iniciativa Privada

João Sansone,
Presidente Executivo COP Internacional – Congresso de Operações Policiais

A segurança pública não pode mais ser vista como responsabilidade exclusiva do Estado. Em uma sociedade cada vez mais complexa, marcada por conflitos assimétricos, desigualdade social e desafios institucionais, a segurança tornou-se uma missão coletiva que exige a integração efetiva entre sociedade civil, forças de segurança e iniciativa privada. A experiência internacional, especialmente dos Estados Unidos, mostra que é possível construir uma cultura nacional de respeito e cooperação entre civis e forças de segurança e defesa, alcançando níveis mais elevados de legitimidade, eficiência e envolvimento cívico.

Nos Estados Unidos, a relação entre a população e suas forças policiais e militares é fruto de um longo processo histórico de integração comunitária, transparência institucional e identidade nacional. Em eventos culturais e esportivos como o Super Bowl, é comum presenciar o cerimonial das forças armadas, execuções do hino nacional com veteranos, e até sobrevoos de caças em sinal de homenagem. Esses rituais não são apenas simbolismos: são investimentos e expressões de uma narrativa coletiva em que o militar e o policial são vistos como protetores dos valores centrais do país. Esse respeito não é imposto, é conquistado por meio de uma política ativa de relações comunitárias, em que a força atua de forma próxima e transparente, valorizando o diálogo com a população local.

No Brasil, a realidade é marcada por um grave distanciamento entre a sociedade civil e as instituições de segurança pública. Em muitas regiões dominadas por facções, policiais são constantemente hostilizados e desacatados nas ruas, enfrentando não apenas o crime organizado, mas também a resistência de comunidades que passaram décadas sem a presença efetiva do Estado. Esse cenário de desrespeito e conflito simbólico mina a autoridade institucional e compromete a capacidade de resposta das corporações.

No contexto norte-americano, essa integração também se estende ao campo econômico e institucional. Empresas privadas investem diretamente em projetos sociais vinculados à segurança, participam de conselhos locais, financiam unidades de policiamento de bairro e patrocinam programas de prevenção. Além disso, há uma relação comercial estruturada entre as Forças Armadas, de Segurança Pública e o setor privado, especialmente nos campos de licenciamento de marcas, como games, filmes e vestuário, além de patrocínio e participação em eventos com uso simbólico de representações institucionais.

Empresas que desejam utilizar insígnias, nomes ou a imagem do Exército ou da Marinha dos Estados Unidos em produtos comerciais precisam obter autorização formal e pagar royalties ao Departamento de Defesa. O mesmo acontece nas forças policiais, o cidadão pode entrar no departamento de polícia de Nova York e adquirir um moletom do NYPD por exemplo. Esse modelo de licenciamento gera receita para programas de apoio a veteranos, fundos de assistência à tropa e iniciativas de comunicação institucional. Um exemplo que ilustra o contraste com o Brasil é o caso do BOPE do Rio de Janeiro, uma das unidades de elite mais respeitadas no mundo, admirada por forças especiais internacionais e por entusiastas. Apesar de sua notoriedade, a unidade enfrenta enormes dificuldades legais até mesmo para comercializar produtos simples com sua marca, como camisetas ou canecas. Enquanto isso, o mercado paralelo lucra com itens falsificados, sem qualquer retorno financeiro à corporação. Uma regulamentação moderna do uso institucional poderia gerar recursos diretos e valorizar ainda mais a imagem da unidade.

Esse tipo de relação público-privada fortalece a imagem institucional das forças de defesa, ao mesmo tempo em que promove um senso de pertencimento e respeito. A população consome produtos oficiais não apenas como itens de moda, mas como símbolos de identidade cívica. Isso é resultado de um posicionamento estratégico das instituições, que investem em gestão de marca, transparência e relações institucionais. No Brasil, esse campo ainda é pouco explorado, mas representa uma imensa oportunidade para ampliar a presença das polícias e das forças armadas na vida cotidiana de forma positiva e construtiva. O licenciamento institucional e a presença cerimonial em eventos podem gerar recursos, visibilidade e conexão emocional com a sociedade, desde que realizados com planejamento, controle e propósito.

Nesse sentido, eventos, feiras e congressos especializados exercem um papel fundamental para aproximar os diferentes atores da segurança pública. O Congresso de Operações Policiais (COP Internacional) é um exemplo bem-sucedido dessa proposta. Aberto ao público a partir de 18 anos, o evento reúne anualmente profissionais das forças de segurança, representantes da iniciativa privada, acadêmicos e cidadãos interessados, promovendo debates técnicos, troca de experiências e fortalecimento das redes de colaboração. Iniciativas como essa demonstram que é possível construir pontes entre as instituições e a sociedade civil, fomentando uma cultura de cooperação e confiança mútua.

Por fim, é necessário destacar que a segurança pública precisa ser entendida como um ecossistema. A atuação integrada de todos os seus elementos – forças policiais, comunidades locais, empresariado, acadêmicos, legisladores e organizações civis – é a chave para uma cultura de paz sustentável. O Estado deve ser o garantidor da justiça, mas a sociedade precisa ser corresponsável pela sua efetivação. Somente com respeito mútuo, confiança institucional e cooperação inteligente poderemos superar os desafios da violência e construir um país mais seguro, justo e integrado. O Brasil tem forças de segurança capacitadas, uma sociedade civil ativa e um setor privado inovador. Falta apenas uma estratégia nacional que valorize a integração como eixo central das políticas públicas. A hora de construir essa aliança é agora.

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