Relatório Reservado
21 Maio 2025
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A iminente transferência da sede da Marfrig/BRF para o exterior, conforme já anunciado pelo empresário Marcos Molina, desponta não como um caso isolado, mas, sim, como uma tendência. O Brasil parece fadado a sofrer um êxodo do centro decisório de grandes corporações, o que, na ponta do lápis, significa perda de divisas. O próprio setor de proteína animal é forte candidato a protagonizar essa diáspora.
A Minerva Foods flerta com a ideia há tempos. Em 2017, quase levou sua sede para a Irlanda. Cinco anos depois, esteve em vias de se mudar para os Estados Unidos, movimento que seria acompanhado da listagem de suas ações na Nasdaq. Consta que o projeto não foi esquecido. A JBS tem uma história similar. Em 2019, a empresa ensaiou a mudança do seu domicílio fiscal para Luxemburgo ou Holanda.
O plano foi engavetado. Agora, com a empresa prestes a listar suas ações na Bolsa de Nova York, voltam a surgir no setor rumores sobre o interesse dos irmãos Joesley e Wesley Batista de levar a sede da JBS para o exterior. Procurada pelo RR, a empresa não se manifestou.
Entre startups e fintechs, empresas com estrutura mais leve e, portanto, maior mobilidade, já há também um movimento de saída do Brasil. Há pouco menos de dois anos, a healthcare Linda transferiu sua sede para o Canadá. Mais recentemente, a OriginalMy, especializada em autenticação digital via blockchain, se mudou para a Estônia.
O Nubank deve ser o próximo a bater asas. O banco está em conversas avançadas com autoridades britânicas com o objetivo de mudar seu domicílio para o Reino Unido. Legalmente, sua sede fiscal já está fora do país, mais precisamente nas Ilhas Cayman. Porém, na prática a gestão do Nubank e consequentemente toda a condução estratégica ainda estão concentradas no Brasil, que deverá perder esse status para a Inglaterra. Em tempo: esse movimento, ressalte-se, não se limita a grandes companhias.
Proliferam administradoras de fortunas que oferecem serviços a empresas de pequeno e médio porte e seus proprietários para a criação de domicílios fiscais no exterior, tanto para pessoas jurídicas quanto para pessoas físicas.
São muitos os motivos que levam corporações a mirar a porta de saída do Brasil. O país mantém, sabidamente, um dos sistemas tributários mais intrincados do mundo, com múltiplas camadas de impostos federais, estaduais e municipais. As corporações brasileiras gastam mais de 1.500 horas por ano – o equivalente a dois meses inteiros – para cumprir suas obrigações fiscais. Entre os membros da OCDE, a média é de apenas 158,8 horas.
Ao estabelecer a sede em países com acordos para evitar a dupla tributação, as empresas podem reduzir ou eliminar a incidência de impostos sobre o mesmo lucro em diferentes jurisdições. Nesta seara, há ainda um tempero a mais: a possível taxação de dividendos no âmbito da reforma tributária da renda. Seria um estímulo para empresários transferirem seu domicílio fiscal.
A insegurança jurídica e o excesso de burocracia são outros fatores com potencial de acentuar o deslocamento de empresas para o exterior. Por essas e outras, o Brasil chegou a ocupar a 124ª posição entre 190 países no Doing Business, ranking dos melhores lugares do mundo para se fazer negócio, que era elaborado pelo Banco Mundial e foi descontinuado a partir de 2021. Ao sair das fronteiras brasileiras, além de se livrar dessas amarras, as empresas passam a ter acesso a crédito a custo mais baixo, reúnem maiores facilidades para listar suas ações em bolsas internacionais e, consequentemente, aumentar sua base de investidores. Isso para não falar de ganhos reputacionais, diante da possibilidade de serem vistas como players globais.
Nota DefesaNet
O assunto do Relatório Reservado tem sido tratado de forma muito discreta na imprensa econômica. Mas a tendência tem sido quase um Tsunami de evasão de empresas de todos os tamanhos em todos os setores, do financeiro, industrial e incluindo muitas do agronegócio.
O cancelamento das mudanças realizadas pelos governos Temer e Bolsonaro nas áreas trabalhistas gerando uma total incerteza jurídica.
Além do mais, um fato não tratado, mas alarmante ér a tentativa de ralizar uma “revolução política” ou imposição de um governo de economia centralizada. Para quem cursou os bancos acadêmicos nos anos 70 se lembrará que a definição ára os regimes comunistas era “economia centralmente planificada“!
O post Marfrig/BRF não é caso único: Brasil às portas de um êxodo de empresas apareceu primeiro em DefesaNet.