O Eco da Tirania: De 1932 a 2025, a Sombra da Opressão no Brasil

Erich Nelson Cardoso Hoffmann
Oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo,
Doutor em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública.
Subcomandante do 21º BPM/I

O dia 23 de maio ecoa na história do Brasil como um lembrete sombrio da luta contra o totalitarismo. Em 1932, nesta data, o sangue de quatro estudantes foi derramado em São Paulo, vítimas da repressão da ditadura varguista. O martírio desses jovens inflamou a chama da Revolução Constitucionalista, um grito por liberdade e pela restauração da ordem democrática. Noventa e três anos depois, em 23 de maio de 2025, estamos diante de uma dolorosa repetição. Desta vez, o Cabo PM Júlio César da Silva Costa, da Força Tática do 21º BPM/I, foi covardemente assassinado com um tiro na cabeça.

É mais uma morte de policial que expõe uma realidade inquietante: a ascensão do crime, utilizando-se da própria estrutura estatal. O Brasil se vê novamente sob o espectro de uma forma de autoritarismo. Onde não foi necessário rasgar a Constituição, mas subvertê-la em sua essência.

Consequentemente, a população vive aterrorizada e encarcerada dentro de suas casas, enquanto criminosos recebem diversas benesses, paradoxalmente, em relação à garantia constitucional do direito à segurança. Um direito previsto no artigo 6º da Constituição Federal, que está entre os direitos sociais e intrinsecamente ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana. E reforçado pelo caput do artigo 144: “A segurança pública, dever do Estado…”. Todavia, perdeu a efetividade, pois não se traduz em resultados práticos para o cidadão.

A verdade é que há uma nítida priorização de garantias aos criminosos em detrimento do trabalho policial e um abandono às vítimas. A maioria das atuais “soluções” que circulam nas universidades, na mídia, nos tribunais e nos gabinetes do poder legislativo tende a impor ainda mais restrições àqueles que atuam no enfrentamento da criminalidade. Enquanto a população permanece acuada e vítima de violência, o debate se concentra no uso de COPs (câmeras corporais), em propostas de emenda constitucional de caráter especulativo e político, afastadas da realidade e das ciências policiais, múltiplas restrições ao policiamento. Aliado a ofensivas informacionais diárias na velha imprensa e ações jurídicas – o chamado lawfare – contra as instituições policiais.

Com isso, desenvolveu-se um garantismo penal distorcido, aliado a um engajamento cultural que fomenta a “bandidolatria”, resultando em uma nova forma de opressão que se manifesta de maneira insidiosa. Essa situação aprisiona toda a população brasileira, refém de uma crescente insegurança, enquanto as portas das cadeias parecem se escancarar. Sob o pretexto de legalidade, criminosos agem com crescente impunidade, desafiando a própria lei e a ordem. Tal quadro resulta na ausência de políticas públicas eficazes contra a criminalidade, na sensação de impotência diante da permissividade concedida aos criminosos e na erosão da confiança nas instituições – configurando um ambiente onde a liberdade e a segurança do cidadão são ameaçadas diariamente.

Diante dessa agenda que visa à inação policial e aos constantes ataques, a pergunta que emerge é: com toda essa poderosa força empenhada em neutralizá-los ou eliminá-los, como e por que os policiais que enfrentam o crime diariamente persistem no combate?

O fato é que existe uma parcela de guerreiros que não desistiu, e a memória dos estudantes de 1932 lança luz para entendermos o que está acontecendo. A luta em prol da população brasileira e contra o mal ainda pulsa no sangue desses policiais. Eles mantêm vivo o espírito de resistência das grandes lutas da humanidade contra as injustiças. O sangue desses combatentes, derramado hoje nas ruas, equipara-se ao derramado pelos grandes guerreiros e nos convoca a não silenciar diante desta tirania do crime.

Portanto, com a crescente escalada do mal que se infiltra na sociedade, são homens como o Cabo PM Júlio que mantêm as fortalezas de resistência da sociedade. Com a bravura dos combatentes que, ao longo da história da humanidade, lutaram e não hesitaram em entregar a própria vida nessa nobre missão, combatem com coragem o avanço opressor do crime contra a população.

Honremos a memória do Cabo PM Júlio César e de todos os que tombaram, unindo-nos em uma profunda reflexão sobre os rumos do nosso país. Não podemos permitir a continuidade dessa atrocidade. Que a sociedade brasileira se erga em defesa da segurança e do Estado de Direito, para que os sacrifícios de ontem e de hoje não sejam em vão. A luta pela verdadeira liberdade e pela justiça é o legado que nos conecta através do tempo, desde as perdas do passado até o sacrifício de mais um herói neste 23 de maio de 2025.

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