Armamento furtado do Exército foi oferecido a facções criminosas. Duas metralhadoras seguem perdidas
Editorial
A Justiça Militar condenou de modo exemplar cinco civis e quatro militares acusados de desviar armas do Arsenal de Guerra do Exército, em Barueri, na Grande São Paulo, em 2023. O furto aconteceu durante o feriado de 7 de Setembro, quando não havia expediente no quartel. Das 22 armas levadas, 20 foram recuperadas em diferentes pontos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Diante da grande repercussão do caso, apareceram no mês seguinte.
Dois ex-cabos, considerados os principais executores, foram condenados a 17 anos e quatro meses de reclusão em regime fechado. Um deles era motorista do diretor do arsenal, o outro auxiliar do setor de transporte. O oficial que chefiava a Seção de Inteligência recebeu pena de nove meses de detenção por inobservância do regulamento militar e por ter dado ordem para que carros não fossem revistados. O tenente-coronel que comandava o arsenal à época foi sentenciado a seis meses de suspensão por descumprir normas do regulamento interno. Os cinco civis, condenados pelo comércio ilegal de armas, receberam penas de 14 a 18 anos de prisão. Ao menos 38 militares já haviam sido punidos administrativamente pelo Exército.
Aproveitando-se da falta de expediente, os dois cabos desativaram o alarme e arrombaram os cadeados e o lacre da Seção de Recebimento e Expedição de Material. As armas foram colocadas numa caminhonete coberta com lona, e os dois conseguiram deixar o arsenal sem ser revistados. O armamento foi entregue a civis para ser negociado com organizações criminosas do Rio e de São Paulo (foi oferecido ao Comando Vermelho e ao Primeiro Comando da Capital). O material reunia 21 metralhadoras e um fuzil que, segundo o Exército, não tinha mecanismo de disparo. Duas metralhadoras Browning com capacidade para derrubar helicóptero ainda estão desaparecidas.
Era fundamental que o próprio Exército esclarecesse o furto e identificasse os responsáveis. Não se pode admitir que armas pesadas sejam levadas com relativa facilidade de uma instalação militar, para ser revendidas a criminosos. A despeito das investigações exitosas e da condenação dos culpados em primeira instância, fica claro que havia falhas na guarda do material. Espera-se que tenham sido corrigidas.
O furto no arsenal de São Paulo expõe o risco embutido na aquisição e guarda de armas, mesmo as legais. Nos últimos anos, especialmente durante o governo Jair Bolsonaro, cresceu enormemente a quantidade de armas em circulação, como resultado da facilitação de compra, posse e porte. Ainda que tenham sido adquiridas com o objetivo legítimo de proteção pessoal e cumpram a legislação, nada garante que estejam bem guardadas, a salvo de criminosos. Como se viu, nem o Exército Brasileiro pode garantir isso. Que dizer do cidadão comum?
O GLOBO
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