Israel lança ‘ataques preventivos’ contra o Irã; chefe da Guarda Revolucionária é mørtø e Teerã inicia retaliação com drones

 

Instalações nucleares e ligadas ao programa de mísseis foram atingidas em vários pontos do país

Por O Globo e agências internacionais

O governo israelense lançou o que chamou de “ataques preventivos” contra o Irã, em meio ao acirramento das tensões no Oriente Médio, e alertou sua população para uma retaliação com “mísseis e drones” vindos do território iraniano. Segundo Israel, o alvo da operação intitulada “Nação de Leões” é o programa nuclear do Irã, além de instalações ligadas ao programa de mísseis balísticos. O Irã confirmou a morte de pelo menos três dos seus principais generais, incluindo o major-General Mohammad Bagheri, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do país.

Após a fala do líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, na TV estatal, quando ele prometeu uma ‘punição severa’ contra Israel, Teerã teria iniciado sua retaliação. Segundo militares israelenses, citados pela CNN, foram lançados mais de 100 drones em direção ao território israelense, mergulhando o Oriente Médio em novas incertezas e aumentando o risco de uma guerra regional.

O Exército de Israel diz que já começou a interceptar drones iranianos. Uma autoridade israelense disse à Associated Press, citada pelo jornal The Guardian, que as interceptações estão ocorrendo fora do território israelense, mas não deu mais detalhes.

Duas autoridades de segurança iraquianas, que falaram ao Guardian sob condição de anonimato, disseram que mais de 100 drones lançados do Irã em direção a Israel foram rastreados cruzando o espaço aéreo iraquiano.

Moradores da província iraquiana de Diyala, que faz fronteira com o Irã, relataram ter ouvido o som de aeronaves e explosões de ataques dentro do território iraniano na manhã de sexta-feira. Alguns disseram mais tarde que viram drones lançados do Irã em direção a Israel.

Sirenes de ataque aéreo soaram sobre a capital da Jordânia, enquanto drones iranianos sobrevoavam o território rumo a Israel. A mídia estatal jordaniana disse que a Força Aérea do país está interceptando mísseis e drones em seu espaço aéreo.

A agência de notícias estatal citou um alto oficial militar, não identificado, dizendo que as interceptações foram realizadas com base em avaliações militares indicando que os mísseis e drones provavelmente cairiam dentro do território jordaniano, incluindo áreas povoadas, representando uma ameaça potencial à segurança civil.

O ataque israelense

Nas primeiras horas desta sexta-feira (hora local), o comando das Forças Armadas israelenses confirmou o ataque em um comunicado: “Dezenas de aeronaves da Força Aérea Israelense realizaram recentemente o ataque inicial, que incluiu ataques a dezenas de alvos militares, incluindo instalações nucleares em várias áreas do Irã. Por anos, o regime iraniano vem travando uma campanha direta e indireta de terror contra o Estado de Israel, financiando e direcionando atividades terroristas por meio de seus representantes em todo o Oriente Médio, enquanto avança para obter uma arma nuclear. O regime iraniano está à frente do eixo responsável por todos os ataques terroristas contra o Estado de Israel desde o início da guerra”.

Em pronunciamento, o premier israelense, Benjamin Netanyahu, disse que um dos alvos era a instalação de enriquecimento nuclear em Natanz, atingida por ações de sabotagem atribuídas a Israel no passado, assim como os “principais cientistas nucleares iranianos”. Israel declarou estado de emergência logo após o início dos ataques.

— Não podemos deixar essas ameaças para a próxima geração. Porque se não agirmos agora, não haverá outra geração. Se não agirmos agora, simplesmente não estaremos aqui — disse Netanyahu, afirmando que seu país está em um “momento decisivo” da História. — Internalizamos as lições da história. Quando um inimigo diz que pretende destruir você, acredite nele. Quando o inimigo desenvolve a capacidade de destruir você, detenha-o.

A imprensa iraniana afirmou que o chefe do Exército, Mohammad Bagheri, teria morrido na etapa inicial dos ataques, além de especialistas ligados a atividades de enriquecimento de urânio. A TV estatal confirmou ainda a morte de boa parte dos integrantes da cúpula da Guarda Revolucionária, incluindo o comandante em chefe, Hossein Salami, que ocupava o posto desde 2019. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, prometeu que Israel receberá uma resposta dura, afirmando que o país “preparou um destino amargo” para si próprio. A Chancelaria iraniana pediu que a comunidade internacional reaja aos ataques israelenses ao país afirmando que eles “expõem a segurança global a uma ameaça sem precedentes”. O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou os ataques e exortou os dois lados ao “máximo comedimento” para evitar “um conflito mais profundo”.

Prédio em Teerã atingido por bombardeio israelense — Foto: SEPAH NEWS / AFP
Prédio em Teerã atingido por bombardeio israelense — Foto: SEPAH NEWS / AFP
Netanyahu alertou que a operação continuará “pelo tempo que for necessário” e “até que a missão esteja concluída”, advertindo que o Irã ainda tem “capacidades significativas para causar danos”, mas que Israel “está preparado para isso também”. Enquanto as bombas caíam em várias cidades iranianas, Netanyahu disse aos civis do país que “não os odeia”, e que eles “não são seus inimigos”.

— Temos um inimigo comum: um regime tirânico que os atropela — disse Netanyahu.

Imagens da TV iraniana mostram várias explosões em Teerã, Isfahã, Arak e Kermanshah — cidades que abrigam parte do complexo industrial-militar iraniano — e estragos em prédios residenciais em áreas urbanas, no que fontes citadas pelo New York Times acreditam ser resultado de ações contra cientistas nucleares, citados por Netanyahu em seu discurso. A agência Irna anunciou que “várias pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram martirizadas num complexo residencial em Teerã”.

— O que posso ver são duas grandes colunas de chamas e fumaça saindo de duas bases militares no leste de Teerã — disse um morador de Teerã ao New York Times, acrescentando ter identificado ao menos dois caças da Força Aérea Israelense.

Em entrevista à Rádio do Exército, um oficial israelense disse que “se este ataque inicial tiver sucesso, então o que fizemos com altos funcionários do Hezbollah ao longo de 10 dias fizemos com o Irã em 10 minutos”, referindo-se à ofensiva de Israel contra o Líbano, no ano passado, que eliminou praticamente toda a liderança do grupo xiita aliado de Teerã.

Imagem de prédio residencial atingido em Teerã — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Imagem de prédio residencial atingido em Teerã — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Na justificativa para o ataque, os militares israelenses afirmam que o Irã acumulou urânio suficiente para construir “várias bombas atômicas” em questão de dias, e o Estado judeu agiu contra uma “ameaça iminente”.

“Hoje, o Irã está mais perto do que nunca de obter uma arma nuclear. Armas de destruição em massa nas mãos do regime iraniano representam uma ameaça existencial ao Estado de Israel e uma ameaça significativa ao mundo em geral. O Estado de Israel não permitirá que um regime cujo objetivo é destruir o Estado de Israel obtenha armas de destruição em massa”, disseram em nota as Forças Armadas de Israel.

Teerã alega que seu programa nuclear tem fins puramente civis e nega ter planos para militarizá-lo, embora tenha demonstrado a capacidade de enriquecer urânio em níveis próximos ao necessário para construir uma ogiva nuclear. Contudo, especialistas questionam se o regime estaria pronto para construir uma arma funcional a curto prazo.

Estragos causados por bombardeio israelense contra Teerã — Foto: SEPAH NEWS / AFP
Estragos causados por bombardeio israelense contra Teerã — Foto: SEPAH NEWS / AFP

Em comunicado, o ministro da Defesa Israelense, Israel Katz, afirmou que “após o ataque preventivo do Estado de Israel contra o Irã, um ataque com mísseis e drones contra o Estado de Israel e sua população civil é esperado em um futuro imediato”. Na rede social X, as Forças Armadas emitiram novas ordens à população, também antecipando uma possível retaliação iraniana.

“Após uma avaliação da situação, foi decidido que a partir de hoje às 3h (horário local), haverá uma mudança imediata na política de defesa do Comando da Frente Interna. Como parte das mudanças, foi decidido mover todas as regiões do país de uma classificação de atividade completa para uma classificação de atividade necessária”, diz a publicação. “As diretrizes incluem: proibição de atividades educacionais, reuniões e locais de trabalho, exceto para negócios essenciais. As diretrizes publicadas pelo Comando da Frente Interna por meio dos canais de distribuição oficiais devem continuar sendo seguidas. As diretrizes completas serão atualizadas no Portal Nacional de Emergência e no aplicativo do Comando da Frente Interna.”

De acordo com a rede americana CNN, os EUA não participaram ou forneceram apoio para a ação israelense, e o governo do presidente Donald Trump realizou uma reunião de Gabinete para avaliar os ataques. Mais cedo, o presidente afirmara na Casa Branca que uma ação israelense contra o Irã “poderia muito bem acontecer” e trazia consigo os riscos de um “conflito em grande escala” no Oriente Médio.

Não está claro se Netanyahu informou Trump com antecedência sobre a ação, como teria prometido, de acordo com integrantes do governo americano, e tampouco se os EUA participarão da estratégia de defesa contra eventuais ataques iranianos, como aconteceu nos confrontos do ano passado, quando centenas de mísseis iranianos foram lançados contra Israel. No pronunciamento, o premier agradeceu Trump “por seu apoio consistente ao nosso país durante todos os anos de sua presidência.”

Desde o segundo semestre do ano passado, quando o chamado Eixo da Resistência, liderado pelo Irã, começou a se esfacelar após a derrocada do Hezbollah no Líbano, o enfraquecimento do Hamas em Gaza, e a queda de Bashar al-Assad na Síria, Netanyahu via o caminho para um ataque de grande porte contra o regime iraniano como cada vez mais possível.

Contudo, Trump parecia disposto, ao menos publicamente, a buscar a via diplomática. Ele retomou negociações com Teerã sobre um novo acordo relacionado às atividades nucleares iranianas, sete anos após rasgar um plano internacional que limitava essas mesmas atividades alegando querer termos mais duros do que o plano inicial. Um dos termos, visto como inaceitável por Teerã, era a exigência de que o país suspenda por completo suas atividades de enriquecimento.

Nesta quinta-feira, a aprovação de uma resolução na Agência Internacional de Energia Atômica declarando que o Irã descumpriu suas obrigações relacionadas à não proliferação nuclear foi recebida com críticas pelo regime em Teerã, e com a promessa de expansão das atividades nucleares, com a construção de uma terceira unidade de enriquecimento de urânio.

Uma nova rodada de negociações envolvendo representantes de Washington e do Irã está (ou estava) prevista para domingo, em Omã — nesta quinta-feira, Trump disse que estava “bem perto de um acordo”, mas que um eventual ataque israelense “poderia ajudar, na verdade, mas também poderia prejudicar” os esforços.

A preparação para os ataques, que segundo fontes militares empregaram dezenas de aeronaves de combate, levou semanas e ocorreu em paralelo à iniciativa diplomática americana, à qual Netanyahu se declarava contrário.

Apesar das declarações de Trump se dizendo contrário a uma guerra, os sinais de que um ataque era iminente ficaram ainda mais claros quando os EUA determinaram a saída de funcionários não essenciais de suas embaixadas e bases no Oriente Médio — na quarta-feira, o ministro da Defesa iraniano, Aziz Nasirzadeh, ameaçou atacar instalações americanas na região caso as negociações fracassassem e “um conflito fosse imposto” a seu país.

“Nossa maior prioridade é proteger as forças americanas na região. Israel nos informou que acredita que essa ação é necessária para sua autodefesa”, afirmou o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em comunicado na noite desta quinta-feira. “O presidente Trump e o governo tomaram todas as medidas necessárias para proteger nossas forças e permanecem em contato próximo com nossos parceiros regionais. Deixem-me ser claro: o Irã não deve ter como alvo interesses ou pessoal dos EUA.”

O GLOBO

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