Advogado de réu no plano de golpe admite conversa com Cid no Instagram; defensor de Marcelo Câmara revelou ao STF mensagens trocadas com o militar nos primeiros meses de 2024 para fundamentar pedido de anulação da delação premiada de Cid
O advogado Eduardo Kuntz, que atua na defesa de um dos réus da ação penal da trama golpista, informou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter mantido conversas com o tenente-coronel Mauro Cid pelo Instagram nos primeiros meses de 2024.
A revelação foi feita nesta segunda-feira (16), dias após a revista VEJA publicar capturas de tela das mensagens trocadas pelo perfil @gabrielar702 no Instagram com um interlocutor não identificado.
Moraes determinou que a Meta informasse ao tribunal os dados do responsável pelo perfil.
A defesa de Mauro Cid, delator na ação penal do plano de golpe, alega que as mensagens reveladas pela revista e atribuídas ao militar não são verdadeiras.
O advogado Eduardo Kuntz, que defende o coronel Marcelo Câmara, no entanto, anexou à ação penal de seu cliente um documento autointitulado “defesa prévia” e uma ata notarial com 51 páginas. A ata mostra prints das conversas mantidas entre Cid e Kuntz entre 29 de janeiro e 13 de março de 2024.
As conversas teriam acontecido durante o período em que as investigações conduzidas pela Polícia Federal ainda estavam em curso e em que Cid estava proibido de manter contato ou utilizar as redes sociais para se comunicar.
Nas mensagens, entre outros assuntos, Cid afirma a Kuntz que o delegado Fabio Shor, responsável pelo inquérito, colocou palavras em sua boca durante os depoimentos da delação e que em nenhum momento mencionou a palavra golpe aos investigadores.
“Várias vezes eles queriam colocar palavras na minha boca… E eu pedia para trocar”, disse Cid ao amigo e advogado. “Eles toda hora queriam jogar para o lado do golpe. E eu falava para trocar pq nao era aquilo que tinha dito”, mostram as mensagens.
As conversas foram incluídas no processo para embasar pedido da defesa de Câmara de anulação da delação premiada de Mauro Cid com a Polícia Federal “por absoluta falta de voluntariedade”. A reportagem da revista também fundamenta pedidos feitos pelos advogados de Jair Bolsonaro e Braga Netto.
“O malfadado acordo de colaboração premiada firmado com o TC CID não pode e nem deve prosperar e, assim sendo, toda a sua prova dele derivada também deve ser imediatamente desconsiderada”, sustenta Kuntz.
No interrogatório a que foi submetido na semana passada no STF, o ex-ajudante-de-ordens afirmou que não usou redes sociais no período em que estava sob medidas restritivas.
Ao ser questionado pelo advogado Celso Vilardi, que representa Bolsonaro, se fez uso de um perfil no Instagram que não está no nome dele, Cid respondeu desconcertado que “não”. “Todos os meus celulares foram apreendidos”, completou.
Vilardi então pergunta se Cid “conhece um perfil chamado @gabrielar702?”. Cid responde: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”.
Em outro trecho da conversa mantida entre o militar e o advogado, de acordo com as capturas de tela, Cid chamou o delegado da PF de carreirista que busca ter ganhos políticos com as investigações.
Cid disse a Kuntz que Shor “é delegado novo”, que “recebeu um objetivo final” e que “está somente preenchendo lacuna”. “É esperto… Não é burro… sabe interrogar… Sabe tentar te conduzir para onde ele quer chegar”, disse o delator ao amigo advogado.
Na sequência, Cid conta a Kuntz sua percepção sobre a atuação dos ministros do STF. “AM e Barroso são os mentores…”, diz a respeito de Moraes e do presidente do tribunal. “Gilmar é o articulador…. Que coloca todo mundo no eixo”, afirma.
“AM é o cão de ataque… O Barroso é o iluminista pensador… Quem executa é o AM…. como um CEO de uma empresa”, conclui o militar sobre o assunto.
CNN BRASIL – Edição: Montedo.com
O post “AM [ Moares] é o cão de ataque, Barroso o pensador”, teria dito Cid em troca de mensagens com advogado de réu por trama golpista apareceu primeiro em Montedo.com.br.