Reunião com o presidente da Câmara teve chiadeira geral e irritação dos comandantes militares

 

Cortes orçamentários irritam Forças Armadas e falta dinheiro até para o avião presidencial

Thiago Prado
Brasília –
Uma reunião na última quinta-feira entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, virou palco para uma chiadeira geral das Forças Armadas sobre os cortes de R$ 2,6 bilhões que a Fazenda propôs para a pasta em 2025. Enquanto Fernando Haddad não consegue fazer avançar a sua agenda de aumento da arrecadação no Congresso, restou ao governo passar a tesoura no orçamento de algumas pastas não consideradas prioritárias neste momento.

A conversa na Residência Oficial da Presidência da Câmara teve uma revelação que surpreendeu Motta. Devido à falta de recursos, um problema estrutural no avião presidencial, o VC-1, teve que ser resolvido de maneira improvisada após um incidente que assustou Lula e sua comitiva, no México, em outubro do ano passado. Na ocasião, a aeronave havia decolado em direção ao Brasil após a cerimônia de posse da presidente Cláudia Sheinbaum, mas sofreu uma pane. Cinco minutos depois de sair do chão, um forte estampido foi ouvido pelos 16 passageiros do avião, entre eles o presidente e a primeira-dama Janja. O avião teve que ficar voando em círculos por quatro horas para gastar combustível e pousar no mesmo aeroporto de onde havia partido. Isso porque o peso permitido para uma aeronave na decolagem é bem diferente do autorizado para o pouso. Ou seja, como o avião tinha acabado de deixar o aeroporto e estava com o tanque cheio, foi preciso gastar querosene para voltar.

Na reunião, Hugo Motta ouviu dos comandantes militares que um problema na turbina do avião foi resolvido com o aluguel e não a compra de um equipamento zero quilômetro para a aeronave. Tudo pela necessidade de se fazer economia com os gastos das Forças Armadas. Alugar uma turbina foi mais barato. Não chegou ao valor de R$ 1 milhão, ao contrário de uma aquisição nova que poderia custar 20 vezes mais. Os valores em questão estão bem abaixo das cifras referentes à compra do avião, em 2005, pelo governo. O Airbus A319CJ foi montado em Hamburgo, na Alemanha, pelo custo de R$ 500 milhões. Em troca, o governo brasileiro recebeu uma aeronave de 50 toneladas, que pode atingir uma velocidade de 828km/h, comporta até 45 passageiros e tem autonomia de 11 mil quilômetros. Desde segunda-feira, a newsletter procurou a assessoria de imprensa da Força Aérea Brasileira (FAB) pedindo esclarecimentos sobre o conserto do avião presidencial, mas não obteve respostas.

A reunião dos comandantes militares com Hugo Motta também tratou de temas que apareceram nos últimos dias na imprensa tradicional e nos veículos que fazem a cobertura setorizada das Forças Armadas. Na “Veja” do último fim de semana, uma reportagem expôs a preocupação da FAB com os cofres vazios e o sinal de alerta aceso para a dificuldade de comprar combustível para os aviões que transportam autoridades, entre eles, o do próprio Motta. “No final de maio, assessores do Planalto receberam um pedido dos militares de liberação de R$ 1 bilhão extra para suprir o desfalque no abastecimento e para a manutenção de equipamentos parados por falta de peças básicas. Estima-se, por exemplo, que metade dos sessenta aviões Super Tucano — destinados, entre outras finalidades, para missões na Amazônia — esteja parada”, contou a repórter Marcela Mattos. Há dois dias, matéria da revista “Sociedade Militar” apontou ainda mais gargalos no dia a dia dos militares. “O corte no orçamento afetou diretamente o funcionamento de quartéis e bases aéreas, que já enfrentam dificuldade para manter o pagamento de contas de água, luz e serviços essenciais”.

Desde o início do ano, o ministro José Múcio vem buscando angariar apoio para que a Defesa tenha um patamar obrigatório de gastos similar ao que já ocorre em áreas como Saúde e Educação. Em maio, em um almoço do grupo Lide, ele lembrou que países da Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) destinam pelo menos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para a compra de armamento e que o planeta passa por um “momento de beligerância”.

A ideia de criar mais uma vinculação no orçamento público não é bem aceita por Haddad e sua equipe econômica, mas já encontrou simpatia na oposição. Projeto de lei do senador Carlos Portinho, do PL fluminense, prevê o repasse para a Defesa de 2% da Receita Corrente Líquida (RCL) do governo, ou seja, a arrecadação do ano menos os repasses a estados e municípios. Já que não conseguiu fazer andar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que veda a participação de militares da ativa em eleições, Múcio quer que esta agenda seja a principal marca do seu período no ministério. Leia mais.
Jogo Político (O GLOBO) – Edição: Montedo.com

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