Trama golpista: a principal contradição que Torres quer explorar na acareação com Freire Gomes

 

Acareação entre ex-ministro da Justiça e general está agendada para terça-feira (24)

 

Rafael Moraes Moura
Brasília
– A defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres pretende explorar na acareação com o ex-comandante do Exército Freire Gomes uma contradição nos depoimentos dele e do ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior: a versão de cada um deles sobre a suposta participação de Torres em reuniões para discutir medidas que poderiam ser tomadas pelo governo de Jair Bolsonaro para impedir a posse do presidente Lula.

A acareação foi marcada para a próxima terça-feira (24) pelo relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, que atendeu ao pedido da defesa de Torres.

O principal ponto a ser explorado pela defesa do ex-ministro é a divergência dos dois comandantes sobre se Torres participou ou não de uma reunião em que alternativas golpistas foram discutidas.

Em depoimento prestado no mês passado, Freire Gomes disse se lembrar “de apenas uma vez, ou duas no máximo” em que Torres se reuniu com os ex-comandantes para “explicar juridicamente algum ponto ali”. “Ele nunca interferiu, nunca me procurou particularmente e, mesmo nas reuniões, ele não opinava sobre esse assunto, que eu me lembre”, disse Freire Gomes.

Já Baptista Junior, que deu um dos depoimentos mais contundentes contra Bolsonaro, mudou de versão sobre o papel de Torres na trama golpista.

Em fevereiro de 2024, ele disse à Polícia Federal que Torres “chegou a participar de uma reunião em que os Comandantes das Forças estavam presentes”, procurando “pontuar aspectos jurídicos que dariam suporte às medidas de exceção (GLO e Estado de defesa)”.

No mês passado, Baptista Júnior se corrigiu. “Eu conheço o meu depoimento (à PF), estava à vontade no meu depoimento. Quando foi quebrado o sigilo (das declarações), eu vi a reação do ministro Anderson Torres e fiquei em dúvida. Gostaria de fazer uma retificação – acho que em tempo. Não tenho a mesma certeza sobre a participação de Anderson Torres em alguma reunião.”

A defesa do ex-ministro, capitaneada pelo advogado Eumar Novacki, vai exigir que o ex-comandante do Exército informe a data, hora e local dessas reuniões.

Além de colidir com o depoimento de Baptista Junior, a versão de Freire Gomes também vai contra a versão apresentada pelo próprio delator do caso, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que fundamentou a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente e outros 33 alvos.

Em seu interrogatório na semana passada, Cid disse que Torres não esteve presente em qualquer reunião que tenha girado em torno de discussões sobre medidas antidemocráticas nem assessorou Bolsonaro nesse tema.

Na petição protocolada no Supremo na última segunda-feira (16), o advogado recorre a um relatório de entrada e saída do Palácio do Alvorada com as movimentações de autoridades em dezembro de 2022, para alegar que Freire Gomes e Torres “jamais estiveram juntos no mesmo horário/local”.

“A vagueza do depoimento prestado por Freire Gomes salta aos olhos. A testemunha não se recorda de data, horário, local ou nome dos participantes da suposta reunião na qual Anderson Torres assessorou o ex-presidente, nem, tampouco, em que contexto ela ocorreu ou o papel desempenhado por ele, a caracterizar hialina violação aos princípios da ampla defesa, do contraditório e da dialeticidade”, escreveu Novacki.

O que diz a defesa do general
Procurada pelo blog, a defesa de Freire Gomes alegou que a acareação do general Anderson Torres é “desnecessária, porque o ex-comandante do Exército falou a verdade em todos os seus depoimentos, sem contradições”.

“De qualquer forma, independentemente da circunstância, o general Freire Gomes continuará cumprindo com o seu dever de falar a verdade, exatamente como o fez na oitiva na PF e na audiência do STF”, afirmou o advogado João Marco Gomes de Rezende.
Malu Gaspar (O GLOBO) – Edição: Montedo.com

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