Tenente-coronel afirmou em delação ter recebido R$ 100 mil do ex-candidato a vice de Bolsonaro e repassado montante para kid preto no Palácio da Alvorada
Rafael Moraes Moura e Johanns Eller
Brasília e Rio – O tenente-coronel do Exército Mauro Cid manterá durante a acareação com Walter Braga Netto (PL) nesta terça-feira (23) a versão de que o general e ex-candidato a vice de Jair Bolsonaro lhe entregou R$ 100 mil em uma caixa de vinho no Palácio da Alvorada para financiar a ação golpista de kids pretos contra a posse de Lula após as eleições de 2022.
A informação foi confirmada à equipe da coluna por interlocutores de Mauro Cid envolvidos na preparação da acareação. O episódio foi relatado pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro na delação premiada firmada com a Polícia Federal (PF) e reiterado no interrogatório de Cid no Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito do julgamento da trama golpista.
Braga Netto, porém, nega. Em interrogatório no Supremo, rechaçou ter entregue dinheiro a Cid para patrocinar qualquer iniciativa golpista – e alegou que tratou com o delator de verba que seria destinada para candidatos que concorreram às eleições de 2022.
Na ocasião, no último dia 9, o tenente-coronel repetiu ter recebido o montante de Braga Netto e entregue os valores dentro do próprio palácio ao major Rafael Oliveira, kid preto réu no Supremo e suspeito de integrar o plano “Punhal Verde e Amarelo” para “neutralizar” Lula, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. O general, por sua vez, negou o pagamento e acusou Cid de faltar com a verdade.
“Depois – o espaço temporal eu não me recordo – o general Braga Netto trouxe uma quantia em dinheiro, que eu não sei precisar quanto foi. Mas com certeza não foi R$ 100 mil, até pelo volume, não era tanto, que foi passado para o major de Oliveira, no próprio Alvorada”, declarou Mauro Cid na ocasião.
“Fui eu que passei esse dinheiro. Eu recebi do general Braga Netto no Palácio da Alvorada. Estava em uma caixa de vinho, uma botelha. Aí depois, se bobear no mesmo dia, eu passei para o Major de Oliveira”, seguiu o delator.
Nos depoimentos, Cid sustentou ainda que o general era o elo entre o então presidente Bolsonaro e os manifestantes golpistas que protestavam por uma intervenção militar inconstitucional de modo a impedir que Lula tomasse posse em janeiro de 2023.
A entrega do dinheiro é uma das principais divergências entre as defesas do tenente-coronel e do ex-candidato a vice a serem abordadas no confronto de versões nesta terça. O outro ponto é a reunião que Cid diz ter ocorrido na residência do general em Brasília na qual foi discutida a implementação do Punhal Verde e Amarelo.
Agora, os dois estarão frente a frente no STF para a acareação solicitada pela defesa de Braga Netto, que viajará do Rio, onde está preso desde dezembro, para Brasília por ocasião da reunião. O general, a propósito, foi preso preventivamente acusado de tentar obstruir a Justiça buscando obter informações privilegiadas da delação de Cid.
“E não é demais explicitar que essa diligência complementar se mostra necessária para a devida apuração dos fatos, pois Mauro Cid não trouxe aos autos provas que corroborassem suas acusações em face do general Braga Netto, justamente nos pontos de divergência acima expostos”, argumentou a defesa do ex-candidato a vice, liderada pelo advogado José Luís Oliveira Lima.
Como publicou a colunista Bela Megale, os advogados de Braga Netto também pretendem apresentar provas de que Cid permaneceu durante toda a reunião na casa do general em novembro de 2022 e não deixou o encontro no momento da discussão sobre “medidas operacionais”, como sustentou o tenente-coronel na sua delação.
Hoje de lados opostos no banco dos réus, os dois conviveram de perto durante o governo Jair Bolsonaro. Na condição de ajudante de ordens, Mauro Cid manteve acesso privilegiado ao presidente e o acompanhava em reuniões de alta cúpula.
Já Braga Netto ocupou cargos chaves na administração bolsonarista como os ministérios da Casa Civil e o da Defesa. Na passagem por Brasília, construiu uma relação de tamanha confiança com o então presidente a ponto de Bolsonaro escolhê-lo como companheiro de chapa em 2022 – contrariando a pressão do Centrão, que preferia Tereza Cristina (PP), à época ministra da Agricultura.
MALU GASPAR (O Globo) – Edição: Montedo.com
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