Perfil do Instagram investigado no STF com críticas a delação é vinculado a email de Mauro Cid

 

Militar nega que tenha usado conta na rede social; documento da Meta reforça suspeita

 

Cézar Feitoza
Brasília – Um documento enviado pela Meta ao STF (Supremo Tribunal Federal) mostra que o perfil no Instagram @gabrielar702 foi aberto em 19 de janeiro de 2024 em email vinculado ao tenente-coronel Mauro Cid.

O email do Gmail foi criado pelo militar em 2005, no início de sua carreira como oficial do Exército. O mesmo endereço já foi citado em outras investigações contra o tenente-coronel, como a da venda dos presentes de Estado recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A resposta da Meta, que é proprietária da plataforma, reforça a suspeita de que Mauro Cid era o dono do perfil na rede social que manteve contato com o advogado Luiz Eduardo Kuntz sobre detalhes de sua delação premiada com a Polícia Federal.

O tenente-coronel negou ao Supremo a titularidade da conta. “Esse perfil não é e nunca foi utilizado por Mauro Cid, pois, ainda que seja coincidente com o nome de sua esposa, com ela não guarda qualquer relação”, disse a defesa de Cid.

O uso da conta no Instagram ficou conhecido após o chefe da equipe de defesa de Bolsonaro, Celso Vilardi, ter perguntado ao militar durante depoimento em 9 de junho se havia usado o perfil para conversar com amigos.

Cid disse que não tinha usado o perfil e que o desconhecia. Na última semana, porém, Kuntz apresentou ao STF a íntegra das conversas que supostamente manteve com Mauro Cid de janeiro a março de 2024 por meio da rede social.

O perfil da rede social enviou mensagens, em primeira pessoa, com críticas ao processo de delação, alegando que se sentiu pressionado pela PF em depoimentos e que os investigadores teriam um objetivo preestabelecido de prender Bolsonaro.

No diálogo, Cid supostamente conta detalhes de seus depoimentos à Polícia Federal e faz desabafos sobre a falta de apoio de seus antigos aliados.

“O mais foda é sentir que eu estou ferrando todo mundo”, diz uma das mensagens. “Fruto de uma perseguição que eu não tive maldade que iria acontecer.”

O documento enviado pela Meta mostra ainda que a conta vinculada a Mauro Cid foi aberta às 19h24 de 9 de junho de 2025 —momento em que o militar estava no STF em audiência de depoimentos dos réus da trama golpista.

Diferentemente de todos os casos anteriores, a conta foi acessada no dia do depoimento por um dispositivo com IP que indica a localização da Alemanha. Um minuto antes, o email de Cid foi aberto por um computador com IP do Reino Unido.

Os dados sinalizam um possível uso de VPN para acessar as contas vinculadas a Cid, que pode ter sido alvo de um ataque hacker após a descoberta do perfil que mantinha no Instagram.

As informações foram enviadas pela Meta na última semana ao STF. Elas foram solicitadas pelas defesas de Cid, Braga Netto e Jair Bolsonaro, para esclarecer se as mensagens trocadas pelo perfil suspeita seriam realmente do delator.

Os documentos estavam sob sigilo até esta segunda-feira (23), quando o ministro Alexandre de Moraes decidiu torná-los públicos.

A petição da Meta levanta indícios de que Cid tinha um grupo de mensagens no Instagram com o advogado Eduardo Kuntz, da defesa do réu Marcelo Câmara, e o advogado Paulo Bueno, da defesa de Jair Bolsonaro.

As 84 páginas do documento enviado pela empresa não detalham quais mensagens foram encaminhadas nos grupos, mas somente algumas movimentações no perfil supostamente utilizado por Cid.

Há uma conversa aberta entre Cid e uma de suas sobrinhas, que mora nos Estados Unidos. O documento ainda mostra que o perfil @historiacanhota enviou uma mensagem para o perfil vinculado ao militar minutos após a conta @gabrielar702 ser citada na audiência do STF.

“Coe Mauro Cid”, disse o perfil. Não há registro de resposta do militar.

A conta associada a Cid tinha poucos seguidores e nenhuma foto publicada. Ela foi excluída do Instagram após a defesa de Bolsonaro torná-la conhecida. A resposta da Meta não esclarece quando o perfil foi retirado do ar.
FOLHA – Edição: Montedo.com

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