Geopolítica pesa: como a perda do contrato na Polônia afeta a Embraer e o Brasil
Por Ricardo Fan, 30 de junho de 2025
A Embraer, gigante brasileira do setor aeroespacial, sofreu um revés significativo na Polônia, onde perdeu um contrato para a Airbus na aquisição de aeronaves militares, conforme reportado pela Bloomberg Línea. A escolha do governo polonês pelo C295 da Airbus, em vez do cargueiro C-390 Millennium da Embraer, reflete não apenas questões técnicas, mas também o peso da geopolítica em decisões de defesa.
Cruzando com a análise anterior do DefesaNet (“Embraer e Polônia: Uma análise da nova fronteira aeroespacial da empresa brasileira na Europa“), este artigo explora os motivos da decisão polonesa, os impactos para a Embraer e o Brasil, e o papel da política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente sua aproximação com Vladimir Putin, nesse desfecho.
A decisão polonesa: fatores técnicos e geopolíticos
A licitação para modernizar a frota militar polonesa colocou o C-390 Millennium da Embraer em competição direta com o C295 da Airbus. Apesar das vantagens técnicas do C-390, como maior capacidade de carga e versatilidade, a Polônia optou pela continuidade com o C295, já integrado em sua frota. Essa escolha reduz custos de treinamento, manutenção e logística, fatores críticos em decisões de defesa.
Além disso, a Airbus, como empresa europeia, provavelmente ofereceu acordos de offset mais vantajosos, envolvendo parcerias com a indústria local polonesa. No entanto, o fator determinante, segundo a Bloomberg Línea, foi a geopolítica.
Como membro da OTAN e da União Europeia, a Polônia prioriza fornecedores alinhados com seus interesses estratégicos, especialmente em um contexto de tensão regional devido à guerra na Ucrânia. A decisão reflete a preferência por fortalecer laços com a Europa e os Estados Unidos, em detrimento de parcerias com países percebidos como menos alinhados, como o Brasil.

A sombra da política externa brasileira
A análise do DefesaNet de 2023 destacava a Polônia como uma “nova fronteira” para a Embraer, enfatizando o potencial do C-390 para conquistar mercados do Leste Europeu. Contudo, a aproximação do presidente Lula com a Rússia, marcada por encontros com Vladimir Putin em fóruns como o BRICS e uma postura de “neutralidade” no conflito ucraniano, pode ter influenciado a percepção polonesa. A Polônia, que enfrenta ameaças diretas devido à sua proximidade com a Ucrânia, é particularmente sensível a parceiros que mantenham relações com Moscou.
Embora não haja evidências diretas de que a relação Lula-Putin foi o fator decisivo, a política externa de não alinhamento do Brasil pode ter gerado desconfiança. Declarações de Lula que evitam condenar explicitamente a Rússia ou que defendem uma postura equidistante contrastam com a necessidade polonesa de alinhamento claro com a OTAN. Nesse cenário, a Airbus, sediada na Europa, representou uma escolha mais segura e alinhada aos interesses estratégicos de Varsóvia.

Impactos para a Embraer
A perda do contrato polonês é um obstáculo para a expansão da Embraer na Europa, um mercado estratégico para o C-390. O cargueiro brasileiro já conquistou contratos em países como Portugal, Hungria, Coreia do Sul e Áustria, mas a exclusão da Polônia limita o potencial de penetração no Leste Europeu, onde a modernização de frotas militares é uma prioridade. Financeiramente, o impacto é significativo, considerando que contratos de defesa envolvem valores na casa de centenas de milhões de dólares, além de acordos de manutenção de longo prazo.
Apesar disso, a Embraer mantém uma posição sólida globalmente. O sucesso do C-390 em outros mercados demonstra sua competitividade, e a empresa continua a investir em inovação e parcerias internacionais. A perda na Polônia, embora relevante, não compromete a trajetória de crescimento da Embraer, mas destaca a necessidade de estratégias que mitiguem riscos geopolíticos em futuras licitações.

Impactos para o Brasil
Para o Brasil, a decisão polonesa tem implicações econômicas e diplomáticas:
- Econômicas: A Embraer é um pilar da indústria brasileira, gerando empregos, divisas e tecnologia. A perda do contrato reduz oportunidades de exportação e transferência de tecnologia, impactando a balança comercial e a visibilidade do setor aeroespacial brasileiro.
- Diplomáticas: A escolha da Polônia expõe os desafios da política externa de Lula. A tentativa de equilibrar relações com potências como Rússia e China, enquanto mantém laços com o Ocidente, pode gerar desconfiança em parceiros estratégicos da OTAN. Isso reforça a percepção de que o Brasil, sob Lula, não é um aliado totalmente confiável em contextos de defesa.
A perda do contrato da Embraer para a Airbus na Polônia reflete a complexidade do mercado global de defesa, onde fatores técnicos competem com pressões geopolíticas. Para a Embraer, o revés limita sua expansão na Europa, mas não compromete sua competitividade global. Para o Brasil, a decisão destaca os desafios de uma política externa de não alinhamento em um contexto de tensões internacionais.
A postura de Lula em relação à Rússia, embora não seja o único fator, provavelmente influenciou a percepção polonesa, sublinhando a necessidade de o Brasil calibrar sua diplomacia para proteger interesses estratégicos como os da Embraer. O caso serve como um alerta: em um cenário global polarizado, decisões diplomáticas podem ter impactos diretos na economia e na indústria nacional.
Fontes:
- Bloomberg Línea: “Embraer Perde Contrato para a Airbus: Geopolítica Desempenha um Papel Importante” (https://www.bloomberglinea.com.br/negocios/embraer-perde-contrato-para-a-airbus-geopolitica-desempenha-um-papel-importante/)
- DefesaNet: “Embraer e Polônia: Uma Análise da Nova Fronteira Aeroespacial da Empresa Brasileira na Europa” (https://www.defesanet.com.br/demb/embraer-e-polonia-uma-analise-da-nova-fronteira-aeroespacial-da-empresa-brasileira-na-europa/)
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