Retirada, que encerra 65 anos de presença do Exército francês no Senegal, ocorre após medidas semelhantes em todo o continente, onde as ex-colônias têm se afastado de Paris
Em uma cerimônia solene, a França entregou seu aeródromo e suas últimas bases a autoridades senegalesas nesta quinta-feira(17), encerrando assim sua presença militar permanente na África Ocidental e Central.
A retirada, que encerra 65 anos de presença do Exército francês no Senegal, ocorre após medidas semelhantes em todo o continente, onde as ex-colônias têm se afastado de Paris.
Cerca de 350 soldados franceses, encarregados principalmente de operações conjuntas com o Exército senegalês, deixaram o país após um processo de retirada iniciado em março.
A cerimônia de entrega foi realizada nesta quinta-feira na capital Dacar. O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Senegal, general Mbaye Cissé, e o general Pascal Ianni, chefe do Comando do Exército da França na África, organizaram uma entrega simbólica das chaves do “Camp Geille”, a maior instalação militar francesa no Senegal.
Para o chefe do Estado-Maior de Senegal, a cerimônia desta quinta marca “um importante ponto de inflexão no longa e rica história militar entre nossos dois países” e acrescentou que o Exército senegalês “está comprometido a trabalhar para o estabelecimento efetivo de uma parceria eficiente e equilibrada, baseada no respeito mútuo e na soberania de cada parte”.
O general Pascal Ianni destacou “a relação especial e essencial para os países da região” entre os exércitos francês e senegalês e declarou estar “orgulhoso do trabalho realizado”.
“Estamos realizando uma mudança estrutural em nossa presença, uma mudança que não diminui em nada os sacrifícios que nossos irmãos de armas na África fizeram ontem por nossos respectivos interesses, nossa segurança comum e nossos valores compartilhados, quando a França interveio em diversas ocasiões a pedido de seus aliados africanos”, lembrou.
Juntas militares hostis
Após sua independência em 1960, o Senegal tornou-se um dos mais fiéis aliados africanos da França, acolhendo tropas francesas ao longo de sua história.
Mas quando Bassirou Diomaye Faye assumiu a presidência em 2024, exigiu que a França retirasse suas tropas até 2025 e, durante sua campanha eleitoral, garantiu que trataria a França como mais um aliado.
“O Senegal é um país independente e soberano, e a soberania não pode ser conciliada com a presença de bases militares”, declarou Faye na época.
O líder africano reforçou que seu país continuará cooperando com Paris, uma forma de se distanciar de outras ex-colônias, como Burkina Faso, Mali e Níger, que são governadas por juntas militares e cessaram essa colaboração.
Faye também instou Paris a se desculpar pelas atrocidades coloniais, entre elas, o massacre de tropas africanas em 1º de dezembro de 1944, quando lutavam pela França na Segunda Guerra Mundial.
Diante das crescentes críticas à sua presença militar por governos africanos, Paris fechou ou reduziu suas bases no continente. Em fevereiro, devolveu a base de Kossei, no Chade, seu último reduto militar na região conflituosa do Sahel.
Golpes de Estado em Burkina Faso, Níger e Mali, entre 2020 e 2023, levaram militares ao poder. Todos romperam relações com a França e recorreram à Rússia para combater a insurgência jihadista que assola o Sahel há uma década.
A República Centro-Africana, ex-colônia francesa para a qual o Kremlin enviou mercenários, também exigiu a retirada de Paris.
Apenas Djibuti, uma pequena nação no Chifre da África, abrigará uma base militar francesa permanente com cerca de 1.500 militares, que a França pretende usar como quartel-general militar para a África.
AFP
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