Guerra com drones evolui no mundo e expõe burocracias e obstáculos para as forças armadas dos EUA

 

Israel e Ucrânia usam drones de maneiras ousadas, o que ajudou o Pentágono a perceber a necessidade de novas tecnologias

 

Julian E. Barnes e Eric Schmitt (The New York Times)
O Pentágono tem trabalhado para reforçar as defesas contra drones em bases no exterior nos últimos 18 meses, depois que três reservistas do Exército foram mortos em um ataque de uma milícia apoiada pelo Irã a um posto avançado dos EUA na Jordânia, no início do ano passado.

Mas, nos últimos meses, as Forças Armadas dos EUA perceberam uma vulnerabilidade maior, já que tanto Israel quanto a Ucrânia atacaram adversários com drones “contrabandeados” para dentro das linhas inimigas.

O uso audacioso e criativo de drones por uma agência de inteligência israelense para articular ataques de dentro do Irã, e a chamada Operação “Teia de Aranha” da Ucrânia, que derrubou bombardeiros estratégicos russos com drones lançados de dentro da Rússia, deixaram claro que a ameaça às Forças Armadas dos EUA não é apenas no exterior, mas também em casa.

As empresas de defesa americanas tentam promover novas tecnologias que, segundo elas, podem interceptar drones de forma mais eficaz. As empresas torcem para que os bilhões de dólares que o Pentágono planeja investir em defesa antimísseis — o chamado programa “Domo dourado” — também sejam usados para construir novas defesas contra drones.

Algumas novas tecnologias não visam derrubar drones um por um, mas usar a chamada “energia direcionada”, incluindo micro-ondas de alta potência, para derrubar grandes enxames de drones de uma só vez. Os militares realizaram pelo menos dois testes do novo sistema de micro-ondas, incluindo um no Oriente Médio e outro no Pacífico, e preparam o terreno para um investimento maior do Pentágono.

Os líderes da Epirus, empresa desenvolvedora da defesa por micro-ondas, alertaram que o surgimento de novos tipos de drones são uma ameaça para as Forças Armadas dos EUA, que enfrentam uma “guerra de guerrilha de máquinas”, um estilo de combate estranho à maneira tradicional de pensar do Pentágono.

Andy Lowery, diretor executivo da Epirus, disse que a guerra com drones entre a Rússia e a Ucrânia evoluiu a uma velocidade impressionante.

“O que vimos na Rússia vai se repetir aqui”, disse ele. “A Operação Teia de Aranha deve ser um verdadeiro alerta para nós, para o mundo inteiro, e é muito, muito sério.”

A Ucrânia, com a ajuda dos EUA, investiu em tecnologia de drones e desenvolveu novos tipos de drones que podem ser usados contra navios, aviões e tanques. Autoridades americanas estimam que, nos últimos meses, os drones ucranianos causaram cerca de 70% das baixas russas.

Durante a Operação Teia de Aranha, a agência de inteligência da Ucrânia contrabandeou drones para dentro da Rússia para atacar várias bases aéreas ao mesmo tempo, destruindo um grande número de bombardeiros estratégicos russos. O ataque destacou a eficácia de drones relativamente baratos e fáceis de esconder contra forças militares tradicionais. “Estamos observando boquiabertos a rapidez com que os ucranianos se adaptam às novas tecnologias”, disse Lowery.

A Rússia usou seus próprios drones e outros fabricados pelo Irã para aterrorizar as tropas ucranianas e a população civil do país. Os drones iranianos têm sido usados por milícias apoiadas por Teerã, não apenas no ataque na Jordânia que matou os reservistas do Exército dos EUA, mas também na Síria, no Iraque e no Iêmen.

E o uso de drones contrabandeados para o Irã por Israel em seu ataque inicial ao programa nuclear do país no mês passado mostrou a rapidez com que as novas tecnologias estão se espalhando pelo mundo.

“Este é um problema do tipo 11 de setembro, e ainda operamos com uma mentalidade de 10 de setembro”, disse Christian Brose, diretor de estratégia da Anduril, uma empresa de defesa que fabrica equipamentos para as Forças Armadas dos EUA detectarem e destruírem drones adversários. “No dia seguinte a um ataque catastrófico, haverá uma série de evidências de que deveríamos ter previsto isso”.

Autoridades do Pentágono insistem que levam a ameaça a sério e estão fazendo investimentos para melhorar as defesas.

Comandantes americanos, especialmente no Oriente Médio, tomaram medidas nos últimos anos para construir o que os militares chamam de rede de defesas em camadas, com dispositivos de interferência, mísseis e outros sistemas, para repelir ataques hostis de drones, foguetes e mísseis.

Esses esforços se aceleraram depois que três reservistas do Exército foram mortos em janeiro de 2024 em um posto avançado de logística remoto no nordeste da Jordânia, a chamada Torre 22. Os drones foram disparados contra a base por milícias apoiadas pelo Irã.

Desde então, as forças armadas fizeram “melhorias consideráveis em todas as áreas”, disse o almirante Charles B. Cooper II, indicado pelo presidente Trump para ser o próximo chefe do Comando Central do Pentágono, aos senadores no mês passado.

“Estamos muito à frente de onde estávamos antes” do ataque na Jordânia, disse o almirante Cooper. “Dito isso, nunca ficaria satisfeito por termos a máxima prontidão.”

Traços de fogo iluminam o céu enquanto as forças de segurança ucranianas tentam abater drones russos que se aproximam de Kiev, na Ucrânia, em 10 de junho de 2025 Foto: Lynsey Addario/The New York Times

Mas Brose e outros afirmaram que a ameaça não se limita às bases no exterior. Em dezembro de 2023, drones de vigilância sobrevoaram uma base da Força Aérea na Virgínia, onde estavam estacionados aviões F-22.

“Alguém acredita que, se um país quisesse fazer conosco o que os ucranianos fizeram com a Rússia, não teria capacidade suficiente para ter sucesso?”, questionou Brose. “Achamos impossível um adversário disposto a isso não conseguir introduzir drones no país?”

Lowery, diretor executivo da Epirus, observou que o Pentágono poupou as defesas contra drones dos cortes generalizados anunciados no início deste ano.

Em audiências no Capitólio no mês passado, o secretário de Defesa Pete Hegseth foi questionado repetidas vezes por legisladores republicanos e democratas sobre a vulnerabilidade dos Estados Unidos a ataques com drones.

Hegseth disse que “drones mais baratos, descartáveis e disponíveis comercialmente, com pequenos explosivos, representam uma nova ameaça”.

Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, em um evento anunciando o programa de defesa de mísseis ‘Domo de Ouro’ no Salão Oval da Casa Branca, em Washington, em maio de 2025 Foto: Eric Lee/The New York Times

Hegseth disse ter se reunido com o general Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto, e assessores de alto escalão logo após os ataques ucranianos para garantir que as forças militares baseadas nos Estados Unidos e no exterior estivessem protegidas.

O secretário aprovou a criação de uma nova organização, liderada pelo Exército, para lidar com a guerra com drones e medidas contra drones, disse o general James Mingus, vice-chefe do Estado-Maior do Exército, em uma conferência em Washington na semana passada.

A organização é inspirada em uma agência que o Pentágono formou há duas décadas para combater dispositivos explosivos improvisados que insurgentes usavam contra as tropas americanas no Iraque e no Afeganistão.

O Exército supervisiona a defesa contra drones para as forças armadas. Mas os críticos das abordagens anteriores do Exército afirmam que suas defesas contra drones são baseadas em tecnologia mais antiga e não são suficientemente adaptáveis, dada a rapidez com que a ameaça dos drones evoluiu no campo de batalha na Ucrânia.

Novas tecnologias podem detectar e identificar drones que se aproximam e, então, derrubá-los com mais eficiência. A tecnologia mais antiga, dizem os críticos, é ineficaz na identificação de drones, incluindo ameaças mais graves e imediatas. Uma defesa robusta contra drones requer várias maneiras de derrubá-los, afirmam especialistas em defesa.

A Anduril, que tem contratos com o Comando de Operações Especiais e o Corpo de Fuzileiros Navais, possui um sistema de combate a drones que combina métodos de detecção, incluindo câmeras e radares, com várias maneiras de derrubá-los, incluindo abatê-los e interferir em seus sinais.

Os defensores dessas tecnologias dizem que as inovações mostram que o governo não precisa inventar sistemas anti-drones, mas simplesmente adotar novas tecnologias de maneira mais rápida. As empresas desenvolvedoras dessas novas tecnologias reclamam que as regulamentações governamentais impedem o desenvolvimento.

Lowery comparou a ameaça emergente dos drones a uma cena famosa de Star Wars.“Não estamos pensando no fato de que um piloto de X-Wing lançou uma pequena bomba no meio da Estrela da Morte e explodiu tudo em pedacinhos”, disse Lowery.
THE NEW YORK TIMES (ESTADÃO)

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