Nas relações internacionais, a função do poder é fazer prevalecer o interesse nacional de um Estado sobre o dos outros
Pinto Silva Carlos Alberto [1]
- PRÓLOGO
Os países se movem em função de seus interesses e alcançam o sucesso de acordo com sua capacidade e vontade de exercer poder.
Nas relações internacionais, a função do poder é fazer prevalecer o interesse nacional de um Estado sobre o dos outros.
A estratégia americana, na atual conjuntura, parece ser desconstruir velhos paradigmas ideológicos, questionando antigas alianças e lealdades.
Entre a elite norte-americana, seja republicana ou democrata, existem dois consensos fundamentais, o da hegemonia e o do poder. “Em razão disso, os EUA buscam incessantemente manter sua liderança econômica e militar no sistema mundial”.[2]
As principais causas dos conflitos na atualidade são econômicas, ganhando força a geoeconomia, que enfatiza o uso do poder econômico como instrumento de política nacional.
“O sucesso ou fracasso de um Estado depende de sua habilidade em fortalecer alianças e conquistar novos amigos.”[3]
2. A “DOUTRINA HILLARY CLINTON” – SMART POWER. PARA COMPARAÇÃO COM A ATUAL CONJUNTURA
É relevante tecer breves comentários sobre a “Doutrina Hillary Clinton”[4] – Smart Power – Poder Inteligente (PI).
A estratégia da política externa, defendida por Hillary Clinton, sinaliza usar todos os elementos do Poder Nacional em uníssono. SMART POWER – Poder Inteligente (PI) significa escolher a combinação certa de instrumentos diplomáticos, econômicos, militares, políticos, jurídicos e culturais para cada situação.
O objetivo do PI, nesse contexto, e do seu foco expandido em tecnologia, parceiros públicos privados, energia e outras áreas do Departamento de Estado, é complementar os instrumentos e as prioridades diplomáticas mais tradicionais, não as substituir.
O conceito (ou estratégia) foi utilizado para reduzir vendas de petróleo iraniano (Área de energia), no emprego de instrumentos financeiros e parcerias do setor privado para impor sanções rigorosas e excluir o Irã da economia global, no uso da mídia social para comunicação diretamente com o povo iraniano e na aplicação de ferramentas de alta tecnologia para ajudar aos dissidentes a escaparem da repressão governamental. Nada menos que o atual Conflito em Zona Cinza.
3. REALISMO POLÍTICO
No cenário internacional, o Realismo Político [5] sugere que os estados agem principalmente em busca de seus próprios interesses, muitas vezes em detrimento da cooperação e da moralidade. Essa perspectiva tem sido fundamental para entender as dinâmicas de poder e as políticas externas dos estados ao longo da história.
Para o Realismo Político, as relações internacionais são definidas pela condição anárquica da política internacional e pela desigual distribuição de poder na estrutura do sistema internacional. “Os atores fundamentais do sistema são os detentores do poder, ou seja, os Estados.“
4. GUERRA E PAZ.
“Partimos do conceito de que guerra e paz, na atual conjuntura, são parte do mesmo fluxo das relações internacionais.”[6]
O mundo agora está em um estado de luta incessante, a paz é relativa, não há inimigo e sim estados com ações hostis em defesa dos seus interesses.[7]
É um novo campo de batalha, de modo que é preciso afastar o foco do conflito do domínio da arte da guerra convencional e isso pode ser feito ampliando o espectro do conflito, para incluir vários elementos do poder nacional.
A situação vivida na atual conjuntura brasileira é de uma Guerra Política Permanente [8] e Informacional[9], isto é, o uso de todos os meios de disponíveis de uma nação para alcançar objetivos nacionais sem entrar em guerra. “Não há inimigo e sim estados com ações hostis em defesa dos seus interesses.”[10]
Conflito na Zona Cinza:[11] De acordo com Hal Brands “é uma atividade coercitiva e agressiva por natureza, mas deliberadamente concebida para permanecer abaixo dos limites de um conflito militar convencional”, ou seja, “a Zona Cinza se caracteriza por uma intensa competição política, econômica, informacional e militar, mais acirrada que a diplomacia tradicional, porém inferior à guerra convencional”.[12]
5. O CONTEXTO DA SANÇÃO AMERICANA
Um fator primordial foi e é a grande participação do BRICS na economia mundial, a dimensão, e população dos países membros. O Grupo simboliza não só uma importância econômica, mas também política, podendo ser um contraponto à hegemonia dos Estados Unidos. [13] É um ator que mostra uma alternativa em relação ao G7, os países mais desenvolvidos da União Europeia e da América do Norte.
As sanções econômicas impostas pelo presidente americano ao Brasil são parte de uma estratégia mais ampla de política externa. Essas sanções podem ser vistas como uma forma de pressão para que o Brasil alinhe sua Política Externa com os interesses dos EUA.
6. CONCLUSÃO
“A principal preocupação estratégica do Brasil é, inexoravelmente, relacionada à economia.” [14]
A demanda do país por mais autonomia nas relações internacionais deve ter em conta seus interesses estratégicos e não deve atrelar-se a estratégias geopolíticas de outros Estados.
Nesse contexto de Guerra Política Permanente, a paz é um conceito dinâmico, moldado pelas mudanças nas estratégias e objetivos nacionais, e pela capacidade dos estados de adaptar-se e responder às ameaças e oportunidades que surgem.
Bravatas desafiadoras quando não se dispõe de meios para garanti-las, atendem a uma parcela do público interno, porém, a história, particularmente a recente, registra que não é um bom caminho e suas consequências danosas prejudicam seus autores, seu entorno e o país que dirige.
A “Reciprocidade” como resposta estratégica a uma ação de outro Estado, não deve ser usada se não tiver um objetivo a ser atingido. [15]
Na maioria das situações, aplicar a mesma ideia seria, no melhor dos casos, irrelevante”.[16]
[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA.
[2] “Brasil – Uma Estratégia De Superação. – DefesaNet”
[3] (“Brasil – Uma Estratégia De Superação. – DefesaNet”)
[4] Do livro “Escolhas Difíceis” Hillary Clinton
[5] Medeiros, Nicolau Maquiavel – site Sabedoria Política.
[6] (“Guerra de nova geração -Brasil e a Paz relativa na Guerra Política …”)
[7] (“Guerra de nova geração -Brasil e a Paz relativa na Guerra Política …”)
[8] O termo “Permanente”, por sua vez, não possui relação direta com a duração das guerras. Diz respeito, na verdade, à condição assumida pelo Estado de que qualquer ação de política externa, em defesa de interesses nacionais, é um “conflito na zona cinza
[9] Guerra de Narrativas.
[10] (“A Defesa do Estado na Guerra Política Moderna – DefesaNet”)
[11] “Guerra Política”.
[12] (“Guerra de nova geração -Brasil e a Paz relativa na Guerra Política …”)
[13] (“BRICS cresce acima da média mundial e se consolida como um contraponto …” Por Mayara Souto.)
[14] (“Quebra da Estabilidade Estratégica na América do Sul”)
[15] (“Terço Da Transformação”)
[16] (“Terço Da Transformação”)
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