A disputa entre Donald Trump e Elon Musk revela a grande dependência do exército dos EUA das tecnologias da SpaceX e da rede Starlink.
Fabio Lucas Carvalho
A disputa entre Donald Trump e Elon Musk expôs a grande dependência dos Estados Unidos em relação à SpaceX de Elon Musk. Essa empresa se tornou essencial para áreas críticas do governo americano, especialmente para as Forças Armadas.
Trump sugeriu cancelar contratos e subsídios de empresas de Musk. O empresário respondeu, em um primeiro momento, ameaçando reduzir serviços cruciais da SpaceX, mas depois recuou.
Trump usou a plataforma Truth Social para criticar os contratos governamentais de Musk.
Ele afirmou que uma forma de economizar bilhões seria cortar esses subsídios. Musk, por sua vez, atacou as propostas econômicas do governo, incluindo o projeto “Big Beautiful Bill”, que pode aumentar o déficit em US$ 2,4 trilhões, segundo o CBO.
Depois de assumir um cargo temporário para liderar o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), Musk renunciou na semana passada.
O bilionário publicou no X que poderia desativar a cápsula Dragon. Essa família de veículos é vital para transportar astronautas à Estação Espacial Internacional (EEI).
A NASA depende dela, já que as relações com a Rússia, também presente na estação, estão em baixa desde a invasão da Ucrânia.
O impacto dessa disputa ainda é incerto. A possível ruptura de contratos com a SpaceX pode afetar a segurança nacional dos EUA, pois o país utiliza seus serviços tanto em lançamentos quanto em comunicação estratégica.
O domínio nos lançamentos espaciais
A SpaceX é hoje líder absoluta no mercado global de lançamentos orbitais.
Em 2024, foram 134 lançamentos com os foguetes Falcon 9 e Falcon Heavy.
Isso representa 84% de todos os satélites colocados em órbita no mundo, segundo o American Enterprise Institute.
O governo americano conta diretamente com essa estrutura. Em abril, a Força Espacial dos EUA firmou contrato de quase US$ 6 bilhões com a SpaceX para 28 lançamentos.
A ULA e a Blue Origin receberam valores menores para menos missões, e a diferença de custos é evidente. A reutilização dos foguetes da SpaceX garante preços muito mais competitivos.
Um segmento estratégico é o suporte ao Escritório Nacional de Reconhecimento (NRO).
Esse órgão, ligado ao Departamento de Defesa e à CIA, é responsável pelos satélites de inteligência. Somente este ano, cinco lançamentos da SpaceX foram dedicados ao NRO, além de seis no ano anterior. A empresa também já transportou cargas secretas, como os mini-ônibus X-37B.
Outro projeto em andamento é o “Rocket Cargo”, que visa usar a Starship para enviar carga e até pessoas rapidamente de um ponto a outro do planeta via espaço.
Essa tecnologia suborbital é vista como uma alternativa futurista para operações militares de emergência.
O papel da Starlink e Starshield
Além dos foguetes, a SpaceX domina as comunicações via satélite.
A constelação Starlink se tornou vital para as Forças Armadas dos EUA. A versão governamental, chamada Starshield, fornece suporte direto a operações críticas.
Mark Kitz, chefe do programa de comunicação do Exército, disse que a presença de terminais Starshield é constante nas bases e operações.
Desde 2020, o Exército tem usado esses recursos para integrar novos sistemas durante testes de modernização.
Os terminais da Starlink e da Starshield estão instalados em aeronaves, navios de guerra e até nos helicópteros presidenciais VH-92 Patriot.
O porta-aviões USS Abraham Lincoln é outro exemplo. A tecnologia permite conexão estável e segura, mesmo em missões sensíveis.
Esse sistema é valioso por ser menos vulnerável que as redes tradicionais. Ele utiliza uma grande constelação de satélites em órbita baixa, o que dificulta ataques e falhas.
Essa robustez é importante diante das ameaças antissatélite cada vez mais frequentes. O governo americano já reconhece o espaço como um futuro campo ativo de guerra.
Uso em conflitos e operações globais
A rede da SpaceX não serve apenas aos EUA. A Ucrânia utiliza a Starlink para controlar veículos não tripulados, incluindo embarcações kamikaze.
As forças ucranianas também dependem da rede para manter suas comunicações no front de guerra.
Apesar da utilidade, Musk já restringiu o uso da Starlink em algumas situações, o que gerou críticas. Essa limitação mostrou como a dependência de uma empresa privada pode gerar riscos.
O governo americano monitora de perto essas questões para evitar problemas estratégicos.
Além das guerras, a rede é usada em ações de emergência. Operações policiais e missões de resgate também utilizam a Starlink em áreas com infraestrutura precária. Isso consolidou a SpaceX como uma peça-chave da comunicação moderna.
Capacidades secretas e radares avançados
A SpaceX não é apenas uma transportadora de satélites. A empresa está construindo sua própria rede de vigilância espacial para as Forças Armadas dos EUA.
Essa constelação serve para inteligência, reconhecimento e monitoramento de alvos móveis.
A tecnologia de radar com função GMTI permite diferenciar objetos estáticos de alvos em movimento.
Combinada com mapas SAR, que são imagens detalhadas do terreno, oferece dados valiosos para rastrear veículos e tropas. Essa capacidade é útil mesmo sob nuvens, fumaça ou durante a noite.
Com a expansão dessas funções, a SpaceX se posiciona como uma empresa única. Ela entrega tanto o transporte quanto a operação de sistemas complexos em órbita.
O que está em jogo
A tensão entre Trump e Musk pode afetar uma parte significativa da estrutura militar americana.
Cancelar contratos com a SpaceX significaria buscar alternativas mais caras e menos eficientes.
O país depende dos foguetes Falcon, da cápsula Dragon e da rede Starlink para manter operações seguras.
O mais importante é que a SpaceX construiu uma vantagem tecnológica difícil de igualar.
Nem mesmo gigantes como Boeing e Lockheed Martin têm o mesmo ritmo de inovação e custo-benefício. Por isso, qualquer ruptura seria um desafio estratégico.
A questão vai além do setor privado. A segurança nacional, a pesquisa espacial e as comunicações militares estão diretamente ligadas ao futuro da SpaceX. É um elo que, até agora, se mostrou essencial para o poder dos Estados Unidos.
A disputa entre Trump e Musk trouxe à tona um problema delicado. A dependência do governo dos EUA em relação à SpaceX cresceu a um ponto em que alternativas são poucas.
O risco de interromper serviços da empresa pode comprometer tanto as missões da NASA quanto a defesa do país.
A Dragon, os foguetes Falcon e a rede Starlink são hoje pilares estratégicos. Sem eles, a presença americana no espaço e em comunicações globais seria bem mais limitada.
Portanto, a relação entre governo e empresa precisa ser ajustada, apesar das tensões políticas, porque o impacto de uma ruptura seria profundo.
CPG – Edição: Montedo.com
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