França encerra presença militar de 60 anos no Senegal, mas mantém cooperação

Após mais de seis décadas de presença militar francesa contínua, as duas últimas instalações militares francesas no Senegal foram oficialmente entregues nesta quinta-feira (17), em uma cerimônia militar no Camp Geille, a maior base militar no centro de Dacar. O ato marca o fim da presença permanente do exército francês no país africano. A transição para a bandeira senegalesa tem grande valor simbólico.

(RFI) Ao som do hino nacional, a bandeira verde, amarela e vermelha do Senegal foi hasteada em Camp Geille, no lugar da bandeira francesa. Um símbolo e tanto, pois o local no coração da capital, no distrito de Ouakam, é a maior das seis bases remanescentes do Exército francês em Dacar, com cinco hectares. Também foi a última base militar francesa na África Ocidental a ser fechada — assim como o posto militar francês no aeroporto de Dacar —, sinalizando uma redefinição mais ampla da cooperação militar entre a França e a África.

O chefe do Estado-Maior do exército senegalês, General Mbaye Cissé, e o general Pascal Ianni, chefe do Comando do exército francês na África, ficaram lado a lado, de frente para a bandeira, antes da entrega simbólica de uma chave. O objeto representava a transferência da última base militar francesa para o comando senegalês.

“Este é um marco importante na longa e rica história de cooperação entre o Senegal e a França”, disse o general Mbaye Cissé, que mencionou a “nova doutrina de defesa” buscada pelas novas autoridades: uma parceria baseada na soberania de cada país.

Com a entrega da base francesa, o general Pascal Ianni falou sobre “uma nova etapa” e “uma mudança necessária” na cooperação militar. “Precisamos reinventar nossas parcerias com os jovens”, disse ele, e “agir de forma diferente, sem mais depender de uma base para isso”.

Para o Senegal, essa retirada marca o fim da presença permanente do exército francês no país desde a época colonial, como explica Mor Ndao, professor de história da Universidade Cheikh Anta Diop: “Esses elementos estão presentes no Senegal desde o século 19, desde o período colonial, e foram consolidados por 150 anos. O fato de isso estar sendo questionado é bastante simbólico. É um momento muito importante na história da cooperação militar entre a França e o Senegal”, disse o especialista.

Discussões iniciadas em 2022

A cooperação com o Exército francês evoluiu ao longo dos últimos 60 anos. Em 1960, quando o primeiro acordo de cooperação foi assinado, logo após a independência e até 2011, o Exército francês se comprometeu a apoiar “a construção do exército senegalês” e a defender o Senegal em caso de agressão externa. A partir de 2011, com a primeira grande redução na presença de tropas da França no Senegal, as forças francesas em Cabo Verde passaram a atuar como representantes no país, com foco em treinamento e educação conjuntos. Em maio, 350 soldados franceses e suas famílias ainda viviam nesse local de cinco hectares. As casas agora estão fechadas, aguardando a chegada do exército senegalês.

O fim da presença francesa no Senegal — que ocorre em um momento em que bases militares francesas também foram fechadas no Chade (janeiro de 2025) e na Costa do Marfim (fevereiro de 2025) — é resultado de negociações. Um “diálogo calmo e construtivo” iniciado com o Senegal em 2022, segundo o Exército francês, que já em 2021 identificava a necessidade de repensar sua presença militar na África. “Tínhamos um problema real de percepção”, disse uma fonte militar do lado francês. A saída dos militares franceses era uma exigência antiga da esquerda senegalesa e uma promessa de campanha do partido Pastef, atualmente no poder.

Como primeiro passo, em 2023, a França começou a reduzir o número de suas tropas presentes de forma permanente no país e se preparou para transferir algumas de suas bases. A transformação do Camp Geille — agora fechado — em um centro de treinamento franco-senegalês chegou a ser considerada, mas foi posteriormente descartada.

A cooperação continua

A chegada do partido Pastef ao poder, há pouco mais de um ano, e a solicitação do presidente, em dezembro, para que todas as bases militares estrangeiras no Senegal fossem fechadas, formalizaram o processo em andamento.

Em janeiro, uma comissão conjunta franco-senegalesa definiu o cronograma de entrega, iniciado em 7 de março. Quatro bases já foram transferidas e os dois últimos postos militares, um em Ouakam e outro no aeroporto, também serão entregues à bandeira senegalesa.

Atualmente, tanto autoridades francesas quanto senegalesas insistem que não se trata de uma ruptura, mas de “uma nova parceria”. A cooperação militar entre os dois países continuará, assim como o treinamento. No entanto, em vez de manter soldados franceses baseados em Dakar, eles serão enviados de Paris conforme as solicitações de treinamento. Vigilância marítima e combate ao crime cibernético estão entre os temas prioritários.

A entrega da última base francesa no Senegal marca o fim da presença permanente do Exército francês na África Ocidental. Restam apenas uma base franco-gabonesa em Libreville e uma base militar francesa em Djibuti.

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