Uma indignação e um alívio na cúpula militar com os interrogatórios dos kids pretos

 

Indignação foi pela afirmação de plano de prisão de ministros fazia parte de um trabalho da inteligência do Exército; alívio veio pelo veto do uso da farda pelos depoentes

Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura
Rio e Brasília – O
s interrogatórios da trama golpista no STF nesta segunda-feira trouxeram um motivo de indignação e outro de alívio para integrantes da cúpula das Forças Armadas que acompanham o processo a partir dos bastidores.

A indignação veio da afirmação do tenente-coronel Hélio Ferreira Lima de que o plano operacional “Luneta”, que previa a prisão de ministros do Supremo, fazia parte de um trabalho de inteligência desenvolvido na 6ª Divisão do Exército, em Porto Alegre.

Ferreira Lima é um dos vários réus formados nas Forças Especiais, a tropa de elite do Exército, também chamados de kids pretos. O “Desenho Operacional Luneta” foi encontrado em um pen drive apreendido na casa dele. Previa, entre outras ações, “neutralizar a capacidade de ação” de Alexandre de Moraes e a prisão de ministros considerados “geradores de instabilidade”. Mencionava ainda a criação de gabinetes de crise e a realização de novas eleições.

Ferreira Lima disse que o plano era “um cenário totalmente hipotético” que surgiu de uma conversa com o comandante dele, mas que depois foi abandonado.

Os generais do Alto Comando dizem que a versão é mentirosa.

“Ele não consultou ninguém. Atuou sozinho e quer arranjar uma justificativa”, diz um general de cinco estrelas sobre a versão de Ferreira Lima. “Não foi feita nenhuma demanda e mesmo que tivessem pedido algo, nunca seria uma ilegalidade.”

Na avaliação da cúpula militar, a estratégia dos kids pretos é empurrar para a instituição a responsabilidade por atos isolados de seus integrantes.

A iniciativa de comparecer fardados aos depoimentos, adotada por Ferreira Lima e o também tenente-coronel e kid preto Rafael Martins, fazia parte dessa estratégia, mas foi cortada de cara pelo ministro Alexandre de Moraes no início do interrogatório.

Moraes proibiu os dois de prestar depoimento usando farda, mas eles compareceram de uniforme e foram obrigados pelo juiz auxiliar do ministro a trocar de roupa antes de começar a falar – o que provocou o alívio entre os chefes militares.

A justificativa do juiz auxiliar foi a de que as acusações da investigação são voltadas “contra militares e não contra o Exército Brasileiro como um todo”.

Os generais avaliaram que a decisão ajuda a preservar a imagem da caserna, além de funcionar como antídoto para a estratégia de alguns investigados de tentar atrair as Forças para o epicentro do caso.

O veto ao uso da farda foi bem recebido até mesmo por militares que atuam na órbita bolsonarista e não costumam dispensar críticas às decisões de Moraes.

“É melhor os réus irem depor sem uniforme. Na minha opinião, isso preserva as Forças Armadas”, disse um general ouvido reservadamente pelo blog.

O uso de trajes militares em depoimentos já havia sido alvo de controvérsia em 2023, durante os depoimentos da CPI mista do 8 de Janeiro.

Em julho de 2023, o presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), criticou a postura do tenente-coronel Mauro Cid de prestar depoimento aos parlamentares usando farda, o que foi considerado pelo parlamentar como um “erro” e “ruim” para a imagem do Exército.

“Eu sou um entusiasta e uma pessoa que tem muita admiração pelo Exército, tenho falado isso repetidamente durante a CPMI. E acho que era melhor ter separado as coisas”, disse Maia à reportagem à época.

De acordo com um comunicado do Exército, Cid foi orientado pelo Comando do Exército a comparecer fardado à CPI do 8 de janeiro “pelo entendimento de que o militar da ativa foi convocado para tratar de temas referentes à função para a qual fora designado pela Força”.

Depois que fechou um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, homologado pelo STF em setembro de 2023, Cid passou a usar trajes civis em seus depoimentos, por orientação da sua equipe de defesa, como uma forma de demonstrar respeito à instituição.
O GLOBO – Edição: Montedo.com

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