O Brasil em uma encruzilhada geopolítica

A posição do governo Lula não é mais de neutralidade estratégica. Na prática, trata-se de um alinhamento enviesado com regimes autoritários, mascarado como pragmatismo, o que gera um custo crescente no sistema internacional

Araujo Vianna

O Brasil vive, em 2025, uma encruzilhada diplomática e econômica. Em meio a um sistema internacional cada vez mais polarizado entre democracias liberais (EUA, União Europeia) e potências autocráticas (China, Rússia, Irã), o país tenta sustentar uma política externa de “não alinhamento ativo”.

Na teoria, isso permitiria autonomia decisória. Na prática, porém, o Brasil tem demonstrado um alinhamento enviesado com regimes autoritários, colocando em risco suas relações históricas com o Ocidente e gerando impactos econômicos de curto e médio prazo.

Paralelamente, esse reposicionamento internacional tem servido como uma eficaz cortina de fumaça para desviar atenção de uma grave crise interna: a fraude bilionária contra aposentados do INSS.

A diplomacia do equívoco: nem neutra, nem independente

Desde 2023, o Brasil tem evitado se posicionar de forma clara diante de eventos que envolvem violações graves dos direitos humanos e da ordem internacional. O país se absteve de votar resoluções contra a invasão russa à Ucrânia e não aderiu a sanções internacionais. Ao mesmo tempo, estreitou laços com China, Irã, Venezuela e Rússia, dentro dos BRICS e de outros fóruns multilaterais alternativos.

Essa postura, apresentada como pragmática pelo Itamaraty, vem sendo percebida por diversos analistas como submissão aos interesses do eixo China-Rússia.

A retórica do presidente brasileiro, que já relativizou a responsabilidade russa na guerra e criticou a hegemonia ocidental, reforça a imagem de um país que se afasta de seu histórico compromisso com a democracia liberal e com os direitos humanos.

Impactos geoeconômicos: o preço da ambiguidade

Essa ambivalência geopolítica tem começado a gerar efeitos concretos:

  • Conflito Comercial com os EUA: Em 2025, os Estados Unidos impuseram tarifas de 50% a diversos produtos brasileiros, em resposta ao distanciamento diplomático e à aproximação com adversários geopolíticos. Setores como agronegócio, siderurgia e aviação foram diretamente afetados.
  • Risco no acordo Mercosul-União Europeia: As negociações estagnaram, com países como França e Alemanha questionando o compromisso do Brasil com normas ambientais e democráticas.
  • Fuga de Investimentos Ocidentais: A insegurança jurídica e institucional percebida por investidores da UE e dos EUA, somada à aproximação do Brasil a regimes instáveis, tem levado capitais a buscarem destinos mais previsíveis, como Chile, México ou Índia.

Ao mesmo tempo, o Brasil não obteve concessões reais da China ou da Rússia em contrapartida à lealdade diplomática: não há acordos comerciais robustos que compensem as perdas com o Ocidente, e o financiamento dos BRICS permanece limitado e condicionado.

A fraude do INSS: escândalo silenciado

Enquanto o governo ocupa a opinião pública com cúpulas, retóricas anti-imperialistas e disputas externas, uma crise silenciosa explode internamente. Relatórios recentes apontam uma fraude bilionária no sistema de concessão de aposentadorias do INSS, com envolvimento de servidores, intermediários e empresas de fachada.

Estima-se que mais de R$ 6,3 bilhões tenham sido desviados entre 2019 e 2024 por meio de descontos indevidos aplicados em aposentadorias e pensões do INSS, praticados por entidades privadas com apoio ou omissão de servidores públicos.

Milhões de beneficiários tiveram valores descontados sem autorização, em nome de associações de classe ou clubes de benefícios.

Apesar da gravidade e do número expressivo de vítimas, a resposta institucional foi inicialmente tímida: o governo federal limitou-se a notas técnicas e afastamentos administrativos discretos.

A CPMI do INSS, embora instaurada em 2025 após pressão da oposição, surgiu apenas após anos de inércia, evidenciando a fragilidade dos mecanismos de controle e a dificuldade em responsabilizar os envolvidos.

Cortina de fumaça e cálculo político

O uso da agenda internacional como forma de desviar atenção dos problemas internos é uma estratégia conhecida em regimes com déficit de transparência.

Ao projetar o Brasil como “porta-voz do Sul Global”, o governo tenta ocupar o noticiário com viagens, cúpulas e confrontos simbólicos com o Ocidente, enquanto omite ou dilui escândalos internos graves.

Essa tática, porém, tem limites. O custo econômico da postura ambígua no exterior pode se somar ao desgaste doméstico com escândalos mal explicados, gerando instabilidade política e fiscal.

O Brasil de 2025 corre o risco de perder relevância e autonomia real ao insistir em uma política externa que mistura oportunismo diplomático com falta de compromisso institucional.

A aproximação com regimes autoritários não está sendo compensada por ganhos econômicos tangíveis, enquanto o distanciamento do Ocidente já cobra seu preço em sanções, acordos travados e fuga de capitais.

Internamente, a gravíssima crise do INSS expõe um governo mais preocupado em controlar a narrativa do que em enfrentar a realidade. Sem correções, o país pode entrar em um ciclo de isolamento diplomático e colapso de credibilidade institucional.

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