Em um mundo digital tão complexo, a segurança não pode ser delegada a um único departamento, mas integrar todo o processo
Por Ticiana Amorim*
A máxima de que “segurança é um problema de TI” é ultrapassada e perigosa. Empresas que ainda operam sob esse paradigma estão fadadas a falhar — seja em proteger seus clientes, seja em inovar com agilidade. A verdadeira segurança nasce quando ela deixa de ser um requisito técnico e se torna um princípio cultural, compartilhado por todos os que tocam o produto, da concepção à entrega.
Na prática, isso significa que os engenheiros não podem ser os únicos guardiões da segurança. Se o time de produto não a incorporar desde o desenho da jornada do cliente, criaremos funcionalidades brilhantes, mas frágeis.
Se a operação não monitorar riscos em tempo real, as vulnerabilidades se tornarão crises. E se a governança não priorizar a segurança como parte da estratégia, a empresa estará somente cumprindo checklists, não construindo confiança.
Um exemplo concreto dessa abordagem integrada vem de um banco digital que revolucionou seu processo de desenvolvimento. Antes, as atualizações de segurança eram tratadas como etapas finais, gerando atritos entre os times de engenharia e compliance.
Ao adotar um modelo de “Security by Design”, eles passaram a incluir especialistas em segurança desde as primeiras reuniões de produto. O resultado? Novas funcionalidades, como pagamentos por biometria, foram lançadas 30% mais rápido, com vulnerabilidades identificadas e corrigidas ainda em fase de protótipo. A segurança deixou de ser um gargalo para se tornar um facilitador.
O desafio é equilibrar essa responsabilidade coletiva sem burocratizar o processo. Inovação e segurança são frequentemente vistas como forças opostas: uma exige velocidade, a outra, cautela. Mas essa dicotomia é falsa.
Empresas líderes entendem que a segurança bem implementada não trava a inovação — ela a potencializa. Quando todos os times internalizam práticas seguras, os ciclos de desenvolvimento aceleram, porque os riscos são mitigados antes de se tornarem obstáculos.
Outro exemplo claro está no open banking. A regulamentação exige padrões rígidos de proteção de dados, mas as fintechs que integraram segurança ao DNA de suas plataformas — desde a API até o atendimento ao cliente — foram as que melhor escalaram. Elas não precisaram retroadaptar seus sistemas; já estavam prontas.
Para alcançar esse estágio, no entanto, é preciso mais do que discursos. Exige treinamento contínuo, métricas transversais e, acima de tudo, liderança. O CEO deve ser o primeiro a tratar a segurança como prioridade estratégica, não como custo. Só assim criaremos um ecossistema onde a inovação não apenas sobrevive, mas prospera — porque está segura.
*Ticiana Amorim é CEO e fundadora da Aarin Tech-fin, empresa especializada em pix e embedded finance
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