Pesquisa revela adaptação genética inédita em animais expostos à radiação há quase 40 anos, abrindo caminho para novas tecnologias médicas e de defesa
Araujo Vianna – DefesaNet
Chernobyl, Ucrânia — Quase quatro décadas após o desastre nuclear de 1986, cães que vivem na zona de exclusão de Chernobyl apresentam um fenômeno biológico que intriga cientistas: resistência incomum ao câncer e mecanismos celulares que permitem sobreviver a um dos ambientes mais radioativos do planeta.
O estudo, publicado na Science Advances e conduzido por Gabriella J. Spatola e Timothy A. Mousseau, analisou 302 amostras de sangue de cães que habitam três áreas distintas:
- Usina Nuclear de Chernobyl
- Cidade de Chernobyl (15 km do epicentro)
- Slavutych (45 km do acidente, cidade construída após a evacuação)
Origem e adaptação das populações
Após o acidente de 26 de abril de 1986, grandes quantidades de césio-137, iodo-131 e outros materiais radioativos contaminaram mais de 2.600 km², forçando a evacuação de milhares de pessoas. Animais domésticos abandonados formaram matilhas que, sem interferência humana, se adaptaram ao ambiente hostil, convivendo com lobos, javalis e cavalos selvagens.
O levantamento genético identificou 15 linhagens distintas, com herança de raças como pastor alemão, boxer e rottweiler. Cães próximos à usina têm pouca diversidade genética, sugerindo origem em poucos indivíduos fundadores, enquanto cães de Slavutych exibem traços de raças domésticas modernas, possivelmente introduzidas nos últimos anos.
Mutações direcionadas, não aleatórias
Em vez de mutações caóticas típicas da exposição intensa à radiação, os pesquisadores encontraram alterações específicas em mais de 390 regiões do genoma, associadas a:
- Reparo avançado de DNA
- Resposta imunológica fortalecida
Tais características sugerem que a seleção natural favoreceu indivíduos mais resistentes à degradação celular e ao câncer. Pesquisas anteriores com lobos da região, conduzidas por Cara Love, já haviam apontado padrões semelhantes de resistência.
Impactos estratégicos e científicos
A descoberta pode ter aplicações diretas em:
- Oncologia — Desenvolvimento de novos métodos para prevenção e tratamento do câncer.
- Saúde ambiental — Estudos sobre resistência a ambientes poluídos e degradados.
- Exploração espacial — Preparação de astronautas para longas missões em Marte, onde a radiação e os recursos limitados representam desafios críticos.
Sobrevivência nas ruínas

Hoje, esses cães se alimentam de restos deixados por visitantes e encontram abrigo em estruturas industriais abandonadas. Longe de apenas resistirem, eles demonstram evolução ativa para prosperar em um cenário hostil.
O caso dos cães de Chernobyl ultrapassa o campo da biologia, oferecendo pistas estratégicas para operações militares em zonas contaminadas, desenvolvimento de contramedidas biomédicas e protocolos de sobrevivência em cenários de conflito nuclear ou desastres radiológicos.
Fonte: MSN
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