O general que as Forças Armadas esperam que seja poupado por Alexandre de Moraes

 

Cúpula militar entende que Heleno desempenho papel menor nos fatos investigados

 

Rafael Moraes Moura
Brasília
– O julgamento do chamado “núcleo crucial” da trama golpista é acompanhado com lupa pelas Forças Armadas, especialmente por conta da torcida de boa parte da caserna para a absolvição de ao menos um dos militares acusados de envolvimento na tentativa de quebra da ordem democrática: o general da reserva Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro.

Foto: Adriano Machado/Crusoé

Generais ouvidos reservadamente pelo blog apontam que Heleno é bem quisto na reserva, está com idade avançada (77 anos) e saúde debilitada – e também acreditam que ele desempenhou um papel menor nos fatos investigados pela Polícia Federal.

“O caso dele está baseado em evidências frágeis”, diz um militar de alta patente ouvido reservadamente pela equipe da coluna.

Outro interlocutor de Heleno concorda: “O papel dele nos eventos apurados no núcleo crucial foi mais do que ‘reduzido’, foi praticamente zero. Não esteve presente a nenhuma reunião em que se tratou da chamada minuta do golpe”.

Ao lado de Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto e do delator Mauro Cid, Heleno é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e deterioração de patrimônio tombado. Somados, os crimes podem totalizar uma pena de 43 anos.

‘Argumentos falaciosos’
Ao pedir a condenação de Heleno, Bolsonaro e cia., o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apontou o envolvimento do general numa transmissão ao vivo do então presidente nas redes sociais em 29 de julho de 2021, considerada o marco zero da trama golpista pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

A “live bomba”, como foi divulgada na época, reproduziu uma série de informações falsas a respeito do sistema eleitoral brasileiro e apontou, sem provas, que a vitória de Dilma Rousseff (PT) na eleição presidencial de 2014 havia sido fraudada.

“Comprovou-se, por meio de arquivos físicos e digitais apreendidos que o conteúdo da transmissão foi cuidadosamente arquitetado com o apoio de integrantes do núcleo duro do governo, notadamente Alexandre Ramagem, então diretor-geral da Abin, e o General Augusto Heleno”, diz Gonet, acusando-os de trabalharem na “elaboração dos argumentos falaciosos”.

Gonet também destacou que Heleno registrou em sua agenda, apreendida pelos investigadores, anotações sobre acionar a Advocacia-Geral da União (AGU) para embasar o descumprimento de ordens do Supremo.

Outro ponto lembrado por Gonet é a participação de Heleno na reunião ministerial de 5 de julho de 2022, marcada por ofensas, xingamentos e ataques de Bolsonaro. Naquela ocasião, Heleno indicou a atuação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no monitoramento das campanhas eleitorais, com a infiltração de agentes.

“Nós vamos montar um esquema pra acompanhar o que os dois lados estão fazendo. O problema todo disso é se vazar qualquer coisa em relação a isso. Se houver uma… Porque muita gente se conhece nesse meio. Se houver qualquer acusação de infiltração desse elemento da Abin em qualquer lugar”, afirmou.

Até aqui, a defesa de Heleno apresentou questões preliminares apontando a suspeição de Moraes, argumento que a denúncia detalha um suposto plano de homicídio contra o magistrado – e também contesta o fatiamento das denúncias em diversos núcleos, sob a alegação de que a ação penal é indivisível já que os fatos investigados estão interligados.

A Primeira Turma do STF já rechaçou esses argumentos no julgamento de recebimento da denúncia.
Malu Gaspar (O GLOBO) – Edição: Montedo.com

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