Cúpula Trump–Putin em Anchorage: diplomacia sob o espectro da dissuasão aérea

DefesaNet — 16 de agosto de 2025

A reunião entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, realizada em 15 de agosto na Joint Base Elmendorf-Richardson, em Anchorage (Alasca), consolidou-se como um evento de alto valor simbólico, ainda que sem resultados práticos imediatos.

O encontro encerrou-se sem acordo de cessar-fogo na Ucrânia, mas introduziu uma nova abordagem norte-americana: a busca direta por um tratado de paz abrangente.

Poder aéreo como ferramenta diplomática

O aspecto mais marcante da cúpula não foi a retórica, mas sim a demonstração de poder aéreo conduzida pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF).

Durante a chegada de Putin, a base foi sobrevoada por caças de última geração — incluindo F-35A Lightning II e F-22 Raptor, ambos integrados ao Comando do Pacífico.

O ponto alto foi a passagem de um bombardeiro furtivo B-2 Spirit, plataforma nuclear estratégica de longo alcance, cuja presença em Anchorage teve claro caráter de persuasão estratégica. A mensagem: qualquer negociação com Washington ocorre sob a sombra da capacidade de dissuasão nuclear norte-americana.

Tal movimento remete às práticas da Guerra Fria, quando encontros diplomáticos eram acompanhados de demonstrações de prontidão militar, destinadas a equilibrar a mesa de negociações.

Do cessar-fogo ao acordo de paz direto

Trump afirmou que a prioridade de Washington será avançar diretamente para um “acordo de paz completo”, sem as etapas intermediárias de cessar-fogo.

Essa posição coincide com a preferência russa, que rejeita congelar a atual linha de frente e busca legitimar ganhos territoriais.

Putin, por sua vez, reiterou que a guerra “nunca teria ocorrido se Trump estivesse no poder” e mostrou-se receptivo a novas rodadas de diálogo. Entretanto, nenhum compromisso formal sobre retirada de tropas ou revisão de fronteiras foi registrado.

O papel da Ucrânia e a pressão diplomática

A ausência do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, foi notada como elemento central do desenho estratégico de Trump. O líder norte-americano anunciou que receberá Zelenskyy em Washington nos próximos dias, reforçando que “cabe à Ucrânia fazer um acordo”.

Na prática, o movimento pressiona Kiev a aceitar negociações em condições desfavoráveis, colocando em xeque sua política de resistência militar apoiada pela OTAN.

Reações europeias e impacto geopolítico

Os principais líderes europeus emitiram comunicado conjunto defendendo que qualquer solução deve respeitar a integridade territorial da Ucrânia e garantir a participação direta de Kiev. Ainda assim, saudaram a retomada de canais de diálogo de alto nível.

Para analistas, a cúpula de Anchorage evidenciou dois elementos:

  1. Ganhos táticos para Putin, que retorna ao palco ocidental com status de negociador legítimo.
  2. Demonstração de força para Washington, que utilizou a exibição aérea para reafirmar sua supremacia tecnológica e capacidade de projeção nuclear.

A reunião em Anchorage não trouxe um cessar-fogo, mas estabeleceu um novo marco na diplomacia contemporânea: negociações conduzidas em paralelo com demonstrações explícitas de poder militar.

Seja como gesto de persuasão ou de advertência, a aparição do B-2 Spirit sobre o Alasca sinaliza que, em 2025, a política externa norte-americana volta a operar sob os princípios clássicos da dissuasão estratégica.

Líderes da UE dizem que Ucrânia deve decidir próprio destino

(DW) Líderes da União Europeia (EU) enfatizaram nesta terça-feira (12/08) que os ucranianos devem “decidir seu próprio destino”, três dias antes de uma reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e seu homólogo russo, Vladimir Putin, para discutir a guerra.

“Nós, líderes da União Europeia, aplaudimos os esforços do presidente Trump para encerrar a guerra de agressão da Rússia na Ucrânia e alcançar uma paz justa e duradoura para a Ucrânia”, escreveram.

Acrescentando que estão “prontos para apoiar diplomaticamente” o empenho do presidente americano e por meio de apoio militar e financeiro a Kiev, os líderes reiteraram a necessidade do fornecimento de “garantias de segurança robustas e confiáveis” para a Ucrânia e do próprio “apoio inabalável” europeu ao país.

Os líderes europeus insistiram que o caminho para a paz na Ucrânia “não pode ser decidido” sem participação de Kiev e afirmaram que negociações substantivas só podem ser realizadas “no contexto de um cessar-fogo ou de uma redução das hostilidades”.

A declaração defende que a atual linha de contato entre a Rússia e a Ucrânia só poderia ser um “ponto de partida para as negociações”.

O comunicado conjunto da UE foi divulgado dias após texto similar assinado por sete líderes de UE, juntamente com Reino Unido e publicado por Londres.

Hungria não apoiou declaração

A declaração, que foi acordada na noite de segunda-feira e publicada na terça-feira, foi endossada por líderes de todos os países-membros da UE, exceto a Hungria, que se recusou a apoiar o texto. 

O governo nacionalista de direita do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, se opõe à ajuda militar da UE à Ucrânia, que, segundo ele, está prolongando o conflito, e criticou as sanções à Rússia como ineficazes e prejudiciais à economia europeia.

Durante a presidência húngara da UE, no segundo semestre de 2024, Orbán irritou outros líderes ao visitar o presidente Vladimir Putin em Moscou e se apresentar como mediador.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e líderes europeus devem se reunir com Trump nesta quarta-feira por videoconferência, um compromisso agendado por iniciativa do chanceler federal alemão, Friedrich Merz.

Os europeus e a Ucrânia temem que Putin possa obter concessões favoráveis e definir os contornos de um acordo de paz sem eles.

“Conversas construtivas”

Nesta segunda-feira na Casa Branca, Trump não confirmou que vá participar da reunião virtual com os europeus e foi vago sobre suas expectativas para o encontro de sexta-feira com Putin no Alasca, dizendo espera “conversas construtivas” que quer ver o que o líder russo “tem em mente” para encerrar a guerra na Ucrânia.

O presidente dos EUA voltou a dizer que qualquer acordo de paz provavelmente envolveria “troca de territórios”, algo que foi descartado por Zelenski. A Rússia detém um controle instável sobre quatro regiões do país, duas no leste e duas no sul.

Trump criticou Zelenski, se dizendo um “pouco chateado” devido às últimas declarações dele sobre o encontro no Alasca e observando que o líder ucraniano esteve no poder durante toda a guerra e que “nada aconteceu” durante esse período.

md (AFP, AP, DPA)

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