Por que as Forças Armadas estão de olho na indústria de SC

 

Indústria catarinense forneceu mais de R$ 55 milhões em produtos ao Ministério da Defesa em 2024, consolidando o estado como terceiro maior polo do setor no país

Caroline Figueiredo
Para reduzir a dependência das importações, as Forças Armadas estão fortalecendo a parceria com a indústria catarinense, que forneceu mais de R$ 55 milhões em produtos ao Ministério da Defesa no ano passado. Santa Catarina tem 28 empresas certificadas pelo governo federal, o que consolida o estado como um dos principais polos do setor no país, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro.

O setor é considerado estratégico para a geração de empregos qualificados e para a promoção do avanço tecnológico. De acordo com o general de brigada Luís Cláudio Brion Cardoso, diretor de Material de Engenharia do Exército, a prioridade é desenvolver no país equipamentos de uso tanto militar quanto civil. Entre as prioridades de desenvolvimento estão:

  • drones com sensores
  • robôs para desativação de explosivos
  • lanchas com proteção balística
  • sistemas de purificação de água.

Cardoso destaca que a indústria catarinense tem força, principalmente, para o fornecimento de produtos nos setores metalmecânico, naval e aeroespacial, além de grande potencial para inovar em soluções como kits de defesa civil, pontes móveis, membranas para ultrafiltração de água, geradores e equipamentos de engenharia de campo. “Queremos dominar todo o ciclo produtivo — do projeto à sucata — garantindo independência tecnológica e escala para aplicações civis”, afirma o general.

A aproximação do Exército, da Marinha e da Aeronáutica é articulada pelo Conselho de Desenvolvimento da Indústria de Defesa (Condefesa), da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), que organiza encontros e rodadas de negócios entre empresas e comandos militares. Segundo a entidade, mais de 50 empresas catarinenses fornecem ou têm potencial para atender às demandas das Forças Armadas.

“Existe a necessidade do fornecimento de produtos de muitos segmentos, como alimentação, vestuário e descanso. Santa Catarina consegue atender várias dessas frentes graças à diversidade industrial no estado”, ressalta o presidente do Condefesa, César Augusto Olsen.

Negócios dos setores da indústria de SC com o Ministério da Defesa em 2024:

  • Produtos químicos e plásticos: R$ 17,3 milhões
  • Tecnologia da informação e comunicação: R$ 12,2 milhões
  • Têxtil e calçadista: R$ 11,9 milhões
  • Alimentos e bebidas: R$ 6,4 milhões

Outros segmentos — como metalurgia, saúde, gráfica e automotivo — completam o total de R$ 55 milhões em vendas.
Empresa catarinense terá 30% do faturamento fruto de negócios com as Forças Armadas
Uma das empresas catarinenses que fornece produtos às Forças Armadas é a SOL, sediada em Jaraguá do Sul — indústria especializada em soluções tecnológicas têxteis. A empresa trabalha em quatro segmentos: voo livre, voo motorizado, roupas técnicas e projetos técnicos têxteis para defesa e segurança.

Segundo Patrícia de Oliveira Souza, responsável pelas relações institucionais, a SOL está habilitada pelo Ministério da Defesa desde 2022 e passou a fazer parte do grupo de empresas estratégicas de Defesa no ano seguinte, com 22 produtos cadastrados para uso das Forças Armadas. “É necessário passar por uma avaliação que considera a complexidade das soluções, a conformidade dos produtos e a manutenção do quadro de acionistas majoritariamente brasileiros”, explica.

A empresa projeta que 30% do faturamento nos próximos 12 meses venha do fornecimento às Forças Armadas, com 30 dos 145 funcionários dedicados diretamente a esse segmento.

Santa Catarina se consolida como alternativa ao eixo Rio-São Paulo
O Exército tem alta demanda de materiais de engenharia e trabalha com a estratégia de fortalecimento de parcerias com a indústria nacional, o que tem incentivado a ampliação dos negócios em Santa Catarina, principal alternativa ao eixo Rio-São Paulo.

“Santa Catarina tem alguns diferenciais que colocam o estado em vantagem. O alto nível do IDH [Índice de Desenvolvimento Humano], que é um indutor natural, atua como base para desenvolver nossas demandas. Além disso, tem infraestrutura acima da média nacional e a existência de uma classe empresarial imbuída de contribuir com o desenvolvimento do país”, analisa o diretor de Material de Engenharia do Exército, general Luís Cláudio Brion Cardoso.

Entre as demandas da Defesa estão aparelhos de navegação GPS, materiais para desativação de explosivos, redes de camuflagem, geradores, máquinas de terraplenagem, embarcações, pontes e materiais de mergulho. “Nossa estratégia prioritária é buscar no mercado nacional materiais com alto valor agregado e elevado nível tecnológico, aproveitando o conhecimento de nossas universidades e despertando o interesse do setor empresarial brasileiro”, explica Cardoso.

Forças Armadas brasileiras buscam reduzir dependência de importações através do fortalecimento de parcerias com a indústria nacional, priorizando o desenvolvimento de tecnologias estratégicas e equipamentos de uso dual
Forças Armadas brasileiras buscam reduzir dependência de importações por meio do fortalecimento de parcerias com a indústria nacional. (Foto: Divulgação/Diretoria de Material de Engenharia do Ministério da Defesa )
Ele ressalta que o objetivo é substituir as importações para garantir independência tecnológica, dominando todo o ciclo produtivo dos materiais de engenharia com alto valor agregado. “Essa aproximação representa não apenas um avanço estratégico para a Defesa, mas também uma oportunidade econômica de grande escala para empresas que podem transformar inovação local em soberania nacional.”

Liderado por São Paulo, setor industrial movimenta mais de R$ 2,4 bilhões
Em 2024, o setor industrial de Defesa movimentou mais de R$ 2,4 bilhões, consolidando São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina como pilares no fornecimento de produtos nacionais. O estado de São Paulo domina o setor com 43% das 283 empresas credenciadas como estratégicas no setor de Defesa no país.

De acordo com o Portal da Transparência do governo federal, mais de 950 empresas paulistas firmaram contratos com o ministério em 2024, totalizando R$ 2,3 bilhões. As gigantes Embraer, Atech, HBR Aviação, Omnisys e IACIT concentraram 36% desse valor, quase R$ 880 milhões.

São Paulo abriga o maior polo aeroespacial da América Latina, em São José dos Campos, e foi responsável por 91% das exportações nacionais do segmento em 2024 — mais de US$ 3,98 bilhões. O Rio de Janeiro ocupa a segunda posição, representando 16% das empresas de Defesa do país.

Aproximadamente 12% dos 2.064 produtos estratégicos são produzidos por empresas fluminenses. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) desenvolve projetos com as Forças Armadas, como simuladores para o blindado Guarani e para os submarinos Classe Tupi, além de tecnologia de inspeção de motores de aeronaves com inteligência artificial.
GAZETA DO POVO

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