Aeronave militar dos EUA, Boeing C-32B, realiza operação discreta no Brasil

Por Ricardo Fan – Analista de Defesa
20 de Agosto de 2025

Em um movimento que desperta atenção no âmbito da defesa e das relações internacionais, uma aeronave Boeing 757-200, designada como C-32B pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), pousou no território brasileiro na tarde de 19 de agosto de 2025.

A matrícula 00-9001, operada pelo 150º Esquadrão de Operações Especiais baseado na Base Aérea de McGuire, em Nova Jersey, chamou a atenção por não apresentar identificação externa visível na fuselagem, o que reforça especulações sobre o caráter sigiloso da missão.

Apelidada de “Gatekeeper”, essa aeronave tem histórico de envolvimento em operações sensíveis, incluindo apoio a agências de inteligência como a CIA.

Trajetória e Detalhes da Operação

A aeronave decolou da Base Aérea de McGuire no dia 18 de agosto, realizando escalas em Tampa, na Flórida, e em San Juan, Porto Rico, antes de ingressar no espaço aéreo brasileiro. Dados obtidos via FlightRadar24 indicam que o voo não seguia uma rota detalhada publicamente, o que é compatível com missões de alto sigilo.

No Brasil, o primeiro pouso ocorreu no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, às 17h13 (horário local). Após uma breve permanência, a aeronave decolou por volta das 20h, rumando para o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, onde aterrissou às 21h48.

Essa ausência de marcações externas – comum em aeronaves usadas para transporte de diplomatas, forças especiais ou agentes de inteligência – alimentou debates sobre o propósito da visita. O C-32B é versátil, capaz de transportar até 45 passageiros em configurações VIP, e tem sido empregado em cenários de crise, como a evacuação de pessoal durante a explosão no porto de Beirute, em 2020.

Especulações e Contexto Geopolítico

Sem declarações oficiais do governo dos Estados Unidos ou das autoridades brasileiras, as hipóteses sobre a missão proliferam.

  • Apoio Diplomático e Consular: Porto Alegre e São Paulo abrigam representações consulares americanas. A aeronave poderia estar transportando funcionários ou equipamentos para fortalecer a presença dos EUA na região Sul, próxima às fronteiras com Argentina e Uruguai.
  • Atividades de Inteligência: O histórico de associação com a CIA aponta para possíveis transferências de agentes ou materiais sensíveis. Em um contexto de tensões regionais, incluindo movimentações militares americanas na América Latina – como operações contra o narcotráfico no México e na Venezuela –, a presença do “Gatekeeper” no Cone Sul levanta questionamentos sobre monitoramento de ameaças transnacionais.
  • Contexto Regional Amplo: A chegada ocorre em meio a um cenário de relações bilaterais Brasil-EUA marcadas por cooperações em defesa, mas também por divergências em temas como comércio e meio ambiente. Recentemente, exercícios conjuntos como o UNITAS e o PANAMAX destacam a importância estratégica da parceria, mas operações unilaterais como essa geram desconfianças.

A mídia local e internacional tem ecoado essas especulações, com relatos de observadores em aeroportos notando a discrição da tripulação e a ausência de cargas visíveis. No entanto, é importante ressaltar que tais missões são rotineiras em diplomacia militar e não necessariamente indicam escalada de tensões.

Histórico do Boeing 757 no Brasil e Implicações para a Defesa Nacional

O modelo Boeing 757 não é novidade no Brasil. Historicamente, foi operado por companhias aéreas como Varig (entre 2004 e 2006), Oceanair e Varig Log, em rotas domésticas e internacionais.

Mais recentemente, em maio de 2024, uma variante cargueira (757-200PCF, matrícula N783SP) da organização humanitária Samaritan’s Purse trouxe suprimentos para as enchentes no Rio Grande do Sul, pousando em São Paulo após escala na Guiana.

No entanto, o emprego militar dessa aeronave pelo 150º Esquadrão de Operações Especiais diferencia o caso atual. Para o Brasil, que mantém uma postura de soberania aérea rigorosa via Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) e o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), operações estrangeiras autorizadas mas opacas reforçam a necessidade de transparência em acordos bilaterais.

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