Escanteado: senadores ignoram aval de Alexandre de Moraes para visitar Braga Netto

Preso há nove meses no Rio, general foi visitado por apenas sete dos 25 parlamentares autorizados por Alexandre de Moraes

Rafael Moraes Moura e Malu Gaspar — Brasília e Rio
Enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro já recebeu mais de 60 pedidos de visita, o general Walter Braga Netto tem sido menos prestigiado pelos seus colegas de Brasília. Preso há quase nove meses, o general só recebeu até agora a visita de sete dos 25 parlamentares autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, segundo a equipe da coluna apurou com as Forças Armadas e integrantes do Congresso Nacional.

Procurados pelo blog para esclarecer por que não visitaram Braga Netto, mesmo com autorização de Moraes, os senadores alegaram conflitos de agenda, afirmaram que possuem outras prioridades e até admitiram que haviam se esquecido do aval do ministro para se encontrar com o general, detido desde dezembro do ano passado na 1ª Divisão do Exército, no bairro da Vila Militar, Zona Oeste do Rio.

“Nem eu me lembrava mais desse assunto, mas tenho interesse em visitá-lo. Braga Netto é um homem sério e injustiçado por narrativas”, disse ao blog o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), que recebeu autorização em abril, mas não a aproveitou.

O ex-ministro da Defesa e da Casa Civil de Bolsonaro e seu parceiro de chapa nas eleições de 2022 foi preso por decisão de Moraes, que considerou que o militar tentou interferir nas investigações ao supostamente tentar obter acesso à delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid.

Em abril deste ano, o ministro analisou um pedido do senador Izalci Lucas (PL-DF), solicitando permissão para que ele mesmo e outros 22 senadores visitassem o general. Moraes deu o sinal verde não só para o grupo de 23 parlamentares, mas também para o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ) e o deputado Junio Amaral (PL-MG), impondo algumas condições para as visitas.

Mas até agora, apenas Sóstenes, Amaral e cinco senadores – Damares Alves (Republicanos-DF) Eduardo Girão (Novo-CE), Carlos Portinho (PL-RJ), Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e Rogério Marinho (PL-RN) – compareceram à Vila Militar.

Nem mesmo Izalci, autor do pedido, foi visitar Braga Netto. “Eu fiz o requerimento com o pedido de vários senadores, mas infelizmente o ministro Alexandre de Moraes colocou tanta dificuldade, tanto impedimento, com relação a dia e horário, que acaba inviabilizando. O ideal pra mim seria fim de semana. Por isso que eu não fui até hoje. Alguns colegas meus foram, mas não fui exatamente por conta das dificuldades impostas pelo ministro”, justificou.

Moraes impôs um limite máximo de três visitas individuais por dia e proibiu a presença de assessores, seguranças e membros da imprensa. Também foi vetado o ingresso de celulares, equipamentos fotográficos e o registro de imagens no interior da unidade prisional.

A inércia chama atenção porque a ampla maioria dos parlamentares que ignorou a permissão de Moraes faz parte de um dos grupos mais críticos às decisões do ministro – e endossou seu mais recente pedido de impeachment, protocolado no Senado no início deste mês.

Trajeto
Um colega de Braga Netto ouvido reservadamente pelo blog acredita que a questão geográfica tem dificultado os deslocamentos – já que o general está detido longe de Brasília, e em um bairro da Zona Oeste localizado a 30 km de distância do centro do Rio. “Não basta chegar ao RJ, tem que ir até a Vila Militar. A maioria desconhece o trajeto e existe ainda a questão da segurança, pois o itinerário passa por áreas perigosas do RJ”, afirma.

Mas mesmo o senador Romário (PL-RJ), que tem residência no Rio, ainda não fez questão de se encontrar com o general. A assessoria do senador não havia respondido à reportagem até a publicação desta reportagem.

Já Sergio Moro (União Brasil-PR), Tereza Cristina (PP-MS) e Laercio Oliveira (PP-SE) alegaram questões de agenda.

Procurados pelo blog, os senadores Dr. Hiran (PP-RR), Styvenson Valentim (PSDB-RN) e Plínio Valério (PSDB-AM) foram além em suas justificativas – admitiram que o general não é prioridade em seus compromissos.

“Eu ainda sou um médico ativo, quando não estou em atividade parlamentar, tenho de correr pro Estado, operar, atender as pessoas. Infelizmente, não tenho tido tempo de sair desses meus compromissos. Essa é a grande razão”, afirmou Dr. Hiran, que atua como médico oftalmologista em Roraima há mais de 40 anos.

Já Styvenson afirmou que assinou o pedido de Izalci como gesto de solidariedade ao colega, mas descartou a possibilidade de visitar o general.

“Não está nos meus planos fazer visita ao general até mesmo porque tenho muito trabalho no meu estado como fiscalizar minhas emendas parlamentares para construção de hospitais, escolas, estradas, etc. Meu tempo reservo exclusivamente para atender às demandas do meu povo potiguar”, disse.

Plínio Valério, por sua vez, alegou que só assinou o requerimento de Izalci porque tem o costume de apoiar as causas que colegas consideram importantes.

Ao lado de Bolsonaro, Braga Netto é um dos oito integrantes do chamado “núcleo crucial” da trama golpista que será julgado pela Primeira Turma do STF a partir de 2 de setembro. Se for condenado, pode pegar uma pena de 43 anos de prisão. Não vai faltar tempo para visitá-lo.
O GLOBO – Edição: Montedo.com

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