Cúpula militar brasileira tenta identificar se a movimentação das tropas americanas no país vizinho representará algum tipo de reflexo no território nacional; distanciamento com americanos trará dificuldades, diz Comandante da Marinha
Jeniffer Gularte, Geralda Doca, com agências internacionais
Brasília – As Forças Armadas acompanham a aproximação de navios militares americanos da costa da Venezuela e monitoram se haverá impacto em um eventual aumento migratório por Roraima, estado brasileiro que faz divisa com o território venezuelano. Em meio ao deslocamento da frota naval americana equipada com o sistema de combate Aegis com mísseis guiados, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou a mobilização de 4,5 milhões de paramilitares em todo o território nacional para reagir ao que chamou de “ameaças” dos EUA.
A fronteira entre o Brasil e a Venezuela é de 2.199 quilômetros, dos quais 90 quilômetros por terra e 2.109 quilômetros que percorrem as bacias hidrográficas do Amazonas, no Brasil, e do Orinoco, na Venezuela, segundo informações oficiais do governo brasileiro. A cúpula militar brasileira tenta identificar se a movimentação das tropas americanas representará algum tipo de reflexo no território nacional e se haverá, por exemplo, necessidade de reforço de tropas na região. O tema, porém, é tratado com cautela.
A porta-voz do governo dos EUA, Karoline Leavitt, afirmou que o presidente Donald Trump vai usar “toda a força” contra o narcotráfico quando questionada sobre a movimentação da frota naval perto da costa venezuelana e a possibilidade de uma invasão por terra.
— O regime de Maduro não é o governo legítimo da Venezuela, é um cartel narcoterrorista — disse Leavitt. — O presidente Trump tem sido muito claro e consistente: ele está preparado para usar todo elemento da força americana para parar a entrada de drogas no nosso país e levar os responsáveis à Justiça.
Enquanto tenta compreender os impactos da investida dos EUA sobre a costa da Venezuela, Forças Armadas nacionais não devem fazer qualquer manifestação a respeito, mesma postura adotada pelo governo brasileiro.
Almirante Olsen: ‘eventual distanciamento’ entre Brasil e EUA ‘traz dificuldades’
O comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, disse que a Força monitora a situação, mas não há um planejamento no momento para o reforço de tropas. Segundo ele, o atual momento das relações entre Brasil e Estados Unidos, estremecidas após o tarifaço do governo de Donald Trump e sanções a autoridades, pode trazer “dificuldades, o que não é desejável”.
— As relações da Marinha do Brasil com as Forças Armadas dos EUA decorre de um alinhamento estratégico há séculos. Naturalmente, um eventual distanciamento diplomático entre o Brasil e os EUA acarretaria dificuldades e impactos sensíveis para os interesses e o adequado cumprimento das atribuições das Forças, de parte a parte, em diversos campos de atuação, o que não é desejável — afirmou Olsen ao GLOBO.
Forças Armadas mantém distância
Oficiais do Exército também disseram que não trabalham com reforço de contingente e armamento na região de fronteira com a Venezuela. Não há nada previsto neste sentido, disse um militar de alta patente da Força.
Apesar da preocupação do governo do presidente Lula em relação ao acirramento da crise dos EUA com a Venezuela, as Forças Armadas do Brasil querem manter distância do embate. A orientação é a mesma em relação à disputa política e comercial de Trump com o Brasil, como o tarifaço sobre os produtos nacionais e o enquadramento do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF), na Lei Magnitsky.
Segundo um militar de alta patente, a orientação do Ministério da Defesa é que em caso de acirramento da crise, as autoridades busquem um entendimento no campo diplomático.
O Brasil mantém relações concretas com os Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial, destacou um oficial do Exército. E a palavra de ordem é manter esses canais abertos no campo militar. As comissões de compra de equipamentos das Forças são sediadas em Washington e todas têm militares em missão nos Estados Unidos. Só no caso do Exército, são 120 homens.
Atenção ao julgamento da trama golpista
Militares afirmam que as Forças precisam se concentrar no papel institucional e nesse momento, as atenções estão mais para o julgamento dos envolvidos na trama golpista pelo STF. Serão julgados o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus, inclusive militares, em plenário presencial. A análise está marcada para começar no dia 2 de setembro, pela Primeira Turma da Corte.
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